Oscar 2024 coroa carreira do diretor Christopher Nolan
Cerimônia de entrega do Oscar 2024 elege “Oppenheimer” como grande vencedor e legitima Christopher Nolan como um dos maiores diretores de sua geração
O fato de “Oppenheimer” ter abocanhado sete dos 13 prêmios a que concorria no Oscar 2024 não foi exatamente uma surpresa. A temporada de premiações já dava pistas de que as estatuetas de melhor filme, direção, ator (Cillian Murphy), ator coadjuvante (Robert Downey Jr.), fotografia, montagem e trilha sonora poderiam ir, como foram, sem grandes questionamentos para o filme que conta a história do “pai da bomba atômica”, o físico J. Robert Oppenheimer. Como também não foi surpreendente a coroação da carreira do diretor britânico Christopher Nolan.
A primeira indicação de Nolan ao Oscar ocorreu em 2000, pelo roteiro de “Amnésia”. Ali já se deixava entrever um autor afeito a narrativas pouco convencionais, fragmentárias, que subvertem a ordem linear. Considerado superestimado por uns, que o acusam de obrigar a audiência a certas ginásticas mentais, e adorado por outros, Christopher Nolan é o diretor da trilogia “Batman begins” (2005), “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008) e “Batman – O Cavaleiro das Trevas ressurge” (2012), talvez seu trabalho mais popular e sua primeira colaboração com o ator Cillian Murphy. Naquele período, encontrou tempo para escrever e dirigir “A origem”, indicado ao Oscar de melhor filme em 2010. Em 2017, seu drama de guerra “Dunkirk” concorreu ao Oscar de melhor direção e melhor filme.
A coroação definitiva de Christopher Nolan, todavia, só viria com “Oppenheimer”. O filme conquistou dezenas de premiações ao longo da temporada, em diversas categorias. Além do Oscar, faturou os prêmios de melhor filme e direção no Bafta (o “Oscar do Reino Unido”), no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards. Nas premiações de sindicatos de Hollywood, “Oppenheimer” também passou o rodo: melhor elenco segundo o Sindicato dos Atores, melhor direção pelo Sindicato dos Diretores e melhor filme para o Sindicato dos produtores.
Safra de bons filmes
A temporada de filmes de 2023, representada nessa edição do Oscar, foi repleta de obras acima da média. O fato de Julianne Moore e Natalie Portman, por exemplo, terem ficado de fora da lista de indicados, apesar do trabalho fabuloso de ambas em “Segredos de um escândalo”, de Todd Haynes, é prova disso. Ou a polêmica não indicação de Margot Robbie e da diretora Greta Gerwig por “Barbie”. Mas se houve injustiça aqui, fez-se justiça acolá. É o caso do prêmio de melhor atriz para Emma Stone, por sua interpretação memorável no fantasioso e excêntrico “Pobres criaturas”. O filme do diretor Yorgos Lanthimos foi o segundo mais premiado da noite, com quatro estatuetas. Além de melhor atriz, venceu nas categorias melhor figurino, design de produção e cabelo e maquiagem.
Em um ano em que Sandra Hüller (“Anatomia de uma queda”), Annette Bening (“Nyad”), Lily Gladstone (“Assassinos da Lua das Flores”) e Carey Mulligan (“Maestro”) elevaram sobremaneira o sarrafo da atuação, a premiação de Emma Stone ganha ainda mais valor. Seu desempenho como Bella Baxter, uma suicida que recebe o cérebro da filha que trazia no ventre e aos poucos vai descobrindo o mundo e a si mesma, tem tantas camadas e matizes que ficaria difícil lhe tirar o prêmio. Da’Vine Joy Randolph, melhor atriz coadjuvante por “Os rejeitados”, também brilha no papel da cozinheira enclausurada com um professor ranzinza e um estudante rebelde em uma universidade durante as festas de fim de ano.
Merecem menção ainda os filmes premiados por seus roteiros. Não seria injustiça se “Anatomia de uma queda”, da diretora Justine Triet, estrelado pela hipnotizante Sandra Hüller, houvesse ganhado o prêmio de melhor direção ou filme. Injustiça seria ficar de mãos vazias, o que não ocorreu, uma vez que ganhou como melhor roteiro original, escrito por Triet com Arthur Harari. Igualmente injusto seria o excelente “Ficção americana”, dirigido por Cord Jefferson e estrelado por um impecável Jeffrey Wright, ser esnobado. Mas o roteiro adaptado pelo próprio Jefferson a partir do livro “Erasure” (2001), de Percival Everett, foi reconhecido como o melhor da temporada. E tem o soberbo “Zona de interesse”, de Jonathan Glazer, que venceu como melhor filme internacional, mas poderia facilmente ter faturado como melhor filme e ponto.
Scorsese sem estatueta
O dado mais curioso da noite, talvez, tenha sido o fato de “Assassinos da Lua das Flores” ter ficado sem um premiozinho sequer. A superprodução dirigida por Martin Scorsese, estrelada por Leonardo di Caprio, Robert de Niro e Lily Gladstone, recebeu dez indicações (incluindo melhor filme, diretor, atriz e ator coadjuvante) e não levou nenhuma categoria. “Barbie” também naufragou. Cercado de polêmicas, graças principalmente à indicação de Ryan Gosling pelo papel de Ken, quando (a ótima) Margot Robbie restou esquecida, o filme, indicado em oito categorias, faturou apenas a de melhor canção original, “What I was made for?”, de Billie Eilish. Em tempo: foi o segundo Oscar da carreira da cantora de 22 anos. Em 2022, ela vencera por “No time to die”, escrita para “007 – Sem tempo para morrer”. Ela é a pessoa mais jovem na história a conquistar dois Oscars.
