Branco, tinto, rosĂȘ: entenda as diferentes cores dos vinhos

VocĂȘ sabe por que existem vinhos de cores tĂŁo diferentes? E de onde vĂȘm essas cores? Leia o artigo e descubra.

Por Ana Cristina Mokdeci

CarĂ­ssimo Enoleitor:

Como vocĂȘ jĂĄ deve ter reparado, os vinhos possuem estilos e coloraçÔes variados. As cores mais comuns e que determinam trĂȘs classes bem definidas de vinhos sĂŁo: branco, rosĂȘ e tinto (este Ășltimo, em alguns idiomas, Ă© denominado “vermelho” – red, rouge, rosso).

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.01.31 93037a27
Branco, tinto e rosĂȘ (Fonte: Canva Pro)

Cada um desses tipos de vinhos possui caracterĂ­sticas Ășnicas, que nĂŁo se restringem, obviamente, Ă  cor. Os predicados que definem e dĂŁo personalidades distintas aos vinhos, incluindo cor, aroma, sabor, estrutura, dentre outros, sĂŁo diretamente influenciados pelo processo de produção – em especial, pela tĂ©cnica de fermentação utilizada.

Hoje vou te explicar, de uma forma bem simples, de onde surgem as cores dos vinhos. Para isso, tenho que começar pelo processo de fermentação, que Ă© o fenĂŽmeno quĂ­mico responsĂĄvel pela “transformação” do suco de uva em uma bebida alcĂłolica, o vinho.

 

O Processo da Fermentação Alcoólica

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.09.41 c743bd2c
Tanques de aço inox para fermentação de vinhos (Fonte: acervo pessoal)
Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.07.36 157f4fcb
Momento de poda (Fonte: acervo pessoal)

A produção de uma garrafa de vinho inicia-se no vinhedo, com o plantio cuidadoso das uvas, passando por todas as etapas de trabalho no campo até a colheita.

Colhidas, as uvas são então transportadas para a cantina (nome das instalaçÔes onde se encontram os maquinårios, os tanques de fermentação etc., de uma vinícola).

Na cantina, os bagos sĂŁo esmagados para a extração do mosto, ou seja, do suco da uva. O mosto contĂ©m açĂșcares que, durante o processo de fermentação, servem de “alimento” para determinadas espĂ©cies de fungo, as leveduras. Enquanto consomem o açĂșcar, as leveduras produzem ĂĄlcool etĂ­lico e promovem a liberação de dois subprodutos: calor e diĂłxido de carbono.

Saiba que as leveduras sĂŁo encontradas, principalmente, na casca das uvas. Contudo, para maior controle do resultado do processo, normalmente elas sĂŁo previamente selecionadas e adicionadas ao mosto.

 

Vinho tinto, vinho branco e vinho rosĂȘ: de onde vem a cor do vinho?

 

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.13.27 f9c7ad9a
Fonte: Canva Pro

– Vinho Tinto:

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.14.50 c84786b6
Cacho de uva tinta (Fonte: acerco pessoal)

Para a produção de um vinho tinto, são utilizadas variedades de cascas escuras, arroxeadas, pois é na casca que se encontram os pigmentos que dão cor ao vinho. São castas tintas a cabernet sauvignon, a merlot, a tannat, a malbec, dentre outras.

Após a retirada dos engaços e talos, as uvas são esmagadas (prensadas) para que liberem o suco. Este mosto (suco + cascas) é deixado em maceração, isto é, permanece em contato com as cascas, antes da fermentação, para que cor, taninos e compostos aromåticos sejam transferidos da casca para o líquido.

 

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.20.48 4356d13b
Fermentação de vinho tinto (Fonte: Canva Pro)

Findo o tempo de maceração, que varia de acordo com o tipo da uva e com o estilo de vinho pretendido pelo enĂłlogo, a fermentação do mosto Ă© provocada. Entram em ação as leveduras, que consomem os açĂșcares do mosto, transformando o suco em vinho. Terminada a fermentação, as cascas sĂŁo retiradas do lĂ­quido, que segue para a prĂłxima etapa de produção.

 

– Vinho Branco:

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.26.34 7a95a413
Fonte: Canva Pro

 

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.29.25 7e7302bf
Chardonnay (Fonte: Canva Pro)

Para a produção de um vinho branco, normalmente são utilizadas uvas brancas, como a chardonnay, a sauvignon blanc, a alvarinho, dentre outras. Contudo, lembre-se que é a casca da uva que transmite a cor para o vinho.

A parte interna do bago é levemente esverdeada, quase icolor. Desta forma, é possível e bastante comum a utilização de uvas de cascas escuras para a produção de vinhos brancos.

JĂĄ viu escrito em algum rĂłtulo a expressĂŁo “blanc de noirs”? Pois significa “branco de pretas”, literalmente – uma alusĂŁo ao fato de que foram utilizadas apenas uvas tintas na produção daquele vinho branco.

O que ocorre é que, ao contrårio dos vinhos tintos, a fermentação dos vinhos brancos não acontece com a participação das cascas ou hå um período muito pequeno de contato das cascas com o líquido antes da fermentação. Ou seja, não hå tempo suficiente de contato para que sejam extraídos pigmentos de cor.

Antes de submeter o suco à ação das leveduras de fermentação, as uvas são desengaçadas, prensadas levemente e suas cascas são retiradas. Assim, o suco que se transforma em vinho permanece clarinho, naquele tom esverdeado/amarelado que encontramos na taça.

