ESG: pequenas empresas investem em ações sustentáveis
Exemplos em Juiz de Fora mostram que práticas ligadas ao conceito ESG engaja clientes e colaboradores
“Environmental, Social and Governance”, ou apenas ESG. A sigla em inglês, cuja tradução significa ambiental, social e governança, pode remeter a um conceito complexo, voltado para grandes corporações. A verdade é que a ideia por trás desse tipo de abordagem é muito mais simples do que parece e pode – e deve! -, ser implementada também em pequenos negócios, com exemplos inclusive em Juiz de Fora.
Desde separar o lixo para coleta seletiva até optar por fontes de energia limpa, o ESG abarca ações cotidianas que os pequenos negócios são capazes de adaptar à sua cultura. Como explica a analista do Sebrae Minas Daniela Ferreira, é possível integrar as práticas de ESG a qualquer tipo de negócio. “Se eu tenho um restaurante ou um bar que faz batata frita, por exemplo, eu posso guardar o óleo utilizado e destinar para reciclagem. No caso de uma confecção, ela pode reutilizar os retalhos de roupas e dar um destino que não traga consequências negativas ao meio ambiente.”
A sigla surgiu pela primeira vez em 2004, em um relatório feito pelo Pacto Global, braço da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem objetivo de convencer investidores sobre práticas sustentáveis. Segundo Daniela, hoje em dia há um movimento crescente de empresas aderindo a tais estratégias para se tornarem mais éticas com os clientes, que têm mudado seus hábitos de consumo. “Atualmente, o cliente pesquisa muito mais sobre a empresa para saber se ela está de acordo com seus princípios. A adoção do ESG é uma resposta a esse novo padrão de consumo e também um enfrentamento às questões ambientais cada vez mais urgentes.”
Benefícios do ESG para pequenos negócios
Conforme o Sebrae, as instituições financiadoras têm preferido alocar capital em organizações que já internalizaram agenda ambiental, social e de governança. Além de financiamento mais fácil, dentre os benefícios há a possibilidade de redução de custos e aumento da rentabilidade. Práticas ambientais, como diminuição do consumo de água e energia, por exemplo, têm potencial para gerar economia. Além disso, empresas com boas práticas de ESG correm menos riscos de enfrentar problemas jurídicos, trabalhistas, fraudes e sofrer ações por impactos ao meio ambiente.
Outro ponto positivo é o marketing. Como explica Daniela, o negócio deve ressaltar o bom exemplo para os clientes. “É importante deixar isso claro para o cliente. Chamar atenção para a reciclagem que é feita. Ou, por exemplo, se eu busco reduzir a quantidade de plástico nas embalagens, explicar o porquê disso estar sendo feito. Com certeza a empresa vai causar uma boa impressão para esse cliente que já está de olho nessas mudanças.”
Impacto social
Para além de uma cultura que vise ao cuidado com os recursos naturais, empresas com o ESG em sua formação têm um olhar mais cuidadoso com as pessoas à sua volta. Conhecer os fornecedores, manter um bom ambiente de trabalho, com diversidade, remuneração justa e dignidade aos funcionários são exemplos do “social” no conceito de ESG.
Existem organizações que vão além e atuam de forma direta no desenvolvimento da comunidade na qual está inserida. A Ciclo é uma delas. Criada em 2021, a startup foi responsável por reciclar 8 mil toneladas de vidro em dois anos. Além do impacto ambiental, a empresa também atua na geração de empregos, priorizando a contratação de catadores e pessoas em situação de rua. Mais de mil catadores são beneficiados indiretamente, já que a Ciclo compra o material reciclável de cem associações.
Conforme o fundador da Ciclo, José Flávio Gouveia, desenvolver técnicas de ESG em pequenas empresas ainda é um desafio, porém necessário para a manutenção e sobrevivência dessas em um médio e longo prazo. “Não importa muito o tamanho, é mais a forma de você olhar aquela empresa no médio e longo prazo. As empresas sustentáveis não vão sobreviver sem visar quais impactos elas causam nas regiões onde estão atuando. Qualquer empresa que pensa em um futuro precisa analisar em seu planejamento como vai trabalhar os impactos nas áreas do ESG, sejam eles positivos ou negativos, pensando sempre em uma forma de construir algo melhor.”
Foco na educação ambiental
Mesmo sem ter conhecimento da nomenclatura, a Eclo surgiu em 2020 já com os conceitos de ESG nos objetivos da organização. A empresa de compostagem urbana atua com clientes físicos e empresas em Juiz de Fora. Luísa de Carvalho, fundadora da Eclo, afirma que um dos princípios é oferecer retorno para os clientes reforçando o processo cíclico da compostagem. “Mensalmente a gente entrega uma recompensa para os nossos clientes. Seja algo que é resultado do processo de compostagem, seja algum produto de empresas locais. A gente observa que isso resulta em uma fidelização muito maior dos clientes, além de um senso de importância e pertencimento com a cultura e os ideias da Eclo.”
Publicitária de formação, ela afirma que não iniciou a Eclo especializada nos conceitos da sustentabilidade. “Eu fui aprender as questões, as importâncias e os termos já na Eclo. Mas desde o início a gente tinha a visão da sustentabilidade como um fator estratégico para a empresa.” Com foco na educação ambiental, a Eclo promove ações não apenas para os clientes, mas também para os colaboradores. “A gente vê a nossa iniciativa como uma sementinha de um processo maior, que é passar para os funcionários e entrar na cultura das empresas com a sustentabilidade nas pequenas atitudes. Buscamos também incentivar a cultura local, com os pequenos empreendedores. Muitos dos nossos fornecedores são locais, e damos prioridade a isso.”
Fórum ESG
Para estimular o debate e a conexão entre empresas que adotam boas práticas ambientais, sociais e de governança, o Moinho, polo de empreendedorismo de Juiz de Fora, promove mensalmente o Fórum ESG. Participam instituições da cidade e região que abordam temas relacionados aos pilares do conceito. O próximo encontro será no dia 26 de julho, às 19h, no Moinho. A conversa será sobre crédito de carbono, apresentada por André Castilho, advogado e mestrando em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e pela Universidade de Lyon 2, da França.
A coordenadora do fórum, Carmem Calheiros, ressalta a relevância das discussões do evento. “Empresas de todos os segmentos e portes podem e devem implementar as ações possíveis de ESG. É preciso começar, e rápido. Os especialistas já nem falam mais em sustentabilidade, mas sim em regeneração, porque já convivemos com um grande passivo ambiental e social. As mudanças climáticas estão aí para exemplificar a urgência dessa necessidade de produzirmos e consumimos de forma mais consciente. Em Juiz de Fora, temos pequenas empresas e startups que estão nascendo já alinhando lucro e propósito.”