A minha árvore
Dizem que todo homem deveria plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Eu tive um filho e depois escrevi um livro, e outro, porém, árvore, nunca plantei, nem mesmo uma florzinha no jardim da minha casa, embora ame o colorido da natureza. Mas eu tenho a minha árvore, uma que escolhi no meio da rua, no trajeto diário para o trabalho. A minha eleita é uma paineira, que tem flores grandes, com pétalas rosadas, pintas vermelhas e bordas brancas. Quando maduros, os frutos da minha paineira-fêmea liberam sementes envolvidas em paina, uma fibra natural semelhante ao algodão. Pelo vidro do carro e mesmo na correria da rotina, sempre dou um jeito de observá-la por alguns segundos. E se o sinal fecha, aí o deleite é garantido.
– Mamãe, a “sua” árvore está pelada – gritou Diego, esses dias, aos perceber os galhos nus.
De fato, a “minha” paineira iniciava seu período de renovação. Testemunhar esse novo ciclo me fez pensar sobre a velocidade dos acontecimentos e em outras formas de vida, como a humana. Assim como as paineiras, nós temos fases de brotamento, floração, frutificação e queda. Experimentamos dores, cativamos amores e desenvolvemos várias formas de nos construir no mundo. Nesse vaivém do tempo em seu constante recomeço, sempre me pergunto se, a cada nova experiência, aprendi o suficiente para mudar. Embora, às vezes, os frutos que colhemos tenham sabor amargo, eles sinalizam para a necessidade de uma nova plantação. Mesmo que traga rugas e cicatrizes, o tempo é poderoso ao oferecer conhecimento intransferível, aquele que só se adquire ao caminhar mais. Desperdiçá-lo pode significar indiferença e, inevitavelmente, desilusão.
Em um período de tanto ódio nas relações sociais e de descrença na nossa própria espécie, sigo na contramão. Acredito na capacidade que só o homem tem de ser solidário e no poder transformador do bem comum. Tenho fé na melhoria do cenário social. Voltando ao ditado popular, discordo da afirmação de que todo homem deveria plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Apesar de a frase ser carregada de profundidade e sentido ao sugerir evolução, acho que devemos acrescentar mais verbos a ela, principalmente os que sugiram ações coletivas. São coisas que a gente só aprende se olhar para fora de nós, a fim de enxergar o outro em um exercício permanente de compartilhamento e doação. Assim, quando as nossas folhas caírem, teremos feito bem mais do que adornar o nosso jardim.