Em casa com mais de 100 anos, Linhas de Minas faz exposição e desfile de bordado
Peças bordadas por mulheres de São José dos Lopes são vestidas por pessoas da região e ficam em exposição e venda neste sábado (23)
O projeto Linhas de Minas começou há sete anos, quando um grupo de mulheres se juntou para fazer artesanato em São José dos Lopes. Elas se reuniam no distrito de Lima Duarte, a cerca de 80 km de Juiz de Fora, para trocar e aprender uma com a outra. O que começou com o bordado e com a trançaria, no entanto, foi se expandindo. Atualmente, o projeto está sediado em uma casa com mais de 100 anos, onde também funciona um café-restaurante que vende produtos da região na área da gastronomia e arte e ainda oferece atividades culturais para a população. Para celebrar esse trabalho, o Linhas de Minas Café e Artesanato faz um desfile de moda, em que todos os manequins são pessoas da comunidade e desfilam com roupas bordadas a mão pelas artesãs que trabalham no projeto. As peças ficam em exposição e venda neste sábado (23), a partir das 10h, e o desfile ocorre às 18h.
O projeto teve início com uma ideia de Letícia Nogueira, que morava em Juiz de Fora e queria desenvolver uma atividade de artesanato nessa outra região. Junto com Ana Alice Oliveira, ela propôs a ideia para a Casa do Sol e passou a ir ao distrito uma vez por semana para esses momentos. Ela foi percebendo que tinha uma demanda por um ponto de encontro entre mulheres e que boa parte da população feminina do local que, de acordo com dados do IBGE, tem pouco mais de 600 habitantes, queria encontrar fontes de renda. “O bordado é uma tradição mineira e aqui na vila não é diferente. Então, pensei em começar com esse artesanato, como uma forma de unir as mulheres. A gente encontrava, conversava e bordava”, relembra, sobre esse início. No momento, o projeto conta com 25 participantes, que são remuneradas de acordo com suas produções.
Logo, o Linhas de Minas também foi virando algo maior e mais importante até mesmo pra ela. “O projeto me tomou e hoje eu moro na vila mesmo, estou totalmente por conta desse trabalho, que virou um projeto de vida”, conta. Atualmente, divide a coordenação com Alice Valda de Jesus, moradora de São José dos Lopes, e com a parceria de Celine Billard, e as formas de artesanato (e também os temas) foram se alterando. Além do bordado, uma das linhas mais fortes que contam no projeto é a da cestaria, feita com fibras naturais da serra. Participam mulheres de 13 a 80 anos, cada uma com seu olhar.
Em meados de 2024, o projeto se expandiu ainda mais e passou a ocupar a casa em que é localizado atualmente (na Praça Santo Antônio, 250, onde também será o desfile). Com isso, também foram inovando pensando em reunir outros artesãos da região em uma cooperativa, e montar um cardápio para receber as pessoas – sempre com esse olhar do que é tipicamente mineiro. Entre as opções estão, por exemplo, pastel de taioba com queijo, broa com goiabada e o tradicional pão de queijo. O espaço também sempre traz oficinas artísticas, como aulas de teatro, para agitar a programação. “São muitas coisas juntas: um artesanato muito legal, uma atividade cultural pelo menos uma vez por mês e comida gostosa. É um bom pacote, né?”, diz Letícia.
Mulheres (nada) comuns
A ideia do desfile veio justamente para mostrar para todos a quantidade de produções originais dos artesãos. O desfile vai apresentar uma coleção de roupas bordadas, inclusive com camisas masculinas, além de lenços em seda com desenhos exclusivos, roupas em crochê, cangas, bolsas e vestidos em algodão coloridos, bijuterias únicas em alumínio e produções em papietagem e papel machê. A ação consolida essa variedade de talentos que ela foi percebendo (e que também foram surgindo com o projeto) durante todos esses anos. “Quando cheguei aqui e comecei esse trabalho, percebi que os talentos estão em todos os lugares. Muitas vezes só falta mesmo oportunidade para as pessoas se revelarem. Assim como aconteceu com o Linhas de Minas, vejo acontecendo com outros artesãos da região”, afirma.
Para as mulheres que participam, ela também percebeu uma transformação prática em suas vidas. “A maioria das mulheres não trabalha fora, então não tinha renda e era muito dependente de seus maridos. Isso está fazendo uma diferença muito grande, não só na autoestima, mas em poder comprar suas coisas sem precisar depender da anuência de seus parceiros”, conta, explicando que algumas dessas mulheres já ganham um salário mínimo com a renda do artesanato. Por isso, também quis que fossem “mulheres comuns” desfilando e contando essas histórias. “Todas as pessoas que vão desfilar são daqui. São pessoas comuns, como eu, como nós. São belezas originais e diferentes umas das outras”, diz.
Delicadeza das Linhas de Minas
Para Letícia, que já trabalhava com artesanato em Juiz de Fora, a vontade era reproduzir as belezas rurais para que os moradores também percebessem a delicadeza em seu entorno. “Às vezes, as pessoas que são daqui não se dão conta da riqueza que tem aqui”, reflete. Por isso, o artesanato também traz comumente reflexo do que vivem e tem a carinha de São José dos Lopes. A mudança veio para todos: “Queria que elas descobrissem um novo olhar. E hoje me falam que, antes,viam um passarinho ou uma flor e não davam muita importância. Mas hoje é diferente, porque vira arte”.
Tópicos: artesanato / são josé dos lopes