Sem Castramóvel, população de JF precisa buscar outras alternativas para castração de animais

Tribuna elenca instituições que fazem o serviço de forma gratuita ou a preço social em Juiz de Fora; controle populacional de animais é questão de saúde pública, alerta especialista


Por Pâmela Costa*, sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

26/03/2023 às 07h06- Atualizada 27/03/2023 às 14h55

É certo que todo animal merece ser bem cuidado e receber carinho. Nesse sentido, para evitar o abandono animal, a castração aparece como uma aliada para evitar o nascimento de novos animais que possam vir a sofrer com o abandono ou com a vivência nas ruas mais tarde. Mas com a inatividade do serviço de castração móvel da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), a população de Juiz de Fora precisa buscar outras alternativas para obter o serviço de forma gratuita ou a preço social na cidade. Por isso, a Tribuna selecionou locais que fazem esse trabalho de forma acessível para ajudar tutores de gatos e de cachorros.

As castrações feitas pelo Município estão paradas desde dezembro de 2022, quando o último convênio com uma clínica responsável pelo Castramóvel chegou ao fim. Desde então, de acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), a Administração municipal passou a realizar os trâmites licitatórios para a celebração de um novo convênio. Segundo a Prefeitura, este processo já foi finalizado, mas ainda estão em curso as diligências do convênio com o consórcio Ampar. Somente após o término destas diligências é que haverá o retorno do Castramóvel. A PJF não estimou datas.

Até 28 de fevereiro, no Canil Municipal da própria PJF, 889 animais, entre cães e gatos, estavam à espera de adoção. O alto número demonstra a necessidade de castração, já que a diminuição de novos animais nascendo contribuiria para que essa quantidade não aumentasse futuramente. Segundo a Prefeitura, somente em 2022, 1.070 animais foram castrados pelo Município.

O número, entretanto, não supriu toda a demanda de castração da cidade. Conforme o deputado estadual Noraldino Júnior (PSC), que tem ligação com a área de proteção animal, uma emenda direcionada à Prefeitura no valor de R$ 1.450.000, transferida nos anos de 2020 e 2021, foi destinada à realização de mais de dez mil esterilizações de cães e gatos na cidade. Em abril de 2022, no entanto, ele enviou um documento à prefeita Margarida Salomão (PT) relatando que não teria tido retorno da gestão municipal “quanto à utilização dos recursos destinados, sequer do quanto foi aplicado na pasta ou ainda em que ações foram gastos os valores”, diz, no ofício. Procurada, a Prefeitura disse que a emenda em questão, por ter sido enviada como transferência especial, não possuía objeto definido. O órgão do Executivo alegou, também, que todo o valor foi destinado à causa animal, “sendo parte investida no serviço de castração”, concluiu a PJF.

Ainda de acordo com o Município, os recursos captados com essa verba foram destinados ao emprego de ração, medicamentos e serviços veterinários como um todo. “Visando à transparência no processo, os cadastros já existentes em gestões anteriores foram triados, e os novos pedidos de castração foram realizados por meio plataforma digital da Prefeitura de Juiz de Fora, Prefeitura Ágil, garantindo a transparência”, esclareceu.

O vereador Marlon Siqueira (PP) também direcionou emendas parlamentares para a castração de animais, conseguindo viabilizar a compra e equipagem de um novo castramóvel por meio de uma emenda parlamentar do deputado federal Dimas Fabiano (PP). Porém, o serviço não está em funcionamento. O vereador cobra a Prefeitura. “Tínhamos, no passado, um ônibus da Prefeitura que ia aos bairros fazendo essa esterilização. De 2016 a 2020, foram mais de 22 mil castrações por este serviço. Consegui a emenda para compra do novo equipamento, que precisa voltar a funcionar imediatamente. A Organização Mundial da Saúde preconiza a castração como o método mais eficiente e sustentável de controle populacional de animais e de zoonoses. A demanda está enorme e precisa ser atendida.”

Opções de serviços disponíveis

Entre as alternativas para a realização de castrações enquanto o Castramóvel não volta a funcionar está a Universidade Federal de Juiz de Fora. A Clínica Veterinária de Ensino da UFJF, ligada ao curso de graduação em Medicina Veterinária, tem aulas práticas e projetos de extensão, por meio dos quais é possível solicitar o serviço, que é feito apenas mediante triagem socioeconômica. Os procedimentos são realizados mediante cadastramento na plataforma Prefeitura Ágil.

Outra possibilidade é a Organização da Sociedade Civil – Aliança Juiz-forana pela Defesa dos Animais (Ajuda), apadrinhada pelo deputado Noraldino Júnior. Por meio do encaminhamento de emendas parlamentares, a organização realizou cerca de 2.496 castrações pelo castramóvel e 5.350 pelas clínicas entre 2021 e 2023, sendo mais de 15 mil procedimentos nos últimos três anos, todos realizados de forma totalmente gratuita, somente em Juiz de Fora. Atualmente, a Ajuda possui cinco castramóveis que visitam todas as cidades do estado, desde que haja solicitação.

Para castrar gratuitamente o animal nos castramóveis ou nas clínicas conveniadas da OSC, o tutor do pet deve fazer um pré-cadastro, disponível nas redes sociais a organização. A partir daí, os coordenadores entram em contato com o tutor um dia antes do procedimento, a fim de dar as orientações do processo pré-cirurgia. No dia, o animal sai medicado e com recomendação dos cuidados posteriores. Cada equipe de castração conta, ao todo, com sete integrantes. Além do trabalho com o animal, o serviço é feito de forma integrada com a população. Deste modo, campanhas de conscientização junto a crianças e adultos também são realizadas.

Segundo a presidente da OSC Ajuda, Rosângela Dilly, a recomendação é de que sejam castrados animais com idades acima de 6 meses e com menos de 7 anos, por apresentarem menos riscos. A partir de uma consulta prévia, eles são identificados como aptos ou inaptos para o procedimento.

 

Benefícios da castração para gatos e cachorros

O incentivo à castração acontece porque o procedimento, além de evitar o abandono de animais, promove outras vantagens. É o que esclarece o professor Leonardo Lanna, chefe do Departamento de Medicina Veterinária da UFJF. “A castração é importante para o controle populacional de cães e gatos e contribui para minimizar fugas, agressividade e brigas. Pode auxiliar também na prevenção de doenças, como câncer de mama em cadelas e gatas e hiperplasia de próstata em cães”, explica o especialista.

Outras doenças em animais e pessoas também podem ser evitadas por meio da castração, uma vez que animais tidos como errantes (que vivem nas ruas) aumentam o risco de ocorrência de zoonoses (infecções transmitidas entre animais e pessoas), que são problemas de saúde pública. Com a possibilidade da castração gratuita, esses riscos são diminuídos consideravelmente. “É importante que as comunidades de baixa renda, especialmente, tenham acesso a programas de castração de animais de estimação gratuitos ou a preço social. Regiões com superpopulação de animais ou maior ocorrência de zoonoses também devem ser consideradas prioritárias para políticas públicas de controle de natalidade”, conclui o veterinário.

Somente a ONG Sociedade Juizforense Protetora dos Animais de Juiz de Fora (SJPA) recebe, em média, dois animais abandonados por dia. A organização não possui apoio governamental e tem, sob seus cuidados, cerca de 650 animais. Entre eles, parte significativa fica no abrigo, e outra parte, com famílias que, por falta de renda, precisam de apoio. A organização, inclusive, realiza eventos para captação de fundos, uma vez que, por seu caráter independente, depende de doações.

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