BONS COMPANHEIROS
Os jornais de ontem estamparam uma foto emblemática: o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa abraçados, após prestarem depoimento na CPI da Petrobras.Como bons companheiros, reafirmaram – quando abriram a boca – as denúncias efetivas, mas o doleiro acrescentou que um novo delator, sem citar nomes, iria inserir o ex-ministro Antônio Palocci na lista dos que pediram doações para a campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2014. O tema voltou ontem ao Senado, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em sabatina, explicou ao senador Álvaro Dias, que não tinha qualquer informação nesse sentido, uma vez que um delator não tem acesso ao depoimento do outro, mas considerou que, em conversa de companheiros de cela, pode ter havido essa troca de informação.
A resposta foi pertinente, mas o depoimento na CPI aponta que ainda há um longo caminho a ser trilhado, já que os escândalos se sucedem. O país vive uma sangria sem fim, resultado de uma série de ações ilícitas praticadas por agentes de Estado e por setores interessados em seus serviços. A mistura de público e privado apontou para uma série de distorções que ora vêm à tona graças às investigações do Ministério Público e da Polícia Federal. Nesse aspecto, louve-se a posição da presidente da República. Em entrevista a uma rede de rádios, disse que não haverá recuos nas investigações, mesmo que elas impliquem o envolvimento da própria máquina administrativa.
O dado perverso é a combinação da crise econômica com a crise política, o que cria um preocupante caldo de cultura, fruto de ações pouco republicanas de alguns segmentos. O país, com as ações do MP e da Polícia Federal, está se passando a limpo, exigindo da instância legislativa ações semelhantes, no sentido de criar leis que fechem as torneiras da corrupção ou, pelo menos, medidas capazes de punir com severidade os seus autores.