Salve, Halfeld!


Por CRISTIANO FERNANDES, PRESIDENTE DA APAC/JF E DIRETOR DA CIA. TEATRAL FAZENDO ARTE

23/06/2015 às 04h00

Dizem que seu território começa na Olegário Maciel e termina na Av. Sete de Setembro, passando pela Francisco Bernardino, Praça da Estação, Avenida Getúlio Vargas, Batista de Oliveira, Rio Branco e, por fim, pela Santo Antônio. Dizem…

Dizem ainda que é capaz de somar lojas, pessoas, galerias (meu Deus, quantas!), agências bancárias, lojas de celular, lanchonetes, prédios comerciais e residenciais, sorveterias, carrocinhas, barraquinhas de doces e salgados: cuscuz churros, amendoim, pipoca, cachorro quente, hambúrguer e muitas, muitas mesinhas e cadeiras convidando a quem passa a se sentar e a se sentir na Halfeld.

Palco de variadas tendências e manifestações, na Halfeld cabe tudo. Cabem a alegria de uma performance artística e um tenso movimento político. Cabem abaixo-assinados, rodas de conversa, passeios despretensiosos, compromissos profissionais, correria, tumulto, pressa, fotos, encontros desejados e desencontros inesperados; cabem sorrisos, emoções, ansiedades, angústias, medos, coragens, ousadias… A vida pulsa na Halfeld.

Tal qual um palco aberto para grandes espetáculos da vida cotidiana, as pessoas conhecem as normas de ocupação… São contrarregras de si mesmas, obedecendo criteriosamente à ordem do dia: pela manhã, com a cidade acordando, é hora do comércio e de poucas carrocinhas. Pelo meio-dia, soa a sirene convidando àqueles que ainda não passaram por ela a ir logo, pois o dia promete acabar logo e é inconcebível não passar pela Halfeld ao menos. A tarde corre vagueira, e por lá correm ainda mais “pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração”, diria Drummond.

Mas não se acanhem. A maior ocupação ainda está por vir: fim da tarde, avança sobre ela o comércio livre e aí, sim, encontramos de tudo… Meias, sapatos, bonés, chapéus, chocolates, passos mais lentos e sorrisos mais largos… Afinal, a Halfeld agora é do povo, e não dos chefes, dos horários e dos compromissos profissionais.

Não se pode, evidentemente, deixar de falar das estátuas vivas, das panfletagens, do Cine-Theatro Central, do quase extinto Cine Palace, dos homens-placa, da irritada mulher que vende buchinha para prender cabelo, da irreverência da saudosa d. Maria do Calçadão, como era conhecida, que cantava e fazia tricô na porta de estabelecimentos comerciais, ou do também saudoso violeiro Antônio Felício Macário, personagem visto frequentemente tocando viola. Enfim, de cada emoção vivida na Halfeld. Lembranças que o tempo leva, mas que o vento insiste em trazer de volta, surpreendentemente, a cada vez que por lá passamos.

Pela Halfeld, enfim, passeiam muitas vidas e muitos sonhos. É uma grande intervenção artística do homem por ele mesmo!

Mas não é de admirar… Lá do alto dela, o Cristo, de braços abertos, observa e abençoa os juiz-foranos que por ela passam.

Salve, Halfeld!

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