AtĂ© quando a negligĂȘncia?
Diante de seis mil pessoas, bicampeonato brasileiro da FerroviĂĄria, sobre o Corinthians, nas penalidades mĂĄximas, neste domingo (29), em pleno Parque SĂŁo Jorge, seria, naturalmente, o evento mais expressivo do futebol feminino no fim de semana Ășltimo. Entretanto, a 3ÂȘ rodada do Campeonato Carioca, Ă s sombras do nacional, fora como um lembrete azedo. No sĂĄbado (28), o Flamengo – Marinha, na verdade – derrotou o Greminho por atordoantes 56 a 0. Embora semifinalista do Campeonato Brasileiro e principal agremiação fluminense, a Marinha estĂĄ longe de ser o suprassumo da modalidade. Verdade seja dita, a goleada Ă© um eufemismo do Carioca.
SĂŁo 29 associaçÔes divididas em seis chaves na competição. Como parĂąmetro, em 2017, eram apenas sete; em 2018, 11. O aumento repentino deve-se Ă opção da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) em organizar um campeonato sem critĂ©rio algum. Desde clubes profissionais a times de ligas regionais amadoras participam. TĂŁo Ăłbvio quanto cruel, o desequilĂbrio Ă© exposto sumariamente nos marcadores: na 2ÂȘ rodada, o Vasco derrotou o Bela Vista por 19 a 0; o Fluminense, por sua vez, ganhou de 23 a 0 do Rogi Mirim. AlĂ©m de minar a competitividade do certame, a Ferj interrompe o desenvolvimento da modalidade, desestimula o interesse de jogadoras e despreza patrocinadores.
Na passada A Palo Seco, em Ăramos Sete, discutimos a imposição do custeio de taxas de arbitragem e de quadros mĂłveis da Federação Mineira de Futebol (FMF) Ă s agremiaçÔes participantes do estadual. A profissionalização da modalidade nĂŁo pode ser mera exigĂȘncia; deve ser planejada e implementada. A maioria dos clubes Ă© amadora, deveras, pois a modalidade carece de fomento. Entretanto, apenas separar o joio do trigo Ă© insuficiente. O mĂnimo a ser feito pelas federaçÔes Ă© dar subsĂdios Ă profissionalização das agremiaçÔes.
As conquistas do futebol feminino brasileiro tĂȘm sido alcançadas na marra; por insistĂȘncia, sobretudo. Tanto as federaçÔes quanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sĂŁo morosos. Reagem apenas quando estĂŁo com as calças nas mĂŁos diante da opiniĂŁo pĂșblica. E as concessĂ”es sĂŁo oferecidas com relutĂąncia. O inchaço do Carioca Ă© uma contrapartida aos votos para a reeleição Ă presidĂȘncia, diga-se; o Mineiro Ă© organizado, mas as taxas de arbitragem fogem Ă conta; e a demissĂŁo de VadĂŁo Ă© acatada, mas a permanĂȘncia de Marco AurĂ©lio Cunha, inegociĂĄvel. AtĂ© quando a indolĂȘncia?