Livro sobre João Carriço rememora vida e trabalho do juiz-forano
Lançamento da obra acontece nesta quarta-feira, a partir das 18h, na Autoria Casa de Cultura
João Carriço é um dos nomes mais importantes das artes juiz-foranas. Conhecido, sobretudo, por sua atuação cinematográfica na cidade, a partir da sua produtora Carriço Film e da idealização do Cine-Theatro Popular, existem, ainda, outras versões pouco faladas e conhecidas – e igualmente importantes para sua construção no imaginário popular do lugar. São esses detalhes de sua história, que ainda passam desapercebidos, que são ampliados no livro “João Carriço, um artista em cena: cenógrafo, pintor, montador de presépios, carnavalesco, exibidor cinematográfico e cineasta”, escrito por Renata Venise Vargas Pereira e Aline Calazans Marques, e que vai ser lançado nesta quarta-feira (3), na Autoria Casa de Cultura, a partir das 18h. O livro possui versão on-line (que pode ser conferida neste link) e física, que vai ser vendida no dia pelas autoras. O livro também será lançado no Rio de Janeiro, na Fundação Casa de Rui Barbosa, no dia 11 de julho, como parte da série ABERTO.
Renata é jornalista e pesquisadora e docente do curso de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do UniAcademia, em Juiz de Fora. Já Aline é arquiteta e urbanista, docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Proarq-FAU/UFRJ). A união entre essas áreas foi o que possibilitou um retrato completo de João Carriço, apresentando sua vida e suas produções, sempre ligando sua história à de Juiz de Fora. “João Carriço em cena”, inclusive, é a obra que abre o lançamento da série “Aberto”, do Selo Editorial Proarq. E o intuito é, exatamente, permitir um acesso mais facilitado às mais recentes descobertas da arquitetura.
Outro João Carriço
Por mais que João Carriço seja ligado principalmente ao cinema, sua história com as artes é bem anterior. Como o livro menciona, ele sempre sonhou em ser artista. Ainda pequeno, em Juiz de Fora, projetava imagens em sua casa e encenava peças teatrais para seus vizinhos. Esse interesse o fez se mudar para o Rio de Janeiro, lugar onde aprendeu os conceitos de cenografia e conviveu com importantes nomes do cinema e do teatro da época. Quando voltou a Juiz de Fora, fazia, principalmente, a cenografia de algumas peças da cidade. Jornais da época não poupavam elogios aos trabalhos que fazia para o teatro.
Foi essa aptidão à cenografia que o levou a montar presépios. “Os familiares vivos, herdeiros dessa história de vida, contam que o artista começou a montar presépios em agradecimento à cura de um tumor na garganta. O resultado da promessa feita e cumprida virou atração na agenda cultural da localidade”, aponta o livro. Todo ano, próximo ao Natal, ele abria a porta de sua casa, na Rua XV de Novembro, para que a população pudesse ver o trabalho que desenvolveu ali. O que virou uma tradição.
Para Aline, inclusive, esses presépios são, na verdade, verdadeiras maquetes, dada a perfeição com a qual trabalhava, reproduzindo uma cidade iluminada, com casas entre morros, em um cenário que já retratava Juiz de Fora. Essa sua movimentação já unia seus principais interesses: as artes plásticas, o teatro, a história e a arquitetura, como desenvolve o livro. Não existem, de fato, imagens que retrataram a forma e como eram os presépios. O que abre margem à imaginação são os relatos contidos, principalmente, nos jornais que circulavam na época em Juiz de Fora.
Foi ainda fazendo presépios que a vida de João Carriço se abriu aos filmes. Ainda na sua propriedade, com o projeto montado, ele decidiu promover uma sessão de cinema, e ainda distribuiu bombons às crianças presentes. Essa sua conexão com a população acabou fortalecendo seus laços na cidade, sendo, inclusive, chamado de “O amigo do povo”, e a exibição cinematográfica passou a fazer parte de sua vida, até que, em 1926, surge o nome Cine Popular, com os filmes sempre sendo exibidos junto com a visitação ao presépio.
As exibições foram ficando ainda mais populares na cidade, até que o projeto se tornou, de fato, um cinema, aberto para além do Natal. E sempre com preços acessíveis, para que todo mundo tivesse acesso ao que estava sendo exibido ali. Ainda nessa lógica, ele montou a produtora, em 1933. Eles filmavam e montavam, principalmente, os acontecimentos da região, com destaque especial ao carnaval. Os cinejornais eram exibidos em diversas cidades nos 23 anos ininterruptos de atuação.
Problemas contratuais com a Companhia Central de Diversões, dentre outros imbróglios, levaram ao fim da tanto da exibição quanto da produtora de Carriço. Esses detalhes, a chegada da ditadura e a morte do “amigo do povo” são temas sobre os quais o livro de Renata e Aline se debruça, apresentando, de forma aprofundada, as tantas facetas de um dos principais nomes da cultura juiz-forana.
Serviço
Livro: “João Carriço, um artista em cena: cenógrafo, pintor, montador de presépios, carnavalesco, exibidor cinematográfico e cineasta”
Autoras: Renata Venise Vargas Pereira e Aline Calazans Marques
Quarta-feira (3), a partir das 18h