FOCO DE CRISES
O Governo federal tem se revelado um indutor de primeira linha de crises contra si próprio, não precisando da ação da oposição para complicar as coisas. Aliás, fosse essa mais eficiente e menos ensimesmada, a situação seria até mais grave para o Planalto. As mais recentes crises foram geradas pela desarticulação política oficial, que começou na crença de que a base aliada iria simplesmente cumprir ordens e manter os vetos na chamada pauta-bomba. Um dia após um novo loteamento do primeiro escalão, os deputados simplesmente ignoraram o plenário e não deram quórum.
A segunda questão foi a insistência em judicializar a votação do Tribunal de Contas da União que analisaria as contas do Governo. Depois de usar de todos os meios para remover o relator, ministro Augusto Nardes, e posteriormente recorrer ao Supremo Tribunal Federal para protelar a votação, a Advocacia-Geral da União passou pelo vexame de ser derrotada em todas as frentes. Nardes continuou, a sessão aconteceu, e o Governo perdeu por oito a zero, algo inédito no Tribunal, que só tinha tomado decisão semelhante em 1937, na era Vargas.
Em ambos os casos, a bola fora foi a precipitação. Os vetos, quando não votados, se confirmam. No caso, a decisão da presidente Dilma Rousseff de não aceitar reajustes acima de patamares razoáveis estaria definida. A insistência em levar a questão para o plenário deu no que deu. Vale o mesmo para o TCU. A decisão é apenas uma recomendação ao Congresso de que há vícios nas contas, mas a palavra final é dos parlamentares. Só que a situação, agora, corre o risco de mudar, pois, sob pressão das ruas, agora municiadas pelo parecer do Tribunal, muitos políticos tendem a se voltar para a arquibancada.