Aqueles dias!

Por Marcos Araújo

Há dias em que a gente amanhece daquele jeito, e o melhor era nem sair da cama, principalmente se está fazendo um frio de lascar. Parece que não era para ser. Um dia para pular no calendário e esquecer. É algo que já aconteceu com todo mundo. Você custa para deixar a cama, mas se esforça e, quando gira a torneira para tomar banho, a água do chuveiro não esquenta direito. Você diminui a pressão da água, que fica quase em gotas, só para ficar mais quente e encarar o banho até o final.

Próxima etapa. Passa a mão pelo toalheiro e se dá conta de que esqueceu a toalha em cima da cama. Novamente, o mesmo pensamento invade sua mente: “Por que fui acordar hoje?” Morrendo de frio, você abre a porta do box e percebe que seus pelos estão erguidos pela ação de pequeninos músculos existentes na pele. Sim, esse é o processo de ficar arrepiado. Você sai, pé ante pé, pingando no chão, para buscar a toalha esquecida. Fica um rastro de pegadas molhadas do banheiro até o quarto. Era só o que faltava. E vamos buscar o pano para secar.

Depois do chão seco, hora de se vestir. Abre o armário e percebe que aquela camisa que você idealizou para aquele dia não estava no cabide e ainda precisava ser passada. “Será o Benedito?”, questiona-se, e pragueja o relógio que obrigou você a sair da cama. Volta ao banheiro, pega a pasta de dente e percebe que o tubo está no fim. Mas, como é da nossa índole de brasileiros nunca desistir, você espreme e ainda sai alguma coisa. Mentalmente, você diz: “Basta ter paciência, que tudo vai melhorar.”

Hora do café. Passa a manteiga no pão e, numa distraída, você o deixa cair. Como não era para ser diferente, o lado que fica virado para o chão é justamente o lado da manteiga. Você respira profundamente, conta até cinco e diz para si mesmo: “Vai passar”.

Pronto para trabalhar, enfim! Mais um dia de home office. Você liga o computador, e o sinal de internet conecta e desconecta. “Realmente, não era o dia”, você pensa. Checar as primeiras mensagens para iniciar o trabalho se transforma em uma queda de braço com o sinal indo e vindo.

O jeito é esperar. Então, você olha para a varanda e vê que já existe um fininho raio de sol que começa a mandar o frio embora. É sinal de que as coisas vão melhorar. Você dá uma volta pela casa, toma mais uma xícara de café, só que desta vez evita o pão e a manteiga para não despertar o azar. Aí você pensa que, pelo menos, não vai precisar encarar o trânsito para chegar ao trabalho. Ou seja, há coisas boas acontecendo também, e começa a ficar otimista. Volta ao computador, e o trabalho flui, assim como a internet, que deixa de ficar intermitente.

Bom, há dias que são assim. A gente levanta com o pé esquerdo, e tudo parece que está fora da ordem. “Quem nunca?” Nestes dias pandêmicos, então, qualquer detalhe que quebra a rotina faz você perder a cabeça. Você sente um peso dentro do peito, e esse peso parece que vai te esmagar. Mas basta você ter a ciência de que, depois de um dia, vem outro.

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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