O silĂȘncio dos bons pode custar muito caro!

Por Marcos AraĂșjo

Do lado de dentro do balcĂŁo, o atendente falou em voz alta, chamando a atenção da mulher que trabalhava no caixa: – Em quem vocĂȘ nĂŁo votaria de maneira alguma para prefeito? perguntou. Enquanto eu conferia o valor da compra no visor da mĂĄquina de cartĂŁo e me preparava para digitar a senha, a mulher respondeu: – Eu preferia nĂŁo ter que votar. Estou totalmente desinteressada em polĂ­tica.

Saí da farmåcia pensando sobre essa animosidade que, às vezes, bate sobre todos nós, quando lembramos do cenårio político brasileiro. Tal sentimento, para muitos, redunda no voto nulo ou em branco, que ganha um sentido de voto contra a política. De maneira alguma significa um voto contra a democracia ou contra o que prega a Constituição, mas uma forma de descontentamento com o modus operandi dos políticos eleitos democraticamente.

A falta de interesse demonstrada pela caixa da farmåcia em não conceder seu voto e confiança para nenhum candidato pareceu-me que vai bem por essa questão. Eu confesso que, sim, hå ocasiÔes em que cumprir o dever de votar, ou melhor, de manifestar o meu direito de escolha, é difícil diante das opçÔes que se colocam à nossa disposição.

Todavia, nĂŁo podemos esmorecer. É preciso levantar a cabeça, respirar fundo e firmar o pensamento, tendo em mente que o envolvimento polĂ­tico pode ser uma via que nos leva Ă  sobrevivĂȘncia e Ă  preservação das mĂ­nimas condiçÔes de uma sociedade livre. Que pode ser a manutenção e o resgate de valores importantes que nĂŁo queremos que sejam esquecidos, posto que muitos deles jĂĄ foram varridos, e tambĂ©m pode significar a salvaguarda do que ainda nos resta de espaço e voz no que diz respeito aos rumos de nosso paĂ­s.

Desde o Ășltimo domingo, as campanhas, com propagandas eleitorais nos veĂ­culos de comunicação e mĂ­dias sociais, assim como nas ruas, com a distribuição de materiais grĂĄficos, carros de som e comĂ­cios, começaram, oficialmente, a valer. No feed do meu Facebook e do meu Instagram, povoam santinhos digitais de postulantes Ă  CĂąmara de Vereadores.

OpçÔes não faltam, apenas é preciso saber escolher bem. E lembrar, sempre, que a história, que sempre se repete, nos mostra que a omissão lajeia uma estrada feita de absurdos. Ficar em cima do muro, mantendo uma posição inabalåvel de não estou nem aí, é também uma forma de contribuir para que entremos em caminhos sem volta, com destino à barbårie.

As Ășltimas eleiçÔes foram marcadas pela polarização acirrada, o que muito fez mal ao debate. Assentados sobre posiçÔes ideolĂłgicas, deixamos de ouvir, de trocar ideias, e o outro quase que virou inimigo, esvaziando o diĂĄlogo. Claro que isso nĂŁo faz bem ao processo eleitoral, nem para a democracia. É necessĂĄrio ficar alerta, pois, quando anestesiados pela falta de dialogar, ficamos mais predispostos a nos tornarmos massa fĂĄcil de ser conduzida e controlada.

É por isso, caros amigos, e aqui torço para que essas palavras cheguem atĂ© a desconfiada caixa da farmĂĄcia, se faz necessĂĄrio participar, estar vigilante, apurar nosso senso crĂ­tico e combater a omissĂŁo, porque se engana quem pensa que se omitir Ă© ficar de fora. O silĂȘncio dos bons pode custar muito caro!

Marcos AraĂșjo

Marcos AraĂșjo

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