Eu gosto de carnaval. Não tenho samba no pé, o tenho na alma. O ritmo. No pé tenho somente a bola de futebol. Mas gosto de gente no samba, de gente animada que se fantasia no carnaval. Quando jovem, em férias escolares, pulava carnaval no Clube Caça e Pesca em Porciúncula. Por aqui, cheguei a participar de alguns bailes no Vasquinho, na Rua Bernardo e na ASE, no Mariano Procópio. Com a timidez fiz poucos flertes amorosos, esses próprios da mocidade (de antigamente). Até hoje acompanho os desfiles das principais escolas de samba do Rio e SP pela TV. E as daqui, de JF.
Folia boa é aqui. Com todo respeito e admiração por todas as escolas da cidade, até porque não sou do ramo, devo dizer que eu torço pela Juventude Imperial… “a Juventude tem um tarol que anuncia a morte do Rei Sol. Agora é noite. É noite enfim. Nas mãos do povo a lua cheia é tamborim”.
No trabalho social realizado com parcela da população idosa, em 1998, o Bloco Recordar é Viver “saiu do armário” e ganhou o centro da cidade. E passou a ser uma das principais atrações do nosso carnaval.
Nessa semana, na quinta-feira passada, o bloco completou 28 anos de vida, quando os foliões, mais uma vez e sempre, esbanjaram vitalidade e animação no seu tradicional desfile que antecede os dias da folia. Aqui cabe, me permito fazer algumas reflexões sobre essa conquista social: ver centenas de pessoas idosas fantasiadas – livres – leves – soltas, desfilarem no calçadão da Rua Halfeld no carnaval. Hoje já não chama tanta atenção assim, como há 20 anos, quase 30 anos atrás porque esses idosos e tantos outros estão empoderados de si, abrem alas e vão para as ruas, mesmo sem o reconhecimento social e o respeito que falta a muitos deles.
Ainda sob os ecos da repercussão da coluna de domingo passado, quando eu trouxe a matéria da jornalista Marina Izidro , do jornal “Folha de São Paulo”, com o título “Aposentados vão às ruas contra mudanças climáticas”. Isso na Inglaterra. A minha questão é a seguinte: por que as pessoas idosas, essas, que somam mais de 400 pessoas e participam ativamente do desfile do “Recordar é Viver”, não podem participar e organizar, por exemplo, algum movimento social e público – uma passeata, caminhada – que seja – de reivindicação de seus direitos na sociedade? Falta o quê?
Liderança política? Liderança das próprias pessoas idosas? Para mim, como escrevi na coluna de domingo passado, eu acredito firmemente na capacidade de protestar, de lutar e de mudar o curso da nossa história. O que não depende da idade das pessoas. Depende da nossa organização política. Não é a idade que se coloca como um impedimento, como nos impõe a narrativa oficial, para a luta de melhores dias, e sim, a falta de cultura e de educação para um envelhecimento cidadão.
No carnaval, as fantasias mascaram a nossa dura realidade: a alegria de um povo triste; principalmente, a de envelhecer num país que não tá nem aí para sua população idosa.
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