Vá sorrindo, Toledinho
Minha primeira experiência nas arquibancadas de futebol foi com sete ou oito anos, na segunda metade da década de 1980. Cresci em Santa Terezinha e me recordo de ir com alguns amigos ao Salles Oliveira, escondido de meus pais. Na fila da bilheteria, pedia a um “tio” qualquer para dizer que era meu parente e, assim, poder adentrar o estádio para assistir às partidas do Galo Carijó. Tirava até onda de parente do Salles de Oliveira, aproveitando a coincidência do sobrenome. Enfim, para mim, desde a infância, o Tupi sempre foi gigante.
Foi no solo sagrado de Santa Terezinha, entre desconhecidos íntimos, que conheci a história do clube. Em especial, a mais fantástica e assustadora, a do “Fantasma do Mineirão”, que aterrorizou o trio de ferro na década de 1960 e, como um ferrolho, segurou a Seleção Brasileira de Pelé e companhia durante a preparação a Copa do Mundo de 1966.
“Ô tio, posso entrar com o senhor?” O ritual se repetia jogo a jogo. Das arquibancadas, escutava as histórias do rio mais belo que corria pela minha terra, o Tejo Carijó. Lembro-me de um dia em que alguém apontou um senhor no meio dos torcedores: “Ô, menino! ‘Tá vendo aquele ali? Aquele ali, ó! É o Toledinho, do Fantasma do Mineirão.”
São Tomé que sempre fui, não acreditei de imediato. Preferi ficar torcendo e xingando. Ao final da partida, no entanto, acompanhado de outros garotos, fui tirar a prova dos nove e, como não podia ser diferente, fomos recebidos com um largo sorriso pela maior lenda da história do Tupi.
Vinte e poucos anos depois, já como jornalista, a história se repetiu todas as vezes em que tive a oportunidade de entrevistar Moacyr Toledo. A despeito de todo o profissionalismo, estes sempre foram o encontro de um torcedor mirim e o maior ídolo da história do futebol da cidade.
Dois mil e dezenove não está sendo um ano bom para o Tupi. Maior que a dor do rebaixamento e do fiasco na Série D é o pesar pela partida de uma parte da história do clube. Vá sorrindo, Toledinho, assustar a quem se opor ao Carijó do lado de lá. Por aqui, em sua homenagem, só posso desejar uma coisa: que o Tupi renasça em honra a sua memória.