O Reino Animal de Grant Morrison

Por JÚLIO BLACK

Oi, gente.

Grant Morrison é daqueles escritores de quadrinhos que você fica com Comichão e Coçadinha toda vez que vê o seu nome envolvido em algum novo projeto ou estampado numa publicação. E foi assim quando me deparei, meses atrás, com o seu livro “Superdeuses”, um apanhado de opiniões pertinentes sobre diversos personagens, a indústria dos quadrinhos e o que o levou a desenvolver algumas das melhores séries/histórias da Nona Arte. A lista é longa: “Asilo Arkham”, “Batman e Robin”, “Como matar o seu namorado”, “Os Invisíveis”, “Corporação Batman”, “Flex Mentallo”, “Novos X-Men”, “Superman”, “Crise final”, “We3”, “Authority”, “The Filth”, “Liga da Justiça”, “Sete Soldados da Vitória”, “Happy”, “Grandes astros: Superman”… Dessa lista tive a oportunidade de conferir quase todos os títulos, mas a leitura de “Superdeuses” me deixou com vontade de ler três sagas em particular que passaram batidas à época (anos 90): “Patrulha do Destino”, “Liga da Justiça” e “Homem-Animal”.

Resolvi começar justamente por este último, primeiro trabalho regular do escocês pela DC, lá em 1988 (no Brasil, foi publicado no início da década de 90 na extinta “DC 2000”), que recupera o Homem-Animal do quase-limbo em que ainda seguia após sobreviver à “Crise nas Infinitas Terras”. Morrison pegou Buddy Baker, alter ego do herói (um personagem secundário surgido nos anos 60), e deu uma nova dimensão a ele dentro da DC, e é por isso que a série é lembrada até hoje, apesar de sua curta duração (26 edições).

Em sua nova encarnação, o Homem-Animal vive na Califórnia com a esposa e os filhos quando decide voltar à ativa, adotando o vegetarianismo e dedicado a proteger os animais. Morrison coloca o herói para enfrentar empresários inescrupulosos, caçadores de baleias e laboratórios farmacêuticos que fazem horripilantes testes com animais, muitas vezes aliando-se a ecoterroristas. Aos poucos, o escritor colocava peças que não pareciam fazer sentido (um outro Homem-Animal que mais parecia um fantasma, por exemplo) até chegar ao arco final, em que personagens desaparecidos com a “Crise” retornam da morte, questionam sua existência e descobrem ser fruto da imaginação de alguém, enquanto o herói se encontra com ninguém menos que o próprio Grant Morrison, após ter sua família assassinada e partir em busca de vingança. O autor revela que foi ele quem decidiu matar os entes queridos do herói, mas como se vingar de alguém que é o senhor do seu destino?

“Homem-Animal” foi um dos maiores sucessos de crítica do escocês por trabalhar justamente com essa questão da metalinguagem. Antes mesmo de seu encerramento, Buddy Baker já havia quebrado a quarta parede em um dos primeiros episódios da série, ao se virar para o leitor e dizer o famoso “eu posso ver você!”. Histórias como “O Evangelho do Coiote”, “O mito da criação”, “Crise”, “Enigmas do macaco” e “Deus Ex Machina” mostram que Karen Berger, uma das editoras da DC na época, estava mais que certa em promover uma nova “invasão britânica” nos Estados Unidos, desta vez no papel. Enquanto a tão prometida republicação pela Panini não acontece, podemos acompanhar atualmente outra pérola metalinguística do genial escocês, “Multiverso DC”, que merecia ser publicada com papel de melhor qualidade.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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