Por piso, profissionais de enfermagem ameaçam greve em março
De acordo com Sinserpu, categoria cruzará os braços, a partir do dia 10, se demanda não for atendida
Os trabalhadores de enfermagem contratados pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) paralisaram suas atividades em reivindicação ao pagamento do piso salarial dos profissionais. A interrupção dos serviços, com duração de 24 horas, está prevista para se encerrar na manhã desta quarta-feira (15). Na tarde desta terça-feira, a Tribuna visitou unidades de saúde no município e constatou que os serviços não foram afetados.
Durante a manhã do mesmo dia, o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Juiz de Fora (Sinserpu) reuniu dezenas de pessoas em frente à Câmara Municipal de Juiz de Fora. Além da movimentação pela garantia do piso salarial da enfermagem, também ocorreu, durante a manifestação, uma reunião para deliberar sobre deflagração de movimento grevista, marcada para 10 março, caso, até lá, a situação não seja resolvida.
A paralisação ocorreu em várias regiões do país contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu o piso salarial da categoria, em setembro do ano passado. “Nós já estamos nessa luta há muito tempo, trabalhamos na Covid, salvamos muitas vidas e, agora, esperamos que o piso seja liberado. Se não tiver jeito, vamos parar geral no dia 10 de março”, afirma o diretor de Saúde do Sinserpu, Rozivaldo Gervásio.
Tribuna percorre unidades e ouve usuários
Segundo a entidade sindical, 30% dos servidores não pararam as atividades, como previsto em lei, e o Executivo municipal e a Secretaria de Saúde foram comunicados a respeito do ato. A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) afirmou, em nota divulgada à Tribuna, que reconhece como justa a aplicação do piso e aguarda a autorização legal para fazer esse pagamento. Até o fechamento desta edição, a PJF informou que ainda não havia sido possível medir os impactos na rede SUS do município.
Na tarde desta terça, a Tribuna visitou unidades de saúde para verificar se a paralisação havia impactado os serviços. Na UBS do Bairro São Pedro, na Cidade Alta, o movimento era tranquilo. Aparecida da Silva foi à unidade por volta de 13h fazer um exame e foi atendida por volta de 15h, entretanto, segundo ela, o tempo de espera ocorreu dentro da normalidade. “Para mim, está igual aos outros dias.”
No HPS, os usuários também não observaram adversidades por conta da paralisação dos enfermeiros contratados. De acordo com Édia Benvindo de Jesus, que esteve no local para visitar o marido internado, o serviço não foi afetado. “Ele está [internado] no terceiro andar, e o atendimento está normal. Não tem nada de diferente, não está afetando nada.”
A situação de normalidade também foi observada no Setor de Hemodiálise. Rafaela Silva Alves, que vem de São João Nepomuceno semanalmente para realizar o procedimento, não notou alterações. “Tudo normal, graças a Deus”, diz. O mesmo foi apontado por Joelma Alves Daniel, que acompanhava a mãe para fazer hemodiálise. “Na área dela, foi tudo tranquilo.”
Demanda antiga
Desde setembro de 2020, a categoria reivindica o piso salarial. Atualmente, os auxiliares e as parteiras ganham um salário mínimo, com o reajuste aumentaria para R$ 2.375; já o técnico de enfermagem para R$ 3.325, e os enfermeiros, R$ 4.750. O presidente do Sinserpu, Francisco Carlos da Silva, diz que essa movimentação já vem acontecendo ao longo do ano passado e a expectativa é que agora seja resolvida com uma medida provisória para liberação do piso no início de março.
Técnicos e auxiliares de enfermagem do Hospital de Pronto Socorro (HPS) e das Unidades Básicas de Saúdes (UBS) entrevistados pela reportagem relatam a insatisfação com a ausência de um piso para a categoria e reclamam que essa demanda é antiga. “Uma hora você é herói e outra hora você tem seus direitos negados. A maioria das classes tem seus pisos, e a enfermagem, não.”
Os profissionais também destacaram a sobrecarga com a rotina dupla de trabalho, muitas vezes necessária para contornar o baixo salário. “São mais de 30 anos nessa luta. Nós precisamos desse piso para alimentar a nossa família e termos outros projetos de vida, até, quem sabe, realizar os nossos sonhos. O que todo mundo quer é parar de ter que trabalhar em dois empregos para sustentar a família, porque isso é desumano”, diz um dos profissionais que preferiu não ser identificado.
Outro auxiliar ressaltou que esse direito se fez ainda mais necessário durante a pandemia de Covid-19, que causou sobrecarga maior nos profissionais da área. “Nós perdemos colegas de trabalho, amigos e familiares na pandemia. Ficamos na linha de frente o tempo todo sem poder tirar férias ou até mesmo feriado. É uma falta de respeito muito grande, estamos reivindicando um direito nosso que já era para ter sido atendido há 30 anos.”
Outros pleitos
Segundo o presidente do sindicato, o ato também marca outras demandas relacionadas à Prefeitura, como a necessidade de nomenclatura adequada para os cargos da área, concursos internos e problemas que os auxiliares têm enfrentado com o vale-alimentação. “Estamos enfrentando um problema operacional com o cartão do tíquete, os servidores estão passando vergonha na hora de fazerem as compras.” De acordo com ele, a paralisação de hoje não atrapalha a negociação dessas demandas com a PJF, que, afirma, está em curso.