Páscoa, quarentena e serenidade

Por Marcos Araújo

Lembro-me de que quando era criança achava que a Páscoa era o melhor dia do ano. Claro que havia o Natal, a gente ganhava brinquedo de presente, se reunia com toda a família na casa de minha avó materna e vinha familiares de longe para esse encontro, o que era motivo de muita felicidade. Mas a Páscoa tinha algo de especial. Era uma data mais voltada para minha relação com meus pais e minha irmã. Nos dias que antecediam o domingo pascoal, minha mãe fazia questão de montar cestas para que eu e minha irmã pudéssemos guardar os chocolates.

Dormir no sábado de aleluia, era quase impossível, tamanha a ansiedade, que se transformava em alegria na manhã de Páscoa, quando tínhamos que procurar nossos ovos em diversos cantos da casa. Era uma época feliz, de convívio familiar intenso, de acreditar que tudo era possível, porque tínhamos a vida inteira para concretizar nossos sonhos. Minha mãe se esforçava para nos fazer acreditar que o mundo que cabia nos limites de nossa casa, era o melhor dos mundos, e nada nem ninguém poderiam atrapalhar aquela sensação de proteção e de felicidade.

De lá para cá, muito tempo se passou, e eis que estamos às voltas com uma Páscoa talvez nunca imaginada pela minha geração. Haverá menos chocolates, nem estarei no domingo com meus pais, pois estamos de quarentena, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), para evitar a disseminação do coronavírus.

Será um momento de parada e reflexão sobre este tempo em que vivemos, considerando coisas que possam ser revistas nas nossas vidas. Lembro ainda que estamos na quaresma, algo que se aproxima muito dessa quarentena. Às vezes, quando não queremos parar por amor, paramos na dor. Já sabemos que essa pandemia provocada pela Covid-19, a despeito de todas as mazelas que representa para a saúde pública e para a economia global, pode significar uma nova maneira de enxergarmos o mundo e nossa forma de estar no planeta.

Apesar de todas as advertências, há pessoas que ainda não se deram conta do que está acontecendo. Em muitas ruas, de muitas cidades, inclusive de Juiz de Fora, ainda têm gente circulando, duvidando do que pregam as autoridades de saúde, colocando a própria vida em risco e a de outros. Há os que alegam o caos econômico, a quebradeira em geral, e não estou dizendo aqui que não é preciso olhar para a questão financeira. Ela é importante e é fundamental que o governo tome as medidas necessárias, para que todos sejam capazes de se reerguer após o fim desse flagelo.

Enquanto a pandemia não passa, temos que tentar viver esses dias de forma responsável e serena. Aproveitar a Páscoa, que se dará de modo diferente este ano, para que possamos descobrir algo de melhor em nós mesmos e nos outros. Até porque a quaresma, este período que nos prepara para a Páscoa, já é um tempo de passagem.

Como já disse aqui neste espaço, desde que teve início a crise provocada pelo coronavírus, é preciso sobriedade e inteligência para que, no futuro, quando olharmos para esse passado, possamos entender que, apesar dos pesares, aprendemos algo de positivo sobre nossa relação com os outros. Uma esperança é que possamos, assim como eu era em criança, voltar a acreditar que os sonhos são possíveis e, além, crer que nossa humanidade tem salvação.

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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