PaĆs conectado
Com um dos maiores Ćndices de conexĆ£o, o paĆs ainda discute regras para regular, pelo menos, a aĆ§Ć£o das big techs, responsĆ”veis pelo conteĆŗdo que circula pela rede mundial
O Brasil Ć© um dos paĆses com maior conectividade do mundo, de acordo com pesquisa sobre o uso de tecnologia da informaĆ§Ć£o e comunicaĆ§Ć£o dos domicĆlios brasileiros, lanƧada na semana passada pelo ComitĆŖ Gestor da Internet no Brasil. Pelos nĆŗmeros, o uso da internet pelo telefone celular predomina entre as mulheres (64%), entre os pretos (63%) e pardos (67%), entre aqueles pertencentes Ć s classes D e E (84%). Ao todo, o paĆs atingiu a marca de 149 milhƵes de usuĆ”rios de internet, dos quais 142 milhƵes acessam a rede todos os dias ou quase todos os dias.
Um dado chamou a atenĆ§Ć£o, sobretudo por ser emblemĆ”tico: apenas 37% das pessoas que acessam a rede pelo celular checam as informaƧƵes recebidas. Esse nĆŗmero sobe para 51% na mĆ©dia geral e para 74% entre os usuĆ”rios que se conectam por mais de um dispositivo como celular e computador. Um dos argumentos mais adotados por aqueles que utilizam aplicativos de mensagem Ć© a limitaĆ§Ć£o de informaƧƵes que lĆ” aparecem e nĆ£o hĆ” dados mĆ³veis suficientes para se abrir a matĆ©ria completa. āIsso, certamente, tem impactos para esses usuĆ”rios e para a sociedade como um todo, como vimos observando nos Ćŗltimos anosā, destaca o coordenador da pesquisa, FĆ”bio Sotorino, analista de informaƧƵes do Cetic.br e NIC.br.
Os dados tĆŖm importante influĆŖncia no momento em que o Congresso tenta aprovar uma lei de combate Ć s fake news, embora ante forte resistĆŖncia dos defensores do livre direito de opiniĆ£o expressĆ£o. O texto, relatado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) jĆ” passou por vĆ”rias mudanƧas e ainda nĆ£o hĆ” um consenso sobre o resultado ideal. A votaĆ§Ć£o vai ocorrer na base da maioria.
O fato de uma expressiva parcela nĆ£o checar as informaƧƵes pode ser a matriz para uma sĆ©rie de problemas, jĆ” que nĆ£o se estabelece um mĆnimo de dĆŗvida em torno do que chega ao receptor. O paĆs, com as redes sociais, tem muitos comunicadores, mas nĆ£o necessariamente personagens que trabalham com checagem de dados. Boa parte replica o que recebe sem avaliar, pelo menos, as consequĆŖncias.
O uso da rede mundial ainda Ć© um desafio para todos os paĆses e nĆ£o apenas o Brasil. A Europa tem uma cultura de regulaĆ§Ć£o, mas nos EUA, onde se encontra a maioria dos usuĆ”rios, tem uma visĆ£o diversa, como ocorreu tambĆ©m na semana que ora termina, com uma decisĆ£o da Suprema Corte isentando o Twitter e o Google em processos que argumentavam que as companhias deveriam ser responsabilizadas por incentivar o terrorismo ao abrigarem conteĆŗdos prĆ³-Estado IslĆ¢mico.
A discussĆ£o no Brasil estĆ” focada basicamente nessa questĆ£o: o livre direito de expressĆ£o independente de seu conteĆŗdo versus a regulaĆ§Ć£o, para impedir as perversidades que circulam no territĆ³rio livre da internet sem qualquer tipo de controle. Trata-se de um impasse com forte viĆ©s ideolĆ³gico que precisa ser resolvido pelo Congresso.
Os europeus jĆ” criam regras para regular a prĆ³pria InteligĆŖncia Artificial, temendo danos futuros que ainda, sequer, foram registrados. Preventivamente, nĆ£o querem arriscar. No caso brasileiro, o foco passa necessariamente pelas fake news e por suas consequĆŖncias tanto na populaĆ§Ć£o quanto no processo democrĆ”tico.