Ouvinte profissional

Por Marcos Araújo

Ao ler uma entrevista com o filósofo Byung-Chul Han, deparei-me com uma consideração dele a respeito da arte da escuta. Segundo o sul-coreano, “hoje ouvimos cada vez menos”. Em seu livro “A expulsão do Outro”, Han diz que, no futuro, talvez haja uma profissão chamada ouvinte. Para ele, esse profissional seria alguém que presta a atenção no outro mediante pagamento. O ouvinte seria aquela pessoa a quem pudéssemos recorrer quando ninguém estivesse disposto a nos escutar, a escutar o outro.

Assim como hoje procuramos um médico para algum tipo de mal que atormenta nossa saúde, a ida ao ouvinte seria algo corriqueiro a fim de que pudéssemos falar e sermos ouvidos. Ao término da leitura dessa entrevista, fiquei pensando de onde vem essa nossa falha de não saber escutar. Por que somos cada vez menos receptivos aos outros? Atualmente, muito se pode falar. Há diversos canais para isso. As redes sociais, por exemplo, abrem espaço para opiniões, sugestões, críticas. Apesar do muito que se fala, pouco se ouve. Apenas ter ouvidos não é suficiente para ouvir o que o outro diz. Escutar é uma arte, porque não é todo mundo que sabe ouvir de verdade.

Para que a escuta seja efetivada, é necessário processar o que se ouve, dar um significado e fazer um esforço para tentar compreender. O ponto alto de uma escuta seria: depois de escutar, o ouvinte se coloca no lugar do outro e só então também fala. Mas, infelizmente, estamos em uma onda crescente de perda de empatia e sem a qual não há diálogo. O que existe é um falatório. Todos estão falando, mas ninguém está disposto a conversar, porque não tem ninguém ouvindo.

Não dar ouvidos ao outro também é uma forma de destruição. É uma maneira simbólica de aniquilamento. Segundo o dicionário, aniquilação é estado ou condição de fraqueza ou desalento moral ou físico, que leva ao abatimento, à prostração, ao perecimento. No âmbito pessoal, se prestarmos atenção ao nosso entorno, com certeza, vamos perceber que muito do que falamos não está sendo ouvido, e isso nos torna ressentidos. Mas será que há empenho da nossa parte para também ouvir o que vem do outro? Sem essa reflexão, jamais estaremos abertos para a troca que deve ser o ato da escuta.

Não aguentamos ouvir o que o outro fala sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que temos a dizer. Como se aquilo que a pessoa diz não merecesse consideração e precisasse ser complementado por aquilo que temos a dizer. Ou pior, às vezes, o que o outro fala é totalmente ignorado. Já repararam que existem muitos cursos de oratória? Aprender a falar é uma necessidade, principalmente, no mercado profissional. Isso é quase uma imposição! No entanto, aprender a escutar também é preciso. E onde estão os cursos que vão nos ensinar a escutar?

Ouvir é uma arte porque nos permite conhecer outras realidades, nos dá a chance de sentir emoções ainda não experimentadas. É uma forma de conhecer melhor as pessoas e melhor acolhê-las. O acolhimento não deixa que o outro seja apenas um inventário de falas, um objeto fadado a ser descartável.

Marcos Araújo

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