Semana de quatro dias de trabalho será testada no Brasil
Empresas interessadas em participar já podem tirar dúvidas sobre projeto ‘4 Day Week Global’
Em busca de manter a mesma produtividade e obter os mesmos resultados em um tempo menor de trabalho, o experimento global “4 Day Week Global” (em tradução livre “Quatro dias por semana”) chegou ao Brasil e realizará testes em empresas locais. Entre junho e julho, haverá sessões de esclarecimento para os interessados em participar do experimento, que já conta com iniciativas de pesquisa em países como Estados Unidos, Canadá, África do Sul e Reino Unido.
No Brasil, os testes acontecem em parceria com a empresa Reconnect Happiness at Work, especializada em felicidade no trabalho e liderança positiva. O modelo a ser testado aqui será focado em manter a produtividade e os salários a 100%, porém, com os colaboradores trabalhando 80% do tempo. Ao final, o experimento busca demonstrar resultados melhores na saúde e bem-estar dos funcionários, além de propor uma forma de trabalho mais sustentável.
De acordo com a diretora da Reconnect Happiness at Work, Renata Rivetti, durante junho e julho, o experimento vai tirar dúvidas dos interessados, mostrando a metodologia do estudo e como os testes irão funcionar. Em agosto, inicia-se o cadastramento das empresas para, em setembro, iniciar a preparação para o piloto, com pesquisas quantitativas a fim de levantar métricas dos participantes e realização de master classes. Em novembro, o experimento se inicia, efetivamente, com duração de seis meses.
“O que temos reforçado muito é que não é só tirar uma sexta-feira, e por isso precisa toda essa preparação e metodologia. A ideia é que as empresas possam manter a produtividade 100%, trabalhando 80% do tempo e ganhando 100% do salário. Então é uma combinação entre a empresa e o colaborador em que ele se compromete durante quatro dias da semana a manter os resultados e a produtividade para poder ter esse dia de benefício extra”, explica.
As empresas interessadas em fazer parte do experimento podem acessar o site do projeto, onde é possível enviar dúvidas sobre a iniciativa. Haverá um custo para participar do experimento, que ainda não foi definido. A taxa possibilitará acesso à plataforma do piloto e a uma biblioteca de conteúdos, segundo Renata, além de contribuir para que o 4 Day Week Global se mantenha.
Testes globais apresentam resultados positivos
O “4 Day Week Global” se iniciou em 2018 e ganhou forças com a pandemia da Covid-19, quando as pessoas precisaram passar mais tempo em suas casas, trazendo novas reflexões sobre as formas de trabalho. Nos outros países em que o projeto foi testado, as organizações que fizeram a transição para uma semana de trabalho de 32 horas notaram aumento na produtividade, maior atração e retenção de talentos, envolvimento mais profundo do cliente e melhor saúde, bem-estar e felicidade dos colaboradores, de acordo com informações do experimento. Em novembro, a Tribuna publicou reportagem mostrando que algumas empresas brasileiras, inclusive em Juiz de Fora, já vêm adotando o modelo.
Conforme Renata Rivetti, diretora da Reconnect, o 4 Day Week Global, além de trazer benefícios para a saúde mental dos colaboradores e para a relação dos mesmos com as empresas, também tem demonstrado resultados em questões sociais. “Tem diversos ganhos como, por exemplo, de equidade de gênero. Muitos homens que participaram do piloto começam a ser mais participativos na família, nos cuidados domésticos, então vemos também um benefício para a sociedade. Hoje, nós vemos que o piloto é bom para a empresa, para o colaborador e para nós como sociedade.”
O The 4-Day Week Global conta com o auxílio de pesquisadores das universidades de Oxford (Inglaterra), Pensilvânia (EUA), Harvard (EUA), Boston (EUA) e Auckland (Nova Zelândia). A ideia é incentivar empresas a criar novas formas de trabalho que possam contribuir para melhora na produtividade, na saúde dos funcionários, e, também, para desenvolver um ambiente de trabalho mais sustentável.
Desafios
Para Renata, um dos maiores desafios para implementação deste modelo de trabalho no Brasil é desmistificar o ‘glamour’ em relação ao excesso de trabalho. “No final, a produtividade não é igual a horas trabalhadas, pelo contrário, temos visto vários indicadores de que o Brasil tem uma baixa produtividade apesar da sobrecarga”, aponta. “Nós temos hoje um excesso de reunião, distrações várias vezes durante o dia, comunicação que muitas vezes é falha, existe toda uma forma de como atuamos que precisa ser revista”, destaca.