Feira Cultural dos Refugiados acontece na Praça da Estação neste sábado

Evento vai reunir artesanatos, artigos e comidas de diferentes nacionalidades; conheça alguns produtos que serão vendidos


Por Nayara Zanetti

22/06/2023 às 07h34

FEIRA DOS REFUGIADOS Ledis Franco Felipe Couri

A segunda edição da Feira Cultural dos Refugiados acontece no próximo sábado (24) na Praça da Estação, das 10h às 16h, em comemoração ao Dia Mundial do Refugiado, celebrado na terça-feira (20). O evento, promovido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) e pelo Comitê de Elaboração e Acompanhamento do Plano Municipal de Políticas para a População Migrante, Refugiada, Apátrida e Retornada, contará com mais de 20 tendas com artesanatos, artigos e comidas de diferentes nacionalidades.

Quem passar pela barraquinha da família Velasco vai encontrar uma variedade de produtos típicos da Venezuela, desde “harina pan”, uma farinha de milho pré-cozida usada para fazer receitas venezuelanas, até comidas prontas como arepas (pães), hallaca (tortas recheadas), chicharrón (torresmo) e as famosas empanadas.

A matriarca Maribel Velasco vivia em Bolívar e veio para Juiz de Fora em 2018, por meio da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), atrás de sua filha, que disse que ela iria gostar do clima da cidade. Antes, Maribel estava morando em Boa Vista, capital de Roraima, depois de cruzar a fronteira, assim como muitos venezuelanos. Depois, sua mãe e seus outros filhos vieram para a cidade. Hoje, 18 pessoas moram aqui.

“É uma barraca familiar, eu dou apoio aos meus filhos, à minha nora e ao meu genro, que trabalham todos os dias aqui. Nós preparamos todas as comidas em casa, cada um faz algum prato. São produtos que não se encontram com facilidade no Brasil e eu quero que não se perca a nossa culinária, de onde eu venho. Eu não quero que meus netos percam a cultura. Lá em casa se fala espanhol e português também”, conta Maribel.

Incompatibilidade de datas

A família de Maribel vai se dividir para participar da feira no sábado, já que a data escolhida acontece no mesmo período em que a Feira de Economia Popular Solidária, que está sendo realizada a semana toda no Parque Halfeld. No entanto, com a incompatibilidade da data, a venezuela Ledis Franco não vai conseguir ir à Praça da Estação vender seus artesanatos. Ledis é engenheira petroquímica, mas já trabalhava como artesã em Maturín, cidade em que morava na Venezuela, e aqui, por mais que note ser difícil encontrar os mesmos materiais, continua produzindo bijuterias e semijoias.

“Acho que é muito importante ter essas ações de apoio a produtores, que vivem da arte e de produtos artesanais, porque nos ajudam a divulgar nosso trabalho. Mas também acho que existem poucas iniciativas. Nós que vivemos disso precisamos de mais eventos, mais feiras e mais oportunidades, precisamos que isso seja mais frequente e não esperar uma data para promover o nosso trabalho artesanal e cultural”, aponta Ledis.

Neira Muños participou no ano passado da feira, mas também não vai conseguir ir neste ano porque precisa ficar na Feira de Economia Popular Solidária. Ela vende pães, e a alternativa que encontrou foi dividir barraca com uma amiga: cada uma vai comercializar o produto da outra em uma das feiras.

FEIRA DOS REFUGIADOS Neira Munos Felipe Couri
Neira Muños não poderá estar na feira, mas mandará seus pães para serem comercializados por uma amiga (Foto: Felipe Couri)

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Ablo, toffee, adóyô e thiakry: a culinária africana

Há quatro anos, Elfy Deguenon vive em Juiz de Fora. Ela nasceu no Benin, país da África Ocidental, e veio para o Brasil pelo programa PEC-G, que oferece oportunidades de estudo gratuito nas universidades brasileiras, para estudar farmácia na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Elfy vai aproveitar a feira para vender comidas típicas da sua cultura, como o ablo, o toffee, o adóyô e o thiakry. Cada um dos pratos tem origem em um país do continente africano. O ablo, como explica Deguenon, era tradicionalmente servido durante a festa da Pedra Sagrada dos Guins, que tem o objetivo de prever os acontecimentos do ano seguinte. “Hoje em dia o ablo tem um grande sucesso e é presente em quase toda a África, sobretudo ocidental. Ele é muito consumido durante o lanche da tarde e em eventos importantes como casamento e batismo.”

O adóyô é uma bebida típica do Benin, feita por meio da fermentação de milho – ou pode se usar também a casca de abacaxi. Geralmente é consumido após o almoço. Já o toffee seria parecido com o nosso brigadeiro, mas só que crocante. “O thiakry é uma sobremesa de origem do Mali, mas muito conhecido no Senegal e na África Ocidental. A receita se baseia na mistura de farinha de sorgho e iogurte. É muito apreciado, já que o sorgho é um cereal sem glúten e rico em fósforo, ferro e cálcio”, explica.

Para Elfy, a feira é uma oportunidade de mostrar o seu trabalho e, principalmente, as diversidades culturais de cada país. “Geralmente, tem muito estereótipo, e essa é uma ocasião de tentar quebrar um pouco essas ideias aleatórias criadas pelo povo. A comida cria uma memória nos consumidores tanto no sabor quanto na história por trás do prato degustado”, acredita a estudante.

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