‘Zona de interesse’ é exibido em JF
Filme que fala sobre holocausto soma cinco indicações ao Oscar
Apesar de entrar oficialmente em cartaz apenas na próxima quinta-feira (15), o filme “Zona de interesse”, de Jonathan Glazer, tem sessões de pré-estreia durante essa semana, no Brasil todo, incluindo em Juiz de Fora. O longa tem cinco indicações ao Oscar deste ano, de melhor filme, melhor filme internacional, melhor direção, melhor roteiro adaptado e melhor som. O filme foi estreado em maio no Festival de Cinema de Cannes, onde ganhou o Grand Pix e o Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema.
“Zona de interesse” é um filme adaptado no livro homônimo do escritor britânico Martin Amis, que traz à tona um outro olhar sobre o holocausto. Um olhar, inclusive, polêmico, já que foca na vida dos responsáveis pela tragédia alemã, os nazistas. Em entrevista ao El País, o diretor contou que há tempos se dedicava ao tema, principalmente por ser judeu e crescer em uma família praticante.
Na mesma entrevista, disse que lembra das imagens da Noite dos Cristais, quando ainda era criança, e conta que ficava pensando o motivo de tanta passividade e por que as pessoas não ajudavam as outras. E segue, afirmando que procurou “um ângulo para encarar esses acontecimentos históricos, uma abordagem ainda não vista na tela”.
Ainda em 2014, conheceu o livro de Amis e, antes mesmo de ler, comprou os direitos. No livro, o personagem principal é fictício, mas Glazer afirma que se pôs a procurar pessoas reais, e isso o levou a uma “longa jornada”. Isso faz com que o longa tenha os nomes verdadeiros, como o Auschwitz Rudolf Höss, o comandante de um dos mais brutais campos de concentração, e a sua esposa, Hedwig. O cineasta ainda teve acesso a casa do homem, em Auschwitz, o que o deixou ainda mais impactado.
O intuito de Glazer, em “Zona de interesse”, é aproximar o espectador daquela família: seus dilemas, suas discussões, os problemas reais de um casal, e o dia a dia, para além que fato acontece fora daquele ambiente. Por morarem próximos ao campo de concentração, o que acontece no lugar chega àquele espaço, vivenciado, inclusive, pelos filmes: os barulhos das máquinas, os tiros, os gritos por socorro, a fumaça. O filme foi todo filmado em Auschwitz, na Polônia, o que traz, ainda mais, essa ambientação.
É um retrato ousado, de um outro lado da narrativa, já que filmes que falam sobre as vítimas são mesmo os mais comuns. E é exatamente por isso, por colocar em destaque uma família nazista, a partir de seu cotidiano, apontando o desastre nas entrelinhas, que o filme se apresenta polêmico – o que, para muitos, o distancia da estatueta do Oscar. Ao mesmo tempo que críticos afirmam que Glazer atingiu a excelência, seja no roteiro, que também assina, ou na direção, por ser um contador de história através das imagens.
“Zona de interesse” é, sobretudo, um filme que aponta para uma realidade, conta essa história, mesmo que em um outro lado, com um intuito: para que nunca mais aconteça, em hipótese alguma. E isso acontece na medida em que tudo ali, de alguma forma, gera um desconforto: exatamente por uma banalização e a vida daquela família que segue, ao lado de um campo de concentração, ao som do horror.
Os personagens de “Zona de interesse”
Sandra Hüller e Christian Friedel dão vida ao casal, em “Zona de interesse”. Hüller, inclusive, concorre ao Oscar por causa de outro filme, o francês “Anatomia de uma queda”, que fala sobre uma escritora que, supostamente, matou o marido. Ao Jornal de Notícias, a atriz falou sobre estar no Oscar com dois filmes completamente diferentes. Enquanto em “Anatomia de uma queda” resta dúvidas se sua personagem é ou não culpada, no de Glazer não cabe essa questão.
“Não quisemos fazer uma biografia da personagem – se o fosse, não teria entrado no filme, não vejo qualquer utilidade num filme sobre aquelas pessoas. O que Jonathan Glazer quis foi fazer um filme sobre o fenômeno da ignorância. E o quanto esse fenômeno está próximo de nós”, afirmou ao repórter João Antunes.
Para viver Hedwig, Hüller conta que houve uma pesquisa em cima da mulher do comandante. Mas isso aconteceu de forma que ela não conseguisse, em momento algum, criar empatia com a mulher, e muito pelo trabalho exercido pelo diretor. “Torna-se mais técnico, mas também deixa espaço para que surja algo de diferente. E aqui era importante, porque quando se afastam todos os sentimentos para com uma personagem tem de se colocar os sentimentos noutro lado. Interpretá-la foi uma espécie de vingança em nome de outros”, disse, ao Jornal de Notícias.
Já Friedel, após se assistir como comandante em Cannes, disse a jornalistas que estavam no lugar que se assustou. “Eu vi o filme pela segunda vez e me senti muito desconfortável porque em algumas das situações eu estava pensando ‘ok, esse, esse sou eu’ algumas vezes e isso me assustou.”