Confira a lista de premiados no Oscar 2024
- Melhor filme
“Oppenheimer” (vencedor)
“Ficção americana”
“Anatomia de uma queda”
“Barbie”
“Os rejeitados”
“Assassinos da Lua das Flores”
“Maestro”
“Vidas passadas”
“Pobres criaturas”
“Zona de interesse”
- Melhor atriz
Emma Stone, por “Pobres criaturas” (vencedora)
Annette Bening, por “Nyad”
Lily Gladstone, por “Assassinos da Lua das Flores”
Sandra Hüller, por “Anatomia de uma queda”
Carey Mulligan, por “Maestro”
- Melhor direção
Christopher Nolan, por “Oppenheimer” (vencedor)
Justine Triet, por Anatomia de uma Queda
Martin Scorsese, por “Assassinos da Lua das Flores”
Yorgos Lanthimos, por “Pobres criaturas”
Jonathan Glazer, por “Zona de interesse”
- Melhor ator
Cillian Murphy, por “Oppenheimer” (vencedor)
Bradley Cooper, por “Maestro”
Colman Domingo, por “Rustin”
Paul Giamatti, por “Os rejeitados”
Jeffrey Wright, por “Ficção americana”
- Melhor ator coadjuvante
Robert Downey Jr, por “Oppenheimer” (vencedor)
Sterling K. Brown, por “Ficção americana”
Robert De Niro, por “Assassinos da Lua das Flores”
Ryan Gosling, por “Barbie”
Mark Ruffalo, por “Pobres criaturas”
- Melhor atriz coadjuvante
Da’Vine Joy Randolph, por “Os rejeitados” (vencedora)
Emily Blunt, por “Oppenheimer”
Danielle Brooks, por “A cor púrpura”
America Ferrera, por “Barbie”
Jodie Foster, por “Nyad”
- Melhor roteiro original
Justine Triet & Arthur Harari, por “Anatomia de uma queda” (vencedor)
David Hemingson, por “Os rejeitados”
Bradley Cooper & Josh Singer, por “Maestro”
Sammy Burch, por “Segredos de um escândalo”
Celine Song, por “Vidas passadas”
- Melhor roteiro adaptado
Cord Jefferson, por “Ficção americana” (vencedor)
Greta Gerwig & Noah Baumbach, por “Barbie”
Christopher Nolan, por “Oppenheimer”
Tony McNamara, por “Pobres criaturas”
Jonathan Glazer, por “Zona de interesse”
- Melhor maquiagem e cabelo
“Pobres criaturas” (vencedor)
“Golda”
“Maestro”
“Oppenheimer”
“A Sociedade da Neve”
- Melhor figurino
“Pobres criaturas” (vencedor)
“Barbie”
“Assassinos da Lua das Flores”
“Napoleão”
“Oppenheimer”
- Melhor direção de arte
“Pobres criaturas” (vencedor)
“Barbie”
“Assassinos da Lua das Flores”
“Napoleão”
“Oppenheimer”
- Melhor filme internacional
“Zona de interesse” – Reino Unido (vencedor)
“Io capitano” – Itália
“Perfect days” – Japão
“A Sociedade da Neve” – Espanha
“The teacher’s lounge” – Alemanha
- Melhor animação
“O menino e a garça” (vencedor)
“Elementos”
“Nimona”
“Meu amigo robô”
“Homem-Aranha: através do Aranhaverso”
- Melhor curta de animação
“War is over!” (vencedor)
“Letter to a pig”
“Ninety-five senses”
“Our uniform”
“Pachyderme”
- Melhor documentário
“20 dias em Mariupol” (vencedor)
“Bobi Wine: o presidente do povo”
“A memória infinita”
“As 4 filhas de Olfa”
“To kill a tiger”
- Melhor documentário em curta-metragem
“The last repair shop” (vencedor)
“O ABC da proibição de livros”
“The barber of Little Rock”
“Island in between”
“Nai Nai and Wài Pó”
- Melhor curta-metragem
“A incrível história de Henry Sugar” (vencedor)
“E depois?”
“Invincible”
“Knight of fortune”
“Red, white & blue”
- Melhor fotografia
“Oppenheimer” (vencedor)
“O Conde”
“Assassinos da Lua das Flores”
“Maestro”
“Pobres criaturas”
- Melhor edição
“Oppenheimer” (vencedor)
“Anatomia de uma queda”
“Os rejeitados”
“Assassinos da Lua das Flores”
“Pobres criaturas”
- Melhores efeitos visuais
“Godzilla minus one” (vencedor)
“Resistência”
“Guardiões da Galáxia vol. 3”
“Missão: impossível – acerto de contas parte 1”
“Napoleão”
- Melhor som
“Zona de interesse” (vencedor)
“Resistência”
“Maestro”
“Missão: impossível – acerto de contas parte 1”
“Oppenheimer”
- Melhor trilha sonora
“Oppenheimer” (vencedor)
“Ficção americana”
“Indiana Jones e a Relíquia do Destino”
“Assassinos da Lua das Flores”
“Pobres criaturas”
- Melhor canção Original
“What was I made for?”, de “Barbie” (vencedora)
“The fire inside”, de “Flamin’ hot”
“I’m just Ken”, de “Barbie”
“It never went away”, de “American symphony”
“Wahzhazhe (a song for my people)”, de “Assassinos da Lua das Flores”