A tortura ainda é liberada neste país?
Imagine a cena: o cidadão sentado em uma cadeira, ambiente escuro, apenas uma luz em cima do rapaz. Em volta dele, alguns homens com cara de poucos amigos, fazendo perguntas aos gritos. Para completar, a cada resposta negativa, sessões de esmagamento dos testículos, enforcamentos com cordas, pancadas com objetos perfurantes na barriga e lanças fincadas nas costas. Parece cena de um filme ou algum documentário retratando períodos da ditadura militar no Brasil? Pois bem, não é.
Hoje em dia, caros amigos, ainda que se espante com isso, este tipo de coisa acontece praticamente em todos os fins de semana. E, por incrível que pareça, as pessoas gostam e pagam caro para assistir a estas sessões de tortura. Os torturados estão lá, quietos em seus cantos, esperando a evoluída raça humana ditar os rumos de suas sofridas vidas. E, a cada anúncio dos autofalantes, lá estão eles, sendo submetidos as mais variadas formas de tortura, de crueldade, tudo em prol de alguns segundos de “diversão” para a plateia, milhares de reais para quem tortura e milhões para quem organiza todo este circo.
É de se indignar, não é mesmo? Como pode, em pleno século XXI, acontecer este tipo de atrocidade? Como autoridades podem permitir que tais práticas sejam mantidas aos olhos de todos, como se normal fossem? Pois é, permitem e ainda apoiam, com incentivos fiscais, disponibilizando locais, incentivando com recursos públicos. Para piorar um pouco, diversos artistas de renome nacional e internacional vão a estes locais apresentarem seus shows.
Pois bem, a realidade é esta. O último caso de tortura alvo de matérias na imprensa é o de um peão que, em uma prova conhecida como bulldog, lesionou um bezerro a ponto de deixá-lo tetraplégico, tendo que ser sacrificado logo após a prova. Essa prova consiste no peão pular de um cavalo e, ainda em movimento, pegar o bezerro que foge desesperado, torcer seu pescoço até que este, para não ser ainda mais machucado, pule e se vire de costas para o chão. Outra prova com bezerros é a do laço, na qual o bezerro foge do peão montado em seu cavalo, até ser atingido por um laço no pescoço. Com o bezerro correndo, é possível imaginar o resultado disso: diversos casos de enforcamento do animal, além de lesões na coluna provocadas pela freada repentina.
Na Espanha, país de primeiro mundo, evoluído, símbolo da supremacia da Europa, as touradas acontecem com frequência. Do mesmo modo que ocorre por aqui, lá os touros estão sujeitos a diversas formas de crueldade. Os animais são atingidos por estacas, lanças, espadas e adagas. Ao final, após o animal sangrar e sofrer muito, o toureiro finaliza a crueldade com uma espada, dando o golpe final e ceifando a vida do touro. Tudo isso aplaudido por milhares de espectadores.
Que tipo de espetáculo é esse em que as pessoas vão para se divertirem com o sofrimento dos animais? Até quando vamos tolerar que se maltratem seres vivos para que empresários e peões profissionais enriqueçam? Quando os artistas vão se tocar de que, ao se apresentarem nestes eventos, estão dando sinal positivo para tudo que ocorre lá? Por que nosso dinheiro é investido pelo Poder Público nestes eventos?
Somos pequenos frente à máquina que controla tudo isso. Mas podemos, ao menos, fazer nossa parte. Boicote rodeios, caro amigo. Ainda que seu artista favorito vá tocar lá, não compre ingresso para vê-lo. As redes sociais estão aí, demonstre sua insatisfação com este tipo de coisa. Por mais que ache pouco, se cada um fizer sua parte, pode ser que alguma mudança aconteça. E, se não acontecer do modo que desejamos, ao menos durmo tranquilo, sabendo que não contribuí para que esta barbárie continue acontecendo.