Sem conflito armado já perdemos mais de 250 mil brasileiros

Por Marcos Araújo

Não existem números definitivos a respeito de quantas pessoas morreram por causa dos ataques nucleares no Japão, em 1945, seja pela explosão imediata ou, nos meses que se sucederam ao bombardeio, devido a ferimentos e efeitos da radiação. Há cálculos que estimam que, até dezembro daquele ano, cerca de 110 mil japoneses perderam suas vidas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Todavia, outros estudos apontam que o total de vítimas pode ter ultrapassado 210 mil pessoas.

A morte de milhares selou o fim da Segunda Guerra Mundial, com a rendição do Japão para os Estados Unidos. A devastação causada por Little Boy e Fat Man, como eram chamadas as duas bombas, é objeto, até hoje, de um intenso debate sobre a necessidade de um ataque dessa magnitude sobre a população civil. Desde então, nenhum outro país teve a ousadia de usar outra bomba atômica em um conflito armado.

A Segunda Guerra Mundial e a destruição das duas cidades japonesas são uma mancha na história da humanidade no século XX e nunca devem ser esquecidas para que jamais voltem a acontecer. Lembrei de Hiroshima e Nagasaki quando me dei conta de que no Brasil, sem conflito armado, mais de 250 mil pessoas já morreram em decorrência da Covid-19. Não estamos em guerra, não estamos sendo atacados, mas, mesmo assim, há cerca de um ano, milhares de brasileiros vêm perdendo suas vidas.

Se o uso das armas nucleares para uma matança em massa é algo de que a humanidade se envergonha, no Brasil, de 2021, as mortes provocadas pelo coronavírus foram naturalizadas. Já não são capazes de mudar o rumo de um tipo de política que parece nos levar para a morte. Enquanto cada brasileiro morto é apenas mais um número nas estatísticas e não um ente familiar, existe uma parcela grande da população que insiste no negacionismo. Pensando no próprio umbigo, essa gente não cancela viagens, debocha de quem usa máscara, aglomera-se depois de campeonato de futebol e torce o nariz para quem diz que espera pela vacina.

No Japão da bomba atômica, a saúde mental dos hibakusha, os sobreviventes do ataque nuclear, foi gravemente afetada pela experiência de um ato tão atroz, pela perda de entes queridos e pelo medo de desenvolver doenças causadas pela radiação. No Brasil da pandemia, parece não haver consequências, nem remorsos. Muitos poderiam estar vivos se não tivesse existido essa política pertinaz em sua propagação do negacionismo e do boicote à vacina. Impossível não pensar na tragédia de pais que sepultaram seus filhos, na pena de filhos que perderam seus pais, nos netos que nasceram sem avós e nas crianças que vão crescer sem pai nem mãe.

Nada mais desumano do que o desdém pela vida. Melhor sempre apostar na vida do que na guerra, na solidariedade do que no ódio. Os números da Covid-19 voltaram a subir, cidades do interior enfrentam o caos da falta de vagas para internação e ainda não há vacina para todos. Tudo isso é penoso demais! Vivemos um momento de crise e todos necessitamos de doses de confiança. Já não é possível lidar com tantos óbitos e sofrimento. É preciso fazer alguma coisa urgente, para que haja a derrota dessa política de morte e tenhamos algum tipo de paz, se for possível, para lidar com essa chaga sobre o Brasil!

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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