Estado publica decreto que cria o Parque Estadual Mata do Krambeck
Ainda é necessário que se chegue a um acordo de indenização das famílias proprietárias do local para que criação do parque seja efetivada
A mata que por muitos anos ficou fechada ao público está em processo para ser aberta a visitação. No último sábado (22), foi publicado no Diário Oficial do Estado o decreto que determina a criação do Parque Estadual Mata do Krambeck. O maior remanescente da Mata Atlântica de Juiz de Fora e um dos maiores em área urbana de todo o país, a Mata do Krambeck fica localizada às margens do Rio Paraibuna, na região Nordeste do município. O parque englobará toda a área dos Sítios Retiro Novo e Retiro Velho, o que corresponde a 291 hectares, área equivalente a 269 campos de futebol.
Com a publicação do decreto, o Parque Estadual Mata do Krambeck passa a integrar o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (Seuc) e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Snuc). A administração do Parque será de responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF), mediante gestão integrada e participativa, envolvendo, além de analistas ambientais do IEF, representantes de órgãos públicos e de organizações da sociedade civil.
Com a assinatura do decreto, a próxima etapa é a regularização judiciária do local e a criação do plano de manejo, que vai determinar o zoneamento e as normas que norteiam o uso da Unidade de Conservação.
Indenizações
A criação do Parque Estadual Mata do Krambeck foi anunciada em 2022. O despacho governamental foi assinado pelo governador Romeu Zema (Novo) em cerimônia realizada em maio. Com a publicação do decreto, a negociação para indenização a ser paga para as famílias proprietárias dos dois sítios que compõem a mata segue em andamento. A Tribuna entrou em contato com a representante da família Surerus, proprietária do sítio Retiro Velho e, de acordo com ela, na última proposta do Estado foi oferecido R$ 19 milhões para indenização. Tal valor não será aceito pela família, que exige indenização de R$ 35 milhões.
Já as negociações acerca do Retiro Novo, onde será a sede do parque, ainda não iniciaram. Elas começam com a publicação do decreto. Essa parte da Mata do Krambeck ainda pertence à família Krambeck. O advogado responsável disse à reportagem que, até o momento, o Estado não realizou nenhuma proposta de indenização. No Retiro Novo, além da área florestada, há também a propriedade que, durante muito tempo, serviu de moradia para a família.
Preservação ambiental
O Parque Estadual Mata do Krambeck foi criado com o objetivo de preservar a floresta e os recursos hídricos da região, conservando as características da fauna e flora e produzindo mudas e sementes de espécies nativas do local, que fica em meio a área urbana do município. Além disso, um dos pilares do parque será incentivar a educação ambiental da população, estimular a produção de pesquisa científica e o desenvolvimento do turismo local com viés sustentável. A mata resguarda uma espécie vegetal presente na lista de extinção, a palmeira-juçara, que é um tipo de palmito. Com a criação do parque, será possível fazer um banco de sementes para preservar essa espécie ameaçada.
Conforme previsto na Lei nº 20.922, de 16 de outubro de 2013, é proibido extrair qualquer recurso natural da área do parque estadual, assim como criar bovinos, equinos e outros animais domésticos no interior do parque. Além disso, não é permitido, em qualquer hipótese, colocar fogo na área. Segundo o documento, os usos econômicos já consolidados serão respeitados, conforme previsto no artigo 28 da Lei Federal nº 9.985, de 2000, “desde que não importem em uso direto dos recursos naturais, tampouco em impactos negativos sobre a biodiversidade”.
Expectativa antiga
A criação do Parque Estadual Mata do Krambeck era uma expectativa antiga, como reforça a analista ambiental do IEF e atual gerente da Mata do Krambeck, Renata Meireles. “A criação do parque é resultado de esforços coletivos de muitos anos, apoiados por diversos setores ambientais junto com a visão de proteção da biodiversidade por parte do Governo do estado. E agora, num futuro próximo, a população vai poder conhecer e preservar esse importante remanescente, que é um patrimônio histórico e ambiental de Juiz de Fora e região.”
De acordo com a analista ambiental do IEF, serão feitos estudos para a abertura do parque em um futuro próximo, como a possibilidade de inserir uma portaria, um centro de visitante, realizar o levantamento das trilhas e outras atividades que serão oferecidas à população em termos ambientais. “Nós estamos atentos a todas as questões necessárias para a criação efetiva desse parque no sentido de dar continuidade, após a publicação deste decreto, à negociação com o proprietário da área. Nós estamos falando em uma área privada. A partir da publicação do decreto, aquela área se torna bem e domínio público, mas o estado precisa garantir o pagamento e a regularização fundiária daquelas áreas.”
O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Noraldino Júnior, afirma que o Parque Estadual da Mata do Krambeck integrará um circuito de turismo ambiental composto também pelos parques estaduais de Ibitipoca e da Serra Negra, este último ainda em implementação para posterior abertura ao público. As verbas destinadas para a criação do Parque Estadual da Mata do Krambeck ainda não foram definidas e dependem de acordo para a indenização das famílias.
“Será pensada uma nova portaria para a região, ali na Avenida Brasil, onde existe aquela ponte. Vamos ter que fazer um estudo para o espaço suportar um maior fluxo de pessoas. Nós pretendemos usar as estruturas que já existem dentro da Mata para um complexo de lazer que vai atender a população de Juiz de Fora e de todo estado”, disse o deputado.
Podcast da Tribuna conta a história da mata
A Tribuna divulgou, no último domingo (23), o terceiro episódio do podcast original da Tribuna de Minas, “Corpo a Corpo”, dedicado à história da Mata do Krambeck.
O programa busca desvendar os mistérios do local, que até então sempre esteve fechado à visitação, e reforça a importância da preservação do maior remanescente da Mata Atlântica em Juiz de Fora.