O jogo da desinformaĆ§Ć£o
O eleitor deve ficar atento, pois as novas tecnologias de inteligĆŖncia artificial podem produzir cenĆ”rios e discursos irreais
As empresas de tecnologia ainda nĆ£o deram uma resposta convincente sobre como vĆ£o atuar na eleiĆ§Ć£o nos Estados Unidos, quando Joe Biden e Donald Trump voltam a se enfrentar, e muito menos qual serĆ” o seu comportamento pelo mundo afora. No Brasil, as eleiƧƵes municipais serĆ£o as primeiras apĆ³s o upgrade na inteligĆŖncia artificial.
O jornal āFolha de SĆ£o Pauloā fez esse questionamento e foi informado pelas big techs que serĆ£o tomadas medidas para evitar a desinformaĆ§Ć£o. āEstamos restringindo os tipos de pesquisas relacionadas Ć s eleiƧƵes para as quais o Gemini apresentarĆ” respostas e, em vez disso, redirecionaremos as pessoas para a buscaā, disse o Google.
A empresa nĆ£o revelou, porĆ©m, quais as restriƧƵes serĆ£o implementadas, o que dĆ” margem a preocupaĆ§Ć£o, jĆ” que a campanha, a despeito de as convenƧƵes ainda nĆ£o terem sido realizadas – sĆ³ a partir de 16 de julho -, as prĆ©-campanhas jĆ” estĆ£o em pleno andamento. Os polĆticos, embora nĆ£o peƧam votos, em razĆ£o das restriƧƵes legais, jĆ” estĆ£o se apresentando aos eleitores e destacando suas metas programĆ”ticas.
Em entrevista Ć RĆ”dio TransamĆ©rica, no programa āTribuna no Arā, o cientista polĆtico Paulo Roberto Figueira nĆ£o escondeu suas preocupaƧƵes com o uso da InteligĆŖncia Artificial. Trata-se, Ć© fato, de um avanƧo tecnolĆ³gico, mas como ela serĆ” usada Ć© a questĆ£o colocada Ć mesa.
Ele tem razĆ£o, porque as experiĆŖncias apresentadas pela IA sĆ£o preocupantes. A foto do Papa Francisco usando uma sofisticada jaqueta nos Alpes foi a mostra do que serĆ” possĆvel fazer. O pontĆfice, em momento algum utilizou tal traje, mas a imagem convenceu. E foi apenas o comeƧo, uma vez que as chamadas deep fakes sĆ£o capazes de reproduzir nĆ£o apenas imagens, mas tambĆ©m sons que, nĆ£o necessariamente, sĆ£o reais.
E Ć© aĆ que reside o problema. Por meio das ferramentas digitais, serĆ” possĆvel colocar voz e imagem em um determinado polĆtico com o objetivo de desconstruir sua imagem ou, por outro lado, apresentando o candidato com um discurso objetivo e convincente.
Os processos sĆ£o tĆ£o sofisticados que o desafio para os eleitores Ć© saber se sĆ£o fatos ou fakes. A JustiƧa Eleitoral estĆ” tomando precauƧƵes e jĆ” avisou que terĆ” meios de monitorar tais aƧƵes, mas nĆ£o hĆ” garantias da eficĆ”cia desse controle.
Como a regulaĆ§Ć£o das big techs ainda nĆ£o se consolidou, Ć© necessĆ”rio chamar a atenĆ§Ć£o dos eleitores para que desconfiem das facilidades que lhes serĆ£o apresentadas nos palanques virtuais.
E nĆ£o se trata de demonizar a tecnologia, pois o seu uso Ć© irreversĆvel. O mundo digital estĆ” se tornando cada vez mais sofisticado e as novidades sĆ£o diĆ”rias. Ć necessĆ”rio questionar o uso indevido de tais ferramentas, por serem decisivas no processo de definiĆ§Ć£o dos parlamentos e das prefeituras, agora em 2024, e nos cargos que serĆ£o colocados em jogo em 2026.