Em busca de engajamento no mundo digital
Governo e oposição levam seu enfrentamento para o mundo digital, incentivando ações de marketing até mesmo em detrimento dos reais problemas do país
Na solenidade de posse dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o tema recorrente foi a democracia e, por consequência, o combate à polarização, que tem permeado o debate nos últimos seis anos. Quando escolheram dois políticos de centro, os parlamentares deram mostras de buscar uma agenda mais assertiva, distante dos embates que, até agora, não levaram a lugar algum.
No entanto, já na solenidade de posse, alguns políticos, a maioria deles ministros licenciados para votar, apareceram com bonés azuis, indicando que o Brasil é dos brasileiros. Já na segunda-feira, políticos de oposição ressuscitaram as cores verde e amarela para também apresentar seus pontos de vista, utilizando a frase “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026”. Ao fim e ao cabo, deram ênfase às suas diferenças em vez de atuar nos temas em que convergem.
Até o presidente Lula, possivelmente orientado pela nova Comunicação do Planalto, entrou no jogo e se apresentou ao público, na terça-feira, com um chapéu, para buscar engajamento no mundo digital.
A questão é saber qual é o sentido desse jogo de bonés, baseado numa iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com sua defesa de uma América pujante outra vez. Em vez de inovação, adotam um raso mimetismo, que mostra a dependência ao marketing americano para movimentar a política nativa.
Com tantas demandas a serem discutidas, especialmente na economia, os atores políticos continuam se abastecendo de uma polarização que só a eles interessa. O ajuste fiscal continua sem uma finalização, e a reforma tributária ainda está na sua fase inicial de implementação.
Em suma, o recado que os políticos passam para a população é que seu propósito primário são as eleições de 2026, embora os eleitos do ano passado para prefeituras e câmaras municipais só estejam no segundo mês do atual mandato.
O enfrentamento de posicionamentos faz parte da democracia, pois é do resultado do confronto de ideias que se chega a soluções, mas o que se vê, já nesse início da legislatura, é um afastamento das principais demandas do país. Cria-se um cenário artificial quando os problemas são reais.
O palco não é mais o plenário. É nas redes sociais nas quais ocorre o enfrentamento, o que faz do marketing a principal ferramenta tanto do Governo quanto da oposição. A queda do então ministro Paulo Pimenta se deu neste contexto: o entendimento de que o Planalto, mesmo com seus feitos, estava perdendo a briga no mundo digital. O novo ministro, que é marqueteiro por profissão, já fez as primeiras mudanças. Daqui por diante, o tema central é o tomou, levou, isto é, a cada ação do Governo, haverá uma resposta da oposição; a cada ação desta, será o Governo a dar o troco. Enquanto isso, os temas centrais correm o risco de ficar em segundo plano.