Espirituoso, o pai de um amigo me apelidou de “intran” na infância. “Intran”: forma carinhosa de me chamar de intransigente. Do contra que sempre fui, torci o nariz para “Seu Léo”. Não podia aceitar facilmente alcunha tão acertada. Passaram-se quase três décadas e mantenho a característica de – quase sempre – questionar a opinião comum. Não chega a ser discordância por si só, mas, sim, uma mania de mostrar que toda moeda tem dois lados.
O espaço de discussão onde sou mais “intran” é o futebol. Enquanto a maioria critica os padrões modernos, em que prevalece a tática em detrimento da técnica, consigo enxergar beleza no “jogo” atual. Vejo magia em um desenho de linhas de marcações que postam-se sólidas, ora em paralelo, ora em outras formas geométricas de ângulo reto. Acho genial quando quadrados táticos transformam-se em formações mais agudas – como triângulos e losangos – para dar velocidade na transição entre defesa e ataque para ferir de morte a meta adversária em contragolpes bem trabalhados.
No entanto, o problema de discussões do tipo é que vivemos um momento de extremos. Se digo que gosto do preto, o imaginário coletivo pensa que desgosto do branco. Debater com base em tal dualidade, como acontece em nossos embates políticos, que é, de fato, uma intransigência. Então, que fique claro: por admirar o jogo tático, não preciso necessariamente desgostar do futebol técnico.
Acho sensacionais as jogadas plásticas, apesar de detestar firulas. Sem esquecer do xadrez que se tornou o futebol atual, ainda há espaço para a criatividade, como, de forma até surpreendente, mostrou o atacante Berrío no segundo embate entre Flamengo e Botafogo pelas semifinais da Copa do Brasil.