Também é por conta deste processo mais sutil que os aromas e sabores dos vinhos brancos são mais frescos e delicados.

Uma informação importante: as temperaturas de fermentação sĂŁo bastante diferentes para cada tipo de vinho (mais elevadas para tintos, mais baixas para brancos) e tambĂ©m exercem muita influĂȘncia no frescor e nos aromas finais dos vinhos.

 

– Vinho RosĂȘ:

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.33.58 c606c8bd
Fonte: Canva Pro

O vinho rosĂȘ talvez seja o mais difĂ­cil de ser produzido. A cor rosada Ă© obtida a partir de um contato breve das cascas escuras das uvas com o mosto, durante a fermentação. Cabe ao enĂłlogo interferir e retirar as cascas no momento em que o lĂ­quido atinge e coloração desejada, que varia de rosa/salmĂŁo pĂĄlido a rosa intenso.

Imagem do WhatsApp de 2024 02 18 as 00.38.10 f73feade
Foto: acervo da autora

As temperaturas de fermentação dos rosĂȘs precisam ser minuciosamente controladas, para que o vinho ganhe em estrutura de frutas e taninos (como um tinto) e mantenha o frescor (como um branco).

Menos comum Ă© a obtenção da tonalidade rosada misturando-se um vinho tinto com um branco. Lograr a produção de um rosĂȘ de qualidade requer muita habilidade dos enĂłlogos e dos agrĂŽnomos. E claro, um empurrĂŁozinho da natureza.

Em resumo, em se tratando da diversidade de cores que encontramos nos vinhos, vimos que os especialistas lançam mĂŁo de variadas tĂ©cnicas de fermentação, para as inĂșmeras castas existentes, tendo como pilar o tempo de contato das cascas das uvas com o mosto.

Ok, Ă© claro que o processo completo de produção de um vinho envolve vĂĄrios outros fatores, que inclusive, interferem na sua cor final. AtĂ© mesmo o local onde a uva Ă© plantada faz diferença. O importante Ă© que vocĂȘ utilize aqui o mesmo conceito das aulas de fĂ­sica: considere a gravidade zero para efeitos de cĂĄlculo (Ă© uma metĂĄfora, por favor!).

Outro detalhe: estou me referindo Ă s cores dos vinhos que estĂŁo nas prateleiras do mercado, ou seja, vinhos jovens ou razoavelmente jovens. Os vinhos possuem um tempo de vida e, Ă  medida que envelhecem, eles mudam de cor. Um vinho branco evoluĂ­do jĂĄ nĂŁo apresenta mais a coloração esverdeada. Um vinho tinto evoluĂ­do apresenta uma tez desgastada, cansada… assim como nĂłs, com o avançar dos anos.

Para os profissionais da ĂĄrea, analisar a tonalidade do vinho Ă© uma habilidade necessĂĄria, haja visto que a coloração nos fornece dados importantes sobre o DNA da bebida, como a sua idade, a casta que a originou, o seu estilo, a tĂ©cnica de fermentação a que foi submetida, etc. É, sĂŁo muitas nuances.

Mas o importante Ă© que vocĂȘ pegou a ideia geral da coisa e jĂĄ pode dar uma aulinha para os amigos no prĂłximo rolĂȘ da turma, concorda?

EntĂŁo desfrute e divirta-se com as mais variadas cores e sabores de vinhos!

 

SaĂșde e atĂ© a prĂłxima!!

 

Ana Cristina Mokdeci

Ana Cristina Mokdeci

Sou natural de Juiz de Fora (MG), SommeliĂšre profissional desde 2020. Durante a pandemia, tornei-me wine influencer e criei minha marca, Da Vinha Ao Vinho. Sou formada pela Associação Brasileira de Sommeliers de SĂŁo Paulo (ABS-SP) e tenho o nĂ­vel 3 da certificação WSET (Wine And Spirits Education Trust, com sede em Londres). No Instagram, apresento um live/podcast, o DOSE DUPLA, em que conduzo bate-papos muito bacanas com personalidades nacionais e internacionais do mundo do vinho. Sou colunista colaboradora do blog especializado em vinhos V AO CUBO. Fui jurada do Wines of Brazil Awards, em 2021, no Rio de Janeiro. À convite da Associação Brasileira de Enologia, fui uma dos 16 comentaristas da Avaliação Nacional de Vinhos de 2022 (edição de 30 anos de avaliação), o Ășnico evento de vinhos de uma mesma safra do mundo e o maior do Brasil, que acontece em Bento Gonçalves, RS. Em setembro de 2023, compus o corpo de jurados do Concurso do Espumante Brasileiro, tambĂ©m patrocinado pela ABE.

A Tribuna de Minas nĂŁo se responsabiliza por este conteĂșdo e pelas informaçÔes sobre os produtos/serviços promovidos nesta publicação.

Os comentĂĄrios nĂŁo representam a opiniĂŁo do jornal; a responsabilidade pelo seu conteĂșdo Ă© exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir postagens que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injĂșrias e agressĂ”es a terceiros. Mensagens de conteĂșdo homofĂłbico, racista, xenofĂłbico e que propaguem discursos de Ăłdio e/ou informaçÔes falsas tambĂ©m nĂŁo serĂŁo toleradas. A infração reiterada da polĂ­tica de comunicação da Tribuna levarĂĄ Ă  exclusĂŁo permanente do responsĂĄvel pelos comentĂĄrios.



Leia também