Desafios para implementação do centro democrático

Políticos criticam a polarização, mas não apontam saídas práticas para o que chamam centro democrático, com menor grau de tensão


Por Paulo Cesar Magella

14/05/2025 às 16h49

Na semana passada, o deputado Aécio Neves revelou que no prazo de 30 dias o PSDB e o Podemos iriam consolidar a fusão das duas legendas com a perspectiva de ter novos parceiros em uma federação já para as eleições do ano que vem. Não deu detalhes de nome e de quais seriam esses parceiros, acentuando apenas tratar-se de uma legenda nos moldes de centro democrático, capaz de abrir caminhos em meio à polarização que se estabeleceu no país a partir de 2016.

  Ex-governador de Minas por dois mandatos consecutivos, Aécio não escondeu o desapontamento com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que transferiu sua filiação para o PSD certo de que terá estrutura para disputar a sucessão presidencial no ano que vem. Sem dizer nomes, Aécio ressaltou que há outras opções no universo pessedista, o que remete de pronto ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, cotado em todas as bolsas de apostas como o nome da vez se o ex-presidente Jair Bolsonaro não vencer os impedimentos legais que o tiram do palanque.

  Em suma, Aécio e outros atores tucanos tentam recuperar a vocação social-democrata do partido, que ocupou a Presidência da República em duas ocasiões com o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. A partir daí, o partido até conquistou governos estaduais, mas ficou fora da Presidência, tendo sido o próprio Aécio o político que esteve mais próximo do cargo ao perder nas últimas urnas para a petista Dilma Rousseff.

  O caminho do meio, após a queda de Dilma Rousseff, tornou-se uma demanda de pouco espaço. Tanto à esquerda quanto à direita a discussão ganhou ares de polarização sob a inspiração dos americanos do norte com a primeira eleição de Donald Trump. O deputado Jair Bolsonaro ganhou as eleições de 2018 e fez uma dura disputa com Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Perdeu, mas seu legado está nas ruas e se tornando o principal antagonista do petismo. Os tucanos saíram de cena.

  O desafio do centro é imensurável, mas não irreversível, desde que seus atores adotem posturas mais pragmáticas, afastando-se do saudosismo dos tempos PT/PSDB e compreendendo que o jogo é outro. 

  Uma das questões é ganhar a confiança do eleitor. Os tucanos flertaram com a direita e perderam a identidade. O eleitor tem sérias restrições aos partidos e, por conta disso, aceita discursos que colocam a própria política em xeque. Nos extremos, as instituições ficam em segundo plano, como é possível acompanhar no mais recente enfrentamento entre a Câmara dos Deputados e o Supremo Tribunal Federal. Os deputados e os senadores têm uma agenda apartada de princípios estabelecidos pela própria legislação em nome do corporativismo. Falam uma coisa, e o STF, outra. Os partidos do centro democrático estão em silêncio.

    A polarização não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Pelo mundo afora, a extrema direita, especialmente, tem ganhado força, sobretudo por ter se mostrado mais competente no trânsito digital. Os demais agem apenas por reação, o que os coloca sempre um passo atrás. 

  O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, aposta no caminho do meio, e até mesmo o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, admite que a polarização virou um problema, com críticas diretas à extrema direita e à extrema esquerda, afirmando que essa dinâmica tem sido prejudicial ao país. “O nosso país é um país com tanto potencial, com tantas dificuldades, em que os homens do nosso país perdem mais tempo com esse tipo de disputa, isso dos dois lados, que com os problemas da população, com a situação do país”, declarou à CNN.

O país tem que olhar para frente, o que implica pensar mais no país do que nos enfrentamentos que se tornaram comuns na rotina política.

 

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