O que é envelhecimento ativo?

Por Jose Anisio Pitico

Nossa educação social e pública reforça preconceitos, mitos e tabus sobre o processo de envelhecimento humano. Considerando esse período da existência como sendo uma fase somente de perdas e mortes, as mais variadas possíveis, desde despedidas de pessoas queridas, de sonhos, possibilidades e conquistas futuras. Mesmo com a realidade contemporânea do aumento da longevidade, ainda é muito pouco ou quase são inexistentes os estímulos sociais, familiares e comunitários para o crescimento pessoal na velhice. Não temos uma proteção social robusta e firme para envelhecermos com segurança e qualidade de vida. Esse quadro de Alzheimer social e político em que estamos tem que mudar.

Com a conquista de mais tempo de vida, precisamos fazer com que esse ganho considerável de mais anos à vida seja revertido em favor de um envelhecimento com cidadania, respeito e consideração social. Uma nova cultura sobre envelhecer vem sendo incrementada em nossas relações sociais e vai se fortalecendo em nossos dias, de enxergar novas curvas e novos roteiros nessa viagem. Precisamos caminhar para uma outra gestão sobre envelhecimento, deixar definitivamente para trás esses conteúdos carregados de negatividades, impossibilidades, medos e frustrações para um envelhecimento ativo.

A pergunta que dá nome ao título dessa coluna me motiva a fazer alguns comentários, prezada leitora e leitor, e fiquem à vontade para a manifestação de vocês sobre essa questão. A ideia que nós temos e que ainda prevalece em nosso meio social é a de que nosso envelhecimento não apresenta nada de ativo, somos considerados mortos-vivos. Porque, na maioria dos casos, não somos vistos, muito menos reconhecidos. Condição essa que nos causa indignação, vontade de mudar o rumo dessa história ideologicamente construída para não dar lugar social aos mais velhos, caminho de todos nós. E se temos mais vida pela frente é sinal de que podemos fazer um novo futuro no desejo de termos uma cidade para todas as idades.

Envelhecimento ativo é aquele que exige do discurso público políticas públicas ativas para os seus cidadãos idosos e cidadãs idosas. Ativas na parte física, econômica, social, emocional, espiritual. Portanto, em todas as áreas de desenvolvimento humano. O envelhecimento ativo é um novo modo de envelhecer, que sai da esfera privada e particular da família para ganhar a atenção pública da cidade e o comprometimento público da representação política. O envelhecimento ativo tem também suas repercussões no campo individual de todos nós, enquanto tomada de consciência para a mudança de nossos hábitos de vida. Mas enquanto coletividade, cabe ao Estado a promoção e garantia de um envelhecimento ativo para todos nós. Tanto é assim que as principais agências internacionais e nacionais de geriatria e gerontologia vêm definindo diretrizes de trabalho social para os países e cidades na efetivação de programas sociais para as pessoas idosas buscando alcançar esse novo modo de envelhecer.

Também há que se ressaltar e fazer esse registro aqui de que as próprias pessoas idosas, parte delas, estão fazendo um outro tipo de envelhecimento. Principalmente as mulheres. Estão deixando de lado, aposentando o tricô e o crochê e estão buscando e fazendo um outro lugar para envelhecer na cidade. Mais ativas, sim. Muito mais. Podem observar que o envelhecimento por gênero também traz diferenças no comportamento nessa fase da vida. As mulheres (algumas) saem mais à frente. Os homens (alguns) relutam em sair da cadeira. Talvez eu possa arriscar em dizer, sem ter certeza de nada, de que o envelhecimento ativo dessas mulheres seja mais para fora, e o desses companheiros seja mais para dentro. Não sei. Só sei que podemos fazer diferente, envelhecer de outra forma da que está colocada para nós.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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