Mais de 700 pessoas aguardam cirurgia de catarata em Juiz de Fora
Embora não haja prazo específico para realização da cirurgia, especialista recomenda fazer o quanto antes para evitar prejuízos à visão e complicações durante o procedimento e no pós-operatório
A catarata é responsável por 51% dos casos de cegueira no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas a doença é reversível, e o único tratamento é a cirurgia. No entanto, a espera pelo procedimento no Sistema Único de Saúde (SUS) pode durar anos. Com a paralisação das cirurgias eletivas em razão da Covid-19, o número de pessoas que precisam do serviço aumentou consideravelmente. Em Juiz de Fora, 728 pacientes esperam por uma vaga na rede SUS. O dado foi disponibilizado pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
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Rose Petrina, 62, esperou por um ano e meio até conseguir realizar a cirurgia de catarata no olho direito. Desde que descobriu que muitas pessoas da sua família tinham glaucoma, ela passou a ir, com certa frequência, ao oftalmologista em Levy Gasparian, no Rio de Janeiro, sua cidade natal. Em uma das consultas de rotina, Rose descobriu que estava com catarata. “Foi uns anos atrás que descobri a catarata nas duas vistas, mas fui enrolando e cheguei a um estágio avançado da doença. Eu já não estava enxergando mais de perto.”
A paciente foi operada no dia 28 de julho, mas ainda aguarda o tratamento na vista esquerda há quase três meses. “A vista que eu operei agora está melhor do que a da esquerda, senti muita diferença. Antes da cirurgia estava atrapalhando minhas tarefas. Eu não conseguia ver televisão direito porque ficava tudo embaçado. Para ler a lista de compras do mercado era um sufoco mesmo de óculos, tinha que pedir para outras pessoas lerem para mim”, conta.
Para Rose, a cirurgia não demorou nem 40 minutos e foi super tranquila. O principal parâmetro usado para encaminhamento do procedimento é o fato de a doença estar incomodando a rotina e as atividades diárias do paciente, como foi no caso da Rose. A médica responsável pelo Setor de Cirurgia de Catarata do Hospital de Olhos de Juiz de Fora, Luciana Costa Cunha, diz que hoje, com a tecnologia disponível, a cirurgia deve ser realizada o quanto antes.
“A cirurgia de catarata é a cirurgia mais realizada em todo mundo. É considerada um procedimento seguro, indolor e de rápida recuperação quando realizada por profissional especializado, experiente, capacitado e com estrutura e tecnologia adequadas.”
Catarata gera risco de cegueira
Luciana é especialista em cirurgia de catarata pela Universidade de São Paulo (USP) e explica que não há prazo específico para realizar a cirurgia, porém, não é recomendado esperar a catarata amadurecer para fazer o procedimento, pois pode causar prejuízos à visão do paciente e, consequentemente, à sua qualidade de vida, além de aumentar os riscos de complicações durante a cirurgia ou resultar em uma recuperação demorada. “Sem contar que a catarata madura pode levar à cegueira. Além disso, a perda visual por catarata aumenta o risco de quedas e fraturas, depressão, demência, Alzheimer e pode diminuir a expectativa de vida dos pacientes.”
Fila de espera é problema crônico no Brasil
A médica destaca que a fila de espera por procedimentos médicos de alta complexidade é um problema crônico no país, pois, dentre outros fatores, exigem profissionais especializados. “Na oftalmologia e especificamente com a cirurgia de catarata não é diferente. Infelizmente ainda é uma realidade sem solução em todo Brasil. Os esforços não são suficientes para suprir a demanda. Assumir o protagonismo e diminuir a fila de espera na nossa cidade e região seria algo muito valioso para a comunidade. E uma política pública muito bem vista.” A especialista ainda diz que a catarata é somente uma das doenças dentro da oftalmologia com carência de atendimento especializado no SUS. “Catarata, glaucoma, doenças clínicas/cirúrgicas da retina, estrabismo e também os casos de urgência e emergência oftalmológicas apresentam dificuldade de atendimento e tratamento.”
Luciana alerta para que o paciente não deixe a doença amadurecer para só depois procurar o tratamento. “A catarata dura só traz mais riscos de complicações e piores resultados pós operatórios.” Por isso, é preciso ficar atento à piora da qualidade de visão ou ofuscamento em condições de menor luminosidade, ao entardecer ou em dias extremamente ensolarados, por exemplo. A cirurgia traz diversos benefícios para o paciente, impactando a qualidade de vida, a autoestima e a saúde mental.
“O paciente pode não notar a queda na qualidade da visão e até se acostumar a ela. Porém, a qualidade da visão, a visão de cores, percepção de detalhes e visão noturna podem interferir em diversas atividades, como dirigir, ler, costurar… Quando a visão já não melhora com a troca dos óculos e gera insegurança nas atividades cotidianas, normalmente se aproxima a hora de operar”, aponta a médica.
Catarata
Dúvidas frequentes
1. O que é catarata?
A catarata é uma condição ocular em que o cristalino, lente natural dos olhos, se torna opaco, levando à perda da qualidade e da quantidade de visão. É comumente associada ao envelhecimento, mas também pode ser causada por traumas oculares, uso de medicamentos, doenças metabólicas, inclusive o diabetes. A catarata também pode estar presente em bebês, ao nascimento, sendo chamada catarata congênita. Pode ocorrer devido a alterações genéticas ou devido a infecções intrauterinas. A forma mais comum de catarata, portanto, é a senil, e a opacificação do cristalino acontece de forma natural e progressiva, normalmente após os 50 anos de idade.
2. Quais são os sintomas?
Visão turva ou borrada; dificuldade de enxergar à noite; sensibilidade à luz; presença de halos em volta das luzes; desbotamento ou alteração das cores; e visão dupla. Nos estágios iniciais, a catarata pode não apresentar sintomas.
2. Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da catarata é feito pelo médico oftalmologista, geralmente durante a consulta anual de rotina. Para isso, é necessário realizar alguns exames oftalmológicos.
3. Há maneiras de prevenir?
Não há como prevenir a catarata. O envelhecimento do cristalino é uma progressão natural, ou seja, todos nós teremos um dia catarata. No entanto, existem medidas saudáveis que podem adiar a perda de qualidade da visão por catarata. São elas: não fumar; proteção solar com óculos escuros com proteção UVA e UVB; fazer consumo de álcool com moderação; evitar uso de medicamentos como corticoides; prevenção da obesidade; tratamento e controle da diabetes; e ter uma alimentação saudável rica em frutas e verduras.
4. Existe limite de idade para fazer a cirurgia?
Não existe um limite máximo de idade para que o paciente seja submetido à cirurgia de catarata. Há diversos casos de pessoas com mais de 90 anos que realizaram o procedimento com sucesso e melhoraram a qualidade de vida.
Fonte: Luciana Costa Cunha, oftalmologista