A verdadeira cozinha brasileira
Quando me questionam sobre o que penso da gastronomia brasileira, não há como não dizer o que a expressividade das cozinhas do Norte e Nordeste somam na nossa cultura gastronômica. Ao meu ver a verdadeira cozinha brasileira está lá, insumos únicos, herança técnica indígena, adaptação culinária social, tudo isso contribuindo para a construção de uma experiência ímpar.
O grande historiador e sociólogo Câmara Cascudo chamava essa cozinha de “Cozinha Sertaneja”, sendo essa cozinha sertaneja genuína, aquela elaborada por descendentes de indígenas, e afirmava lá em 1983 que precisava ser uma comida de “sustança”.
A vegetação da caatinga não se torna apenas paisagem, mas ingredientes fundamentais na mesa sertaneja. Euclides da Cunha em “Os sertões” conta sobre o bró, um pão feito das raízes do Umbuzeiro.
Viajando mais para o oeste, chegamos na região Amazônica, destino certo para gastrônomos e cozinheiros de todo o mundo. Peixes, folhas, raízes e frutas que só são encontradas nessa região, tornam a Amazônia um celeiro de novos sabores.
Tive o prazer de chefiar a cozinha de um cruzeiro fluvial pelo Rio Negro e me encantei com esses ingredientes “novos”. Murupi, tacacá, jambú, licuri e uaniri se tornaram presentes na minha essência gastronômica, marcas da minha cozinha. O que mais me encantou, pelo sabor e, claro, diante das atuais circunstâncias e toda importância do povo Yanomami e contribuição na culinária nacional, os Sanōma, ou cogumelos Yanomamis, são um mix de dez espécies de cogumelos nativos, coletados por caçadores com um profundo conhecimento da biodiversidade, ecologia e manejo da floresta.
Hoje, ao adquirir esses produtos, tanto culinários como artesanatos, contribuímos não só para a difusão de uma cultura, mas para o apoio ao povo Yanomami, que vende seus produtos pela internet e todo lucro é revertido para a causa.