As denúncias envolvendo mais um ministro do Tribunal de Contas da União – Vital do Rêgo, ex-senador pelo PMDB, é acusado de receber dinheiro impróprio em campanha – soam estranhas no momento em que a Corte se prepara para julgar as contas da presidente Dilma Rousseff. Se for para desqualificar os ministros, o sentido é duplo. Em o Governo perdendo a causa, será dito que não há moral para punir ninguém numa instância em que seus próprios membros estão sob suspeita. Se este vencer, será dito que a pressão surtiu efeito, pois há sempre a possibilidade de outros também estarem sob investigação.
O que está claro no momento é o ciclo de denuncismo que se espalhou pelo país afora, numa tentativa de se colocar tudo às claras. A ideia é boa, mas nem sempre os interesses caminham pela mesma trilha. Num modelo de informação em tempo real e de redes sociais para todos os gostos, colocar em xeque pessoas ou instituições sem as devidas provas é, na verdade, um desserviço. Desconstruir biografias tornou-se uma rotina, e recuperá-las é praticamente impossível. A própria mídia deveria tomar esse cuidado, pois há muita informação forjada no interesse, que acaba ganhando ares de verdade e sendo compartilhada sem o menor zelo de confirmação.
Nesse cenário de incerteza, ficam todos nus, pois o jogo de interesse envolve todos os lados, dando margem ao uso abusivo de investigações, muitas delas distantes do viés republicano. O país se passa a limpo por meio de instituições sólidas, Justiça ágil e, sobretudo, punição justa para quem, de fato, as mereça.