Artesanato busca formas para se manter ainda mais vivo

Brasil tem cerca de 8,5 milhões de artesãos, que movimentam 3% do PIB anualmente; o ofício hoje convive com a tecnologia mas mantém suas raízes


Por Tribuna

21/03/2023 às 08h48

De acordo com dados do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiros (Sicab), estima-se que o Brasil tenha, atualmente, 8,5 milhões de artesãos, sendo, desse total, a maioria composta por mulheres que vivem diretamente de sua própria produção. Só a área movimenta, por ano, cerca de R$ 50 bilhões, o que representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Mais que um hobby, uma diversão dos momentos de descanso, o artesanato é um importante meio de manutenção de vidas. É, também, a manutenção de tradições. No último domingo (19), foi comemorado o Dia do Artesão. Neste mundo de hoje, o ofício transita entre as lojas, as feiras e o meio digital: buscando as formas para viver sempre mais.

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Cida Lourenço se tornou artesã, desenvolvendo brinquedos para seu filho

Cida Lourenço se tornou artesã um pouco sem saber. Primeiro, começou a desenvolver alguns brinquedos para seu filho autista. Começou o trabalho com ele e para ele. Em 1997, então, foi chamada, por uma amiga, para uma reunião com outras seis pessoas. A proposta era a fundação de uma associação de artesãos com o intuito de criar na cidade uma comunidade que fortalecesse o movimento. “Uma amiga me convidou para uma reunião na associação e eu nem sabia do que se tratava. Fui colocada como secretária sem saber muito como fazer as coisas. Montamos a primeira chapa, que foi a primeira diretoria. Dali a gente começou com a feira. Viajamos muito. Fomos aprendendo juntas”, relembra ela, sobre a fundação da Associação de Artesãos de São Mateus, a responsável pela feira de todo sábado na praça.

Apesar de a associação ter sido inaugurada em 1997, só no ano seguinte a feira teve início. Cida lembra que foi difícil esse processo para conseguir realizar as feiras. “A princípio foram 10 barracas. Depois, fizemos mais compras e foi crescendo. Era um grupo muito pequeno. Era uma família mesmo. A gente fazia lanche no meio da praça. Era muito divertido. E sempre aqui. Começamos no domingo, mas o movimento era fraco. Aí, passamos para o sábado e ficou até hoje. Tem 26 anos tudo isso.” Atualmente, a feira conta com 40 barracas e 41 pessoas associadas, com a pretensão de crescer.

No caso de Cida, a escolha por viver, realmente, como artesã se deu, oficialmente, em 2000. “Quando meu filho era pequeno, eu não tinha com quem deixar e nem confiava em ninguém para ficar com ele. Aí eu passei a trabalhar e cuidar dele. Passei a fazer as coisas dentro de casa. É meu mundo.” Por outro lado, ela afirma: “Eu fazia teatro, e percebia que meu lugar era na rua, não era dentro de casa”. O caminho encontrado para conciliar essas duas vontades foi a feira: Cida continuava a atuar na rua, com o contato com as pessoas e, ao mesmo tempo, conseguia ficar ao lado de seu filho, produzindo os brinquedos e objetos que ainda ocupam sua barraca, a Pitucha Fantoches.

Pela internet

Durante a semana, a artesã fica na Loja Ateliart’s: uma loja física coletiva que reúne diversos artesãos. “Durante a semana, é normal, por exemplo, o artesão deixar o produto dentro da mala, guardado. Na loja, ele é exposto. Quanto mais artesãos, melhor, porque nossa proposta é essa: apresentar as pessoas e unir. Às vezes a pessoa faz um trabalho bacana, mas não mostra. Lá tem essa oportunidade”, afirma. A loja, que fica próxima à Praça do São Mateus, na Avenida Presidente Itamar Franco 1954, fica aberta de segunda a sábado, das 9h às 16h. O horário ganhou nossa configuração por causa das perdas sofridas na pandemia.

Quando Cida começou, não tinha internet. “Hoje em dia, tem muito artesão que faz cursinhos rápidos da internet. Ajuda muito, mas não cria a raíz que nós tínhamos lá atrás, de pesquisa, investimento. A gente não sabia fazer nada, na verdade. Mas a gente pesquisava e acabava aprendendo, de maneira autodidata. Um ajudava o outro.” Ao mesmo tempo, a internet serve também como vitrine para essas produções.

Valorização da mineiridade

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Cássio Fernandes apostou em projeto para dar visibilidade os artesãos mineiros (Fotos: Divulgação)

Um site que ganha destaque nesse sentido é a Vó Olívia (voolivia.com.br), que reúne mais de 150 artesãos que apresentam seus produtos pela página. O projeto foi idealizado em 2018 e, hoje, possui mais de 4 mil itens que, principalmente, valorizam a mineiridade. Apesar de a sede administrativa ser na cidade de Mercês, o site conta com artesãos de todo o estado, dando visibilidade a diferentes formas de fazer arte, que chegam em todo o Brasil.

Idealizador e diretor do Vó Olívia, Cássio Fernandes, conta que o objetivo dessa iniciativa é dar visibilidade à produção artesanal em Minas Gerais, valorizando a arte mineira por meio de produtos que destacam a linguagem, o comportamento e a visão de mundo de um povo muito rico em história, cultura e talento.

“Eu queria empreender em um negócio que tivesse aproximação com a cultura mineira. Sou um grande fã da produção artesanal e da criatividade como um todo, e o que é produzido no nosso estado é algo muito valioso para o Brasil”, ressalta Cássio, lembrando que, no espaço criado por ele, busca-se também o reconhecimento de artistas da Zona Mata mineira.

 

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