Janeiros de sangue


Por JORGE SANGLARD, ORNALISTA, PESQUISADOR E ASSESSOR DA OAB SUBSEÇÃO JUIZ DE FORA

04/02/2015 às 07h00

Há três janeiros consecutivos, Juiz de Fora contabiliza a triste estatística de 14 homicídios. Em 2013, 2014 e, agora, em 2015, os números da violência não mudam na cidade e são um desafio tanto para os gestores públicos quanto para a sociedade. Infelizmente, Juiz de Fora deixou o grupo das cidades menos violentas do país e poderá, em breve, estar no noticiário nacional como mais um caso de fracasso na segurança pública, enquanto o Brasil melhorou os índices entre 2003 e 2012, graças à diminuição dos homicídios em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.

Essa contradição acaba deixando claro que muito pouco foi feito para reverter o quadro de assassinatos na cidade. A repetição de 14 homicídios em janeiro de 2013, 2014 e 2015 reflete uma taxa de 28,4 homicídios por cem mil habitantes, levando Juiz de Fora a figurar acima da média nacional, que, em 2012, foi de 20,4. Basta lembrar que, uma década antes, a taxa de homicídios na cidade era de 8,4 por cem mil habitantes. Os 141 assassinatos ocorridos em Juiz de Fora entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2014 superaram os 139 homicídios de 2013. E o pior é que nos três primeiros meses de 2014 ocorreram mais crimes violentos do que em todo o ano de 2007.

O pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, Leandro Piquet Carneiro, que acompanha o aumento da violência em Juiz de Fora e o crescente número de assassinatos a partir de 2010, já declarou que, se nada for feito pelo estado e pela sociedade, a meta de homicídios para 2015 na cidade será fixada pela “mão invisível” do crime, por centenas de traficantes de drogas ou por jovens em busca de vingança.

A criação do Laboratório de Estudos da Violência, abrigado junto ao Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da UFJF, é um alento para quem deseja enfrentar a realidade do aumento da violência e busca soluções concretas para diminuir esses números trágicos. Portanto, a OAB Subseção Juiz de Fora, a Comissão de Segurança da Câmara Municipal, a UFJF e a Prefeitura de Juiz de Fora, responsáveis pela articulação do laboratório, se mobilizam para a realização de uma audiência em Belo Horizonte com o secretário de Defesa Social e o comando da PMMG, com o objetivo de que sejam encontradas respostas efetivas para entender o fenômeno do crescimento da criminalidade violenta na cidade e as formas de reduzir esses números. E preparam para abril a realização do II Seminário Sobre a Violência.

Segundo o pesquisador Leandro Piquet Carneiro, que confirmou presença neste II Seminário, o Poder Público e as organizações da sociedade civil precisam definir qual é a meta para a redução dos assassinatos para 2015 em Juiz de Fora. A cidade precisa fazer com que, entre fevereiro e dezembro de 2015, os números de homicídios caiam drasticamente e que Juiz de Fora volte a ter paz. Os últimos janeiros foram de sangue.

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