CAUSA E EFEITO
A solidez das instituições – o que é bom – pode estar mascarando um momento crítico na história nacional. Governo e oposição se digladiam em nome de projetos de poder e criam um clima de incerteza nas instâncias política e econômica. O recente embate é resultado de uma entrevista da presidente Dilma Rousseff ao jornal “Folha de S. Paulo”, na qual ela diz que não vai cair, que é moleza se sustentar no cargo. No mesmo dia, a oposição, especialmente o PSDB, disse que ela acusou o golpe, levando a crise, de novo, para dentro do Palácio do Planalto. O Governo viu no discurso um indício de reação.
Nesse jogo de rato e gato, no qual os dois lados cantam vitória, é fundamental manter o bom senso, pois qualquer resultado fora da legalidade joga no buraco todo um projeto de mudança, conquistado em anos de luta e que só veio com a democratização. Há os que apontem para a queda de Collor, que em momento algum afetou o cenário democrático, mas são situações distintas. O ex-presidente, e agora senador, era um homem só, isolado na sua arrogância e sem sustentação partidária. A presidente, embora escorregue de vez em quando na arrogância, dele difere em tudo o mais.
Discutir o país e punir os responsáveis por mazelas é um fato fundamental para a democracia, mas – sem abrir mão de qualquer investigação – é necessário avaliar as consequências de algumas atitudes mais voltadas para o palanque do que para o futuro. Há uma crise aguda na economia que exige esforços conjuntos, o que implica a movimentação de todos os lados.