“Livros sim, armas não” pedem os estudantes. Eles também não querem detectores de metais nas portas das escolas, nem a presença de militares na entrada da frente. Não querem estabelecimento de segurança máxima. O problema, pensam eles, não será resolvido dessa forma. Os alunos e as alunas só querem que a escola seja escola. Não querem gaiolas, querem asas. Quem fica preso desaprende a voar. A escola é para ensinar voo livre. Se assim não for, é porque escola já deixou de ser.
Também não é um local para se ter medo de ir. Pelo contrário, é lugar de acolhimento, de encontro, de diálogo, de fazer laços, de criar memórias e de gerar afetos. A escola é um local para o qual sempre se deseja ir e ficar, para ter vontade de voltar. É onde as amizades são construídas para uma vida inteira. De onde temos lembranças de dias incríveis ao lado de colegas e de professores. De onde espera-se que saiamos mais preparados para lidar com a vida e com os outros.
Mas, nos últimos anos, muito se tem dito contra a escola. Transformaram-na no bode expiatório da vez, e ensinaram os jovens a gravar professores e a medir força com eles. Trataram a escola como inimiga, colocando lenha na fogueira do ódio. Tudo isso torna-se ainda mais inflamado com a presença do bullying. O resultado é este cenário devastador que temos hoje: violência e pânico no ambiente escolar. “Massacre”, “revólver”, “tiro”, “machadinha”, “ataque” e “ameaça” são palavras que passaram a fazer parte do vocabulário de crianças. São termos que circulam nos grupos de WhatsApp e foram incorporados pelos estudantes junto com o medo, afetando toda a família. Qual o pai e qual a mãe que não hesitaram antes de mandar o filho para a escola diante de uma nova lista divulgada na rede?
Como explicar para uma criança que ouviu de outra criança a história de um menino de 13 anos que usou uma faca para matar a professora dentro da sala de aula? Não é fácil, mas especialistas da área de psicologia defendem que o melhor é não esconder a verdade e acolher o sentimento dos filhos, estando sempre prontos a ouvi-los e atentos aos sinais de que possam estar assustados.
Havia um tempo em que, quando chegavam até nós notícias sobre gente atirando com arma de fogo dentro de escolas nos Estados Unidos, pensávamos que isso não fazia parte da nossa realidade. Mas já não é bem assim. Dados apontam que 22 ataques a escolas brasileiras foram registrados entre outubro de 2002 e março de 2023. A metade deles ocorreu nos últimos dois anos. Já é hora de acender o sinal, pois os números mostram a necessidade de ações efetivas.
Estudiosos ressaltam que é preciso olhar para essa violência tendo em conta questões sobre saúde psicológica, que devem receber a mesma relevância da abordagem que perpassa a segurança pública. Mas acima de tudo, também é preciso que nós, enquanto coletivo, façamos a reflexão acerca do tipo de educação e de sociedade que queremos ter. Não dá para pensar a escola sem que seja lugar de convivência pacífica, de respeito às diferenças, de prática de gentileza, de solidariedade e, claro, de aprender.