Mc Xuxú lança novo projeto ‘MAVAMBA’ e se reinventa mais uma vez na música
Mixtape está disponível nas plataformas digitais e marca fim de ciclo para a cantora, celebrando quem ela é
Com 35 anos de idade e mais de 15 de carreira, a trajetória de Mc Xuxú passou por vários estilos e momentos diferentes. Com músicas como “Um beijo”, “Bonde das Travestis”, “Desabafo” e “Quero ficar”, a artista juiz-forana já conquistou milhares de ouvintes pelo país – o que não a impediu de sofrer preconceitos e ter que atravessar várias barreiras em sua carreira. É reconhecendo a própria trajetória que nasce “MAVAMBA”, em um momento que a cantora e compositora precisou novamente se reinventar. Para isso, Xuxú revisitou músicas que fez nos últimos dez anos e pensou em nos novos caminhos que pretendia percorrer. A mixtape, que tem lançamento nesta sexta-feira (11) nas plataformas digitais, é definida por ela como um momento de encerramento de ciclo, celebrando quem ela é. “Mavamba significa marginal e malandra, tudo o que eu fui e o que eu tive que ser. Sempre fui marginalizada, mas para chegar até aqui, tive que ser malandra”, diz.
Essa mixtape começou a ser elaborada em um momento em que Mc Xuxú perdeu a sua conta no Instagram. A plataform, no contexto da pandemia de Covid-19, era sua principal ferramenta de trabalho. Depois de anos sendo independente e referência na cena cultural da cidade, Xuxú ficou sem qualquer trabalho remunerado. “Como eu já sabia que o funk e o rap já tinham me salvado algumas vezes na minha vida, apesar de ter ficado muito mal nessa época, por não poder ajudar em casa, resolvi usar a música pra me reerguer”, relembra. Nesse momento, no entanto, passou por um bloqueio criativo, conforme conta, e não conseguia escrever nada. Para voltar ao seu ritmo, resolveu misturar a própria história e resgatar criações antigas.
Ao longo do processo de criação e produção, que contou com a ajuda de amigos, sua inspiração foi voltando, e mais músicas foram sendo compostas do zero. Foi então que, com a aprovação no edital de cultural Fernanda Müller, da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), foi possível fazer a mixtape com mais tranquilidade, podendo ter uma remuneração justa para todos os artistas envolvidos. O projeto já visava a reinvenção e, portanto, a artista resolveu abrir também o leque de estilos musicais que trabalha, trazendo pela primeira vez o brega funk e o trap para o repertório. Ela já havia iniciado sua carreira no rap, e só depois migrado para o funk. “Acho que foi um amadurecimento que apareceu também nas letras que escrevo. Nunca fui a pessoa que coloquei a minha própria música nas festas ou que me via falando nas entrevistas, mas o ‘MAVAMBA’ tem me deixado satisfeita com todos os resultados”, conta
Esse processo, no entanto, provocou sentimentos diversos ao longo do tempo. “A mixtape surgiu no desespero, e foi acontecendo. Eu fiquei muito deprimida, muito mal mesmo, sem chão ou direção. Também senti raiva, porque se o mundo não fosse tão preconceituoso, eu não estaria sem a minha principal ferramenta de trabalho justo na pandemia, esse momento que eu estava precisando tanto usar. (…) Mas no processo, comecei a sentir esperança, por aparecer uma forma da gente conseguir realizar isso. E agora, com a mixtape saindo, estou feliz. Olho pra trás, vejo a minha trajetória e sei que nada disso foi fácil.” Para o lançamento da gravação, uma das ideias da artista, que gosta bastante de se inspirar no que vê nas redes sociais, foi trazer uma preview para pessoas que estavam em uma praça, e ver de perto a reação de cada um aos ritmos e versos que ela fez. Da mesma forma, contou mais sobre o seu processo para chegar onde está, que começou cantando “videokê” em casa e participando da Associação Posse de Cultura Hip Hop Zumbi dos Palmares.
O fim de um ciclo
Xuxú sabe que, entre as novas gerações de artistas de Juiz de Fora, frequentemente é citada como exemplo de quem conseguiu chegar longe. Mas não se esquece que, nesse caminho, foram muitas pessoas daqui que também a inspiraram e seguem sendo novos faróis para o seu talento, como Adenilde Petrina, RT Mallone, Laura Conceição, Dona Chapa e tantas outras pessoas. Reconhecer suas origens também é saber aonde pode chegar e, por isso, não deixa de destacar o papel da composição no seu sustento como artista. “Os direitos autorais me permitem me manter viva e viver do meu sonho.” Para ela, compor é uma parte essencial do trabalho, e inclusive recomenda que os artistas do ramo também mergulhem nesse processo de criação, seja fazendo novas versões de músicas que já existem ou ousando ainda mais.
Mas nesse ponto de sua vida, ela enxerga “MAVAMBA” como o “fim de um ciclo”, e ainda revela que pode ser o “último grande trabalho” que vai lançar. “Não estou falando isso para causar impacto, mas porque é muito difícil chegar até aqui e construir uma mixtape com várias faixas e muitos artistas envolvidos. É bem difícil mesmo, e a música está sendo consumida nos últimos anos de uma forma muito passageira. As pessoas escutam as músicas umas dez vezes ou no mesmo dia até enjoar, e depois param. Para uma artista independente como eu, com a minha idade, já não está valendo a pena”, explica. Como conta, enxerga que uma possibilidade para os seus próximos passos é fazer um trabalho que seja mais comercial. Mas entende a importância do papel da mixtape para fechar o que foi iniciado há bastante tempo. “Vai ser uma divisão de eras. Conta toda a minha história e, ao mesmo tempo, termina uma história. Não que eu vá parar, não penso nessas coisas. Mas não vou voltar a fazer com tanta intensidade, por conta dessa questão da música ser rapidamente descartada.”