Peça ‘Café com leite’ estreia no Teatro Paschoal Carlos Magno neste fim de semana
Espetáculo tem apresentações neste sábado e domingo, às 16h

Ser considerado “café com leite” em uma brincadeira, por exemplo, é quando alguém em específico não apresenta condições de acompanhar as regras ou de envolver-se do mesmo modo que as outras, mas é admitida em caráter “especial”. As ações do jogo nem valem verdadeiramente para quem está nessa categoria. Geralmente, essa expressão vale para quem é menor em meio a um grupo de crianças maiores, para quem está aprendendo a brincadeira ou mesmo para quem é muito ruim no que está sendo proposto pelo grupo. A peça “Café com leite”, então, se apropria do conceito e deixa livre a imaginação: o que aconteceria se uma criança resolvesse ficar nesse lugar em várias áreas de sua vida? É o que propõe a peça dirigida por Rafael Coutinho, que tem estreia marcada para este fim de semana, como apresentações no sábado (29) e domingo (30), no Teatro Paschoal Carlos Magno, às 16h. Os ingressos podem ser adquiridos pelo link do Instagram da peça (@cafecomleiteteatro) ou no Zine Cultural Praça Menelick de Carvalho, 150 – Centro), com valores entre R$ 20 e R$ 40.
A ideia da peça surgiu quando Coutinho fazia um exercício de escrita de extrapolação do personagem, e pensou na situação. Ele já trabalha com teatro há 20 anos, sendo também pedagogo e doutorando em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e por isso baseou a questão em experiências profissionais que já teve. Foi assim que surgiu a história da personagem Aninha, uma menina que vive a infância como um “estágio para vida adulta”, em que está sempre fazendo atividades e aprendendo várias coisas. “A Aninha tem uma vida direcionada pelos pais e pela escola. Ela é muito pressionada, a mãe dela a coloca para fazer todas as aulas possíveis. (…) É a ideia de que, se a criança não está fazendo nada, vai fazer aula para aprender tudo. Mas acaba que assim ela não tem tempo nem para brincar”, diz. A menina passa, então, a reverter essa lógica, resolvendo ser “café com leite” em todas as suas atividades.
Com temática infanto-juvenil, Coutinho destaca que a peça pode ser aproveitada por toda a família e que dialoga com questões importantes para a infância. “Falamos de forma bem-humorada sobre essas crianças que quase não têm tempo de serem crianças”, explica. A peça é destinada principalmente a crianças com idades entre 6 anos e 16 anos, mas também é uma pção para toda a família. Para o dramaturgo, o espetáculo é uma oportunidade de fazer com que as crianças que estavam afastadas do teatro se interessem mais por essa forma de expressão.
“Para eles, nada pode ser chato, se não a criança se dispersa e você tem que disputar a atenção com a imaginação dela. De repente, se a cena for chata, a poltrona do teatro já fica mais interessante”, explica. Por outro lado, acaba sendo isso também o que considera mais divertido em trabalhar com essa faixa etária: “É um público muito sincero e transparente, que reage com verdade. É um campo que você pode ser profundo e brincar com facilidade.”
Textos autorais e temas contemporâneos
Em suas peças, Rafael Coutinho gosta de trabalhar com textos autorais e temas contemporâneos seja qual for o público. Para ele, essa é uma forma de trazer novidade para os palcos, fazendo com que o público tenha contato com algo diferente e distante do óbvio. “Acho que a sociedade está muito ensimesmada, fica repetindo as coisas que já conhece, vai em festa para ouvir as músicas que já gosta. Para criança, isso é pior ainda, e eu acho que uma das funções do artista é mostrar a criatividade e a surpresa”, diz. Em sua visão, há várias coisas no cotidiano das pessoas que podem ser discutidas na arte, inclusive no que é voltado para as crianças É uma forma, para ele, de não subestimar a inteligência da criança. “Não podemos deixar que sejam só espectadores passivos que já saibam o que vão encontrar”, afirma.
Para conseguir esse resultado, no entanto, ele precisou lidar com desafios, porque entre os atores, a maioria não estuda mais em Juiz de Fora, então os ensaios muitas vezes aconteceram após todos terem que pegar a estrada. “Quando nos encontrávamos, precisávamos ficar bem imersos na experiência, já que tínhamos pouco tempo. Então foi tudo bem intenso”, explica. O projeto conta, ainda, com direção de produção e composições musicais de Jeann Cavallari, figurino de André Monteiro, e Giovanna Stehling, Jeann Cavallari, Beatriz Lira e Christiam Concolato no elenco.
Foto: Divulgação Peça ‘Café com leite’