“Sentimento de tristeza profunda pela morte de alguém”. É assim que o dicionário conceitua a palavra luto. Somos continuamente um país em luto. A morte da professora Elisabeth Tenreiro, depois do ataque à Escola Estadual Thomazia Montouro, em São Paulo, colocou-nos frente a frente com muitos motivos para que estejamos enlutados. Somos uma sociedade continuamente triste.
Sentimos tristeza pelas nossas crianças, pelos nossos professores, pelas nossas escolas, pela nossa segurança deficitária, pela nossa paz perdida, pelo nosso futuro incerto, pela nossa falta de oportunidades e também por tudo aquilo que gostaríamos de ser, enquanto corpo social, mas ainda não somos.
Quando um aluno de 13 anos mata uma professora, é porque ainda estamos muito longe de sermos qualquer coisa para o bem de todos. Além do luto, fica um sentimento de impotência. De não saber de onde tirar forças para que tenhamos condições de transformar a vilania dessa realidade em algo que seja nobre.
Impossível não sentir essa perda. A morte dessa professora e todas as outras mortes que poderiam ser evitadas em casos de violência e o ataque à escola, que se soma a outros episódios acontecidos aqui no Brasil, tiram o nosso chão. Faz a gente se desconhecer enquanto povo, já que esse tipo bestialidade não fazia parte do passado do nosso cotidiano e, agora, já começa a parecer que sim.
Diversas reportagens que abordaram o tema trouxeram a informação de que, desde o ano 2000, são 16 ocorrências de ataque às escolas brasileiras. Desse total, quatro aconteceram nos últimos seis meses do ano passado. Em todos os episódios, as armas foram trazidas de casa. Tudo isso diz muito sobre o caminho perigoso que nossa sociedade vem escolhendo trilhar. Existe alguma coisa de deliberado em cada uma dessas investidas contra as escolas. A desvalorização dos trabalhadores da educação e o ódio imputado aos docentes, que nos últimos anos foram transformados em inimigos públicos por determinadas parcelas da sociedade, são questões que não ficam inocentes nessa trágica história.
Além disso, será que só conseguimos absorver o que há de pior da cultura violenta de outros países? Poucas horas depois do assassinato a facadas da professora Elisabeth, uma escola na cidade de Nashville, nos Estados Unidos, foi alvo de uma mulher com uma arma e dois rifles. Ela matou três crianças e três funcionários. Os jornais estadunidenses mostraram que esse foi o 13º ataque à escola registrado este ano, que só conta, praticamente, com apenas três meses. Essa soma é assustadora, mas também serve de alerta para que, aqui, providências comecem a sair do papel, a fim de que tal violência não seja recorrente.
Além de ações para combater esses atos violentos, como mais segurança nos estabelecimentos de ensino, é preciso pensar na prevenção. Ampliar e efetivar programas de acolhimento para crianças e jovens que se sentem inapropriados e sem possibilidade de vislumbrar um futuro melhor. É preciso evitar que nossas crianças e jovens sejam presas fáceis da cultura do ódio.
Para terminar, recorro à fala da docente Cinthia da Silva Barbosa, que imobilizou o aluno responsável pela morte da educadora Elisabeth. Em entrevista a jornalistas após o triste acontecimento, ela disse que o que fica da professora morta é o amor que ela compartilhou com todos que convivia. Para nós, fica o desejo de que esse amor seja semente.