Negro Bússola entende Juiz de Fora como ‘provinciana, ostentadora, tradicionalista e muito preconceituosa’
Vereador eleito também revela planos de usar traje inusitado na posse e mantém segredo sobre primeiros projetos e voto na Mesa Diretora
A Rádio Transamérica entrevistou, nesta quarta-feira (30), Negro Bússola (PV), na série com os vereadores eleitos em Juiz de Fora. Ele vai para o primeiro mandato, após receber 6.451 votos.
Transamérica: Durante a campanha, você apoiou a candidatura de Júlio Delgado (MDB) à Prefeitura, mesmo sendo da Federação do PT, de Margarida. Como vai ser a sua relação com o governo?
Negro Bússola: É uma pergunta bem bacana, sugestiva, uma pergunta até para deixar bem transparente. Eu encontrava com o Júlio na feira e eu não tenho inimizade com ninguém. Encontrei com o Júlio, encontrei com a Ione (Avante), encontrei com o Charlles (PL), eu não sou uma propriedade de uma sigla, eu sou um cara que tem uma identidade no meu nome de batismo Jefferson da Silva Januário e exerço o meu direito garantido pela Constituição que é de ir e vir. E, com isso, eu apoiei quem me apoiou, eu valorizo quem me valorizou e quem não tem gratidão não tem caráter. O PT, por uma oportunidade, me tirou porque eu não era considerado uma sardinha, eu era considerado um tubarão e foi provado nas duas últimas eleições. E o único cara que teve o culhão de chegar na minha e falar “chegou a sua vez de ter oportunidade” foi o Júlio Delgado. (…) Quanto à questão minha e à gestão agora, a Margarida, prefeita, e eu, vereador, é livrar de dever porque pagar é certo. Eu vou fazer minha função, a função do vereador é fiscalizar e criar projeto de lei. Ela vai ser Executivo e eu vou legislar. Se houver brecha, houver erro, eu vou apontar e eu vou reivindicar. E eu tenho a função, por mim, de ser o melhor vereador, o implacável. Pode passar todos lá em cima, mas tem que saber que tem um zagueiro aqui atrás, que vai defender o gol. E essa é minha proposta, é voltar para a periferia de cabeça erguida, não é um cara que joga pela proposição, o que for melhor para Juiz de Fora, eu estou dentro. Agora, o que escapar das quatro linhas, eu vou ser o primeiro a denunciar.
Transamérica: Então você não se classifica nem de oposição nem de situação?
Negro Bússola: Eu sou vereador independente. Eu não sou de esquerda, não sou de direita e nem sou de centro. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter essa velha opinião formada sobre tudo, é a minha posição.
Transamérica: No dia da posse você tem a pretensão de usar um traje especial, fugindo do terno e gravata?
Negro Bússola: É um desejo pessoal, mas se for infligir as leis, as normas do TRE, do TSE, eu acato, tranquilo. O mais difícil é o que nós conseguimos, é o mandato. Não importa o ninho quando o ovo é de águia, não é a veste que vai fazer a diferença, é o que está dentro da mente. Então esse propósito eu posso fazer dia 20 de novembro, explicar, levar para todo mundo o conhecimento do simbolismo do pano de saco e a liberdade que a gente tem. A proposta é essa dentro do meu coração, entrar, assumir, ir de Black Power, saber que é um manifesto do cabelo black e ter uma representatividade, assim também como a trança nagô também tem, que era o mapa de rota de fuga que os escravos desenhavam na cabeça. Eu tenho que trazer a originalidade de um povo que é 52,3% da população e não se vê onde formula a lei, mas só onde ela é executada. Então essa possibilidade de dialogar e ter uma representatividade ali que representa por dentro e por fora, isso é uma importância, é o surgimento do Bússola, por não se ver tão próximo e de uma forma tangível alguém que milita de uma forma assim. Mas eu tenho que saber que com a votação que eu tive e o papel que eu ocupo hoje, eu sou vereador do homossexual, da lésbica, do ateu, do à toa, do evangélico, católico, eu sou legislador. Então eu não posso ter essas separações de representatividade, eu tenho que unir o povo num propósito único dentro de um ecossistema normal. A minha proposta é essa, é ser implacável, é ser diferenciado e fazer jus daquilo que me compete, daquilo que me foi incumbido, ser um vereador pelo povo, não pela simpatia de sigla, mas sim pela necessidade do crescimento da nossa cidade.
Transamérica: Quais serão os primeiros projetos que você vai apresentar?
Negro Bússola: Eles vão chegar no horário certo, no tempo certo, na tribuna, porque tudo que eu falo hoje vem de uma pesquisa de clima, uma vivência na base. Se eu ao menos apontar alguma, os caras que são improdutivos, que não ouvem a periferia que eu protagonizo, vão pegar carona.
Transamérica: Em quem você pretende votar para a Mesa Diretora da Câmara?
Negro Bússola: É informação minha, eu não quero tornar público não, na hora certa, Juiz de Fora vai saber.
Transamérica: Você tem pretensão para 2026?
Negro Bússola: Não, eu quero cumprir o mandato de vereador, depois tentar ser reeleito, e o que tiver de ser, vai estar na mão de Deus. Mas eu quero sentir o calor do povo. Por muito tempo eu não me vi representado, eu sei as ruas que eu andei, eu ouvi o lamento do povo, o povo conversou comigo, eu vi aonde houve brecha, eu entendo o sistema, eu fui em várias periferias, tenho projetos sociais que eu nunca peguei emenda parlamentar para fazer, foi através de feijoada, através de doações particulares, incentivos. (…) E eu estou à procura, eu quero edificar pelo menos uns dez negros GPS, para os caras darem continuidade nisso. Eu tenho que dividir essa história, fazendo as coisas certas, então não é o momento de eu pensar no Estado, é o momento de eu consolidar a minha ação e deixar discípulos aqui em Juiz de Fora, para o povo ver que é possível a gente ver, a gente fazer e chegar. (…) Essa cidade nossa que é provinciana, ostentadora, tradicionalista e muito preconceituosa. Está na hora da gente se ver, olhar no espelho e se enxergar, o nosso lugar é onde a gente quiser estar. A minha proposta é essa, dar legitimidade à voz da periferia.