Da delicadeza de nossos passos


Por ANDRÉ DE ASSIS MOREIRA, ADVOGADO ESPECIALISTA EM DIREITO PÚBLICO

16/08/2015 às 07h00- Atualizada 18/08/2015 às 08h47

Vivemos escravos da delicadeza dos passos que temos que dar para conseguirmos um mínimo de sociabilidade nas relações do dia a dia. É isso mesmo, estamos pisando em ovos. Se assumimos uma posição relativa a determinado assunto, corremos o risco de sermos bombardeados por aqueles que pensam de modo diferente. Esse é o motivo de a maioria da população se posicionar sem ter o mínimo de embasamento para tal e, quando munida de argumentos, se fecha em suas convicções sem abrir possibilidade de analisar o contraditório posto.

Sobre essa crise no diálogo, pontuou com sua sobriedade peculiar o Papa Francisco no momento da mediação em torno da aproximação de Fidel Castro e Barack Obama: “Dialogar significa renunciar não a nossas ideias mas à pretensão de que são elas as únicas válidas”. Assim, quando uma criança é levada a torcer pelo time de coração de seu pai, ela forma um sentimento, uma paixão, e a consequência disso é só a escolha da agremiação que ela vai honrar sua torcida e defendê-la, ainda que sem argumentos plausíveis. Porém, esse raciocínio não se faz quando nos posicionamos politicamente, quando nos colocamos em questões que modificam a vida das pessoas.

A discussão sobre a abordagem da diversidade de gênero nas escolas, travada de um lado pela comunidade LGBT e de outro por aqueles que pensam em uma família nos moldes tradicionais de relacionamento homem-mulher, é um exemplo de que, por maiores que sejam os argumentos contrários à posição inicialmente assumida por esse ou aquele grupo, os envolvidos dificilmente renunciarão às suas ideias. No máximo, argumentos favoráveis a cada um dos lados podem vir a convencer aquele que ainda não tinha opinião formada a respeito do assunto. Mudar a opinião do outro, nunca.

E assim se dá com ideologia política, religião e certas posições em que a mudança de ideia é como se o outro passasse para o “lado negro da força” e, portanto, começa a ser taxado de “sem personalidade”.

Essa intolerância, muitas vezes, gera violência, desprezo, escárnio, potencializados em tempos de redes sociais. Assim, expressar nossos sentimentos, nossas vontades pode ser como municiar a arma que está apontada para nosso próprio peito, e um passo em falso pode causar a revolta, tirando a delicadeza de nossos passos e nos tornando elefantes pisando em ovos.

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