Projeto mapeia mais de 50 espécies de répteis em Juiz de Fora
Jararacas e cascavéis são as serpentes mais comuns na região; objetivo é esclarecer mitos e verdades sobre essas espécies, frequentemente abatidas
Entre 2020 e 2021, alunos do curso de ciências biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) desenvolveram um projeto que mapeia as espécies de répteis encontradas na cidade e reúne informações científicas sobre esses animais. O objetivo da iniciativa é esclarecer mitos e verdades sobre essas espécies, que muitas vezes acabam sendo abatidas por desconhecimento da população. Desde o mês passado, o conteúdo levantado tem sido divulgado para além da comunidade acadêmica por meio do perfil no Instagram do projeto Répteis JF.
No total, os estudantes encontraram 54 espécies de répteis em Juiz de Fora, sendo dois cágados, dois anfisbênias – conhecidas como cobra-cega ou cobra-de-duas-cabeças -, 11 lagartos e 39 serpentes. As serpentes mais comuns na região são as jararacas e as cascavéis. Já em relação aos lagartos, os calangos, lagartixas de parede e teiús são os avistados com mais facilidade. É nos meses mais quentes e chuvosos do ano que os répteis aparecem com mais frequência. Integrante do Laboratório de Herpetologia e um dos alunos responsáveis pelo projeto, Yan Garani explica que isso acontece pois essas espécies estão mais ativas por causa da temperatura e umidade.
Em relação ao local de maior incidência, o estudante diz que a maioria das espécies são encontradas em regiões de matas mais preservadas, como, por exemplo, no Jardim Botânico, Parque da Lajinha e Mata do Krambeck, ou em áreas mais abertas de pastagens ao redor do município. “Existem espécies que são mais facilmente encontradas no próprio ambiente urbano, seja por terem se adaptado a viver dentro de nossas casas e quintais, como as lagartixas de parede, ou por serem atraídas por suas presas, como cascavéis e jararacas, que podem aparecer em terrenos baldios e com acúmulo de lixo, locais em que também encontramos ratos.”
Desmistificar mitos e informar verdades
O medo de grande parte da população de alguns animais silvestres é antigo e tem origem nos mitos que circulam em torno dessas espécies. Para o senso comum, a natureza dos répteis está ligada a uma suposta agressividade, principalmente quando falamos de serpentes. Existe uma ideia de que esses animais costumam atacar quando entram em contato com humanos. Mas essa não é a realidade. Yan destaca que essas espécies nunca vão atacar uma pessoa por espontânea vontade e, nos casos em que se sentirem acuadas, vão utilizar os comportamentos defensivos da própria espécie, por isso, o bolsista diz que é importante conhecer sobre sua biologia.
“O conhecimento da biologia básica das espécies pela população é crucial para que o ser humano possa coexistir de forma saudável com a natureza. No caso dos répteis, quando você reconhece os seus hábitos e a importância dessas espécies para o meio ambiente, é mais fácil desconstruir a imagem de ‘vilões’ que essas espécies carregam, reduzindo a chance desses animais serem abatidos quando são encontrados pelas pessoas, por exemplo”, afirma Yan.
É nesse ponto que entra o papel fundamental da divulgação científica. Levar essas informações para fora do ambiente acadêmico, conscientizar e tirar dúvidas da população são forma de colaborar para uma convivência harmônica com o meio ambiente e para a conservação das espécies, além de contribuir para a valorização de pesquisas e projetos produzidos nas universidades. “Só preserva aquilo que se ama, só ama aquilo que se conhece”, acredita o estudante.
Os mitos a respeito das serpentes são diversos e variam de acordo com as regiões. A forma de reverter esse imaginário popular é informar. Por isso, o projeto busca explicar a importância desses animais no auxílio do bem-estar das pessoas, já que eles controlam populações de outros animais que podem ser nocivos à saúde, como escorpiões, baratas e ratos.
O que fazer ao encontrar répteis?
Encontrar um réptil pelo caminho pode ser bem comum. Alguns são mais fáceis de aparecer no ambiente urbano, e outros, em áreas de matas. A recomendação nesses casos é manter a calma e, se estiver em ambiente aberto, deixar que o animal siga seu caminho sem importuná-lo ou oferecer alimento.
Nos casos em que o bicho esteja dentro de uma residência ou em um local sem saída, a orientação é acionar os órgãos responsáveis, como os Bombeiros através do número 193, a Guarda Municipal pelo 153 ou Polícia do Meio Ambiente pelo telefone (32) 3228-9050, que irão recolher o animal com segurança. Se der tempo de tirar uma foto, os pesquisadores pedem para que seja enviada ao Instagram do projeto para que o trabalho continue sendo feito.