Política não é violência
Ministra Cármem Lúcia, presidente do TSE, adverte, com razão, para os excessos que estão ocorrendo na campanha eleitoral em todo o país
Quando o coach Pablo Marçal ingressou na campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo já se sabia o que viria pela frente ante o seu histórico pouco convencional de buscar engajamento. O que não se previa – e os fatos falam por si só – é o estilo de campanha que ele iria adotar, carregando nas tintas para desconstruir os concorrentes.
O resultado, antes mesmo das eleições, já é conhecido: a principal cidade da América do Sul tem uma das campanhas mais agressivas física e moralmente, com os candidatos, em vez de programas eleitorais, discutindo as mazelas do concorrente. Marçal puxa a fila, mas não é o único. Até mesmo por reação e por busca de ascensão nas pesquisas, os adversários entraram no jogo.
No último debate, um dos assessores do candidato do PRTB deu um soco no rosto do marketeiro do prefeito Ricardo Nunes. Todos foram para a delegacia, mas o que levou a esse episódio é que deveria ser discutido. De novo, a troca de ofensas aguçou os ânimos da plateia.
A cadeirada do apresentador de TV José Luiz Datena, ora disputando a prefeitura pelo PSDB, tinha sido um fato lamentável, mesmo diante das provocações de Marçal, mas já apontava que dali para frente a situação só iria piorar.
Com um certo atraso, uma vez que faltam apenas uma semana e meia para as eleições, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, acionou a Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF) e os tribunais regionais eleitorais para que intensifiquem o combate aos casos de violência que ocorrem nas eleições deste ano. Segundo a ministra, é necessário dar prioridade nas investigações, acusações e julgamentos destes casos de violência.
Desconstruir o concorrente faz parte do jogo, o que, em alguns momentos, resvala em calúnia, injúria e difamação, que podem ser corrigidos pela própria Justiça Eleitoral, quando provocada pela parte ofendida, mas pelo país afora a situação é bem mais crítica. Pelo menos 20 candidatos foram assassinados desde agosto. Os crimes variam de ataques com motivação política a casos não diretamente vinculados à campanha, mas cujo alvo tinha a disposição de ir às urnas de outubro.
De acordo com o TSE, mais de 100 candidatos morreram durante a campanha por diferentes causas, como problemas de saúde e acidentes, mas o grave desse ciclo são as mortes fruto de violência entre as partes. Rio de Janeiro e São Paulo se destacam com altos números de incidentes, e algumas das vítimas foram alvos de ataques armados em eventos políticos.
A ministra tem razão quando destaca que “casos de violência da mais variada deformação que se vem repetindo nesse processo eleitoral afrontam até mesmo a nobilíssima atividade da política, tão necessária. Política não é violência, é a superação da violência. Violência praticada no ambiente da política, não apenas o agredido, se não que ofende toda a sociedade e a própria democracia”, afirmou.
Os episódios devem ter efeito pedagógico, a fim de apontar para ações que garantam a liberdade de expressão dos candidatos, mas com os freios necessários para, no mínimo, assegurar o contraditório. Violência física, jamais.