Os filhos de Prometeu

Por Marcos Araújo

O Grupo Divulgação é gigante pela história que possui, pelo trabalho que faz há 53 anos e por sua teimosia em desafiar as adversidades, mantendo-se vivo com dignidade. Por essa razão, quem é juiz-forano não consegue pensar na trupe de Zé Luiz e Marcinha senão de forma grande. Todavia, o público que vai ao Forum da Cultura para assistir à nova peça “Filhos de Prometeu” encontrará o Divulgação diferente: pequenino. Parece que foi compactado para caber numa caixinha de música. E que bom seria se pudesse ser colocado no bolso para ser levado para casa!

Essa mudança tem a ver com a ameaça de queda de um muro, que levou a interdição parcial do casarão centenário que abriga a companhia. A fim de não correr riscos, o grupo deixou o teatro com capacidade de 200 lugares, para se apresentar na sala de ensaio, no andar térreo do Forum, onde é possível reservar somente 40 lugares na plateia. A alternativa foi a solução para a montagem do espetáculo. E bota espetáculo nisso! Mesmo ocupando um espaço reduzido, a peça se faz grande e com a força de um gigante grita para a sociedade que não é hora de se acovardar diante da opressão que ora se impõe contra os artistas, a cultura e a educação. E por que não dizer contra o povo, pois, como bem alerta o poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca, patrono do Grupo Divulgação, a cultura de um povo é medida pelo seu teatro.

Na montagem, que tive o prazer de assistir na sexta-feira passada, atores e atrizes empunham a palavra transformada em arma, única capaz de vencer a ignorância que avança nestes dias nefastos. A peça recupera o mito de Prometeu, um titã, que, impulsionado pela paixão, rouba o fogo dos deuses para ofertá-lo à humanidade. Ao mexer com a ira de Zeus, que passa a temer o poder dos homens diante dos deuses, Prometeu é punido. Ele é amarrado, por toda a eternidade, a uma rocha com uma águia comendo seu fígado, que sempre se regenera no dia seguinte.

A insubordinação de Prometeu diante dos deuses e sua resistência às pressões sofridas após sua punição fizeram-me refletir sobre este Brasil contemporâneo em que o tempo não nos permite nos deixar abater, nem perder o ânimo e a esperança de que tudo se move, e a mudança chegará! Também é impossível não pensar no próprio Grupo Divulgação, como um guardião da cultura, que, ao longo de tantos anos, resiste, bravamente, à leviandade com que a arte tem sido tratada por nossos mandatários.

Além da falta de estabilidade para levar suas vidas, hoje, artistas, professores e educadores são tratados como inimigos dentro de uma polarização social transpassada pelo ódio, e o Divulgação, que também é uma escola, serve de exemplo de resistência.

A quem ler esse texto recomendo a peça “Os Filhos de Prometeu”, que fica em cartaz no Forum da Cultura, até o dia 28 de junho. As apresentações são realizadas de terça a sábado, às 20h. Em função do número limitado de espectadores, uma lista é organizada para cada apresentação. As reservas para o público, antecipadas, podem ser feitas pelo telefone 3215-3850. Evoé!

Marcos Araújo

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