Serviço oferece lar temporário a crianças separadas da família
O acolhimento provisório de crianças em situação vulnerável é voluntário e qualquer pessoa pode se submeter à seleção; PJF tem vagas abertas
O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (Safa) é um programa que busca proporcionar um lar temporário para crianças e adolescentes, entre 0 e 18 anos de idade, que em algum momento sofreram a violação dos direitos e foram separados de sua família original. Esse é o primeiro passo para que elas sejam reintegradas às suas famílias de origem ou extensas, quando são entregues aos cuidados de tios ou avós, ou até que sejam encaminhadas para a adoção. O acolhimento, portanto, é temporário, diferente da adoção, que é definitiva, porém a família que acolhe possui a guarda provisória da criança.
Consta no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), artigo 19: “É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”. “Ao chegar em casa, recebo um abraço e escuto uma voz doce de consolação dizendo: ‘Tia, vem aqui, eu vou cuidar de você’. Não há palavras que consigam descrever estar com aquela criança naquele momento na minha casa vazia”, conta a professora Denise Castro Dias, que faz parte desde 2014 do Safa, inciativa da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), tendo acolhido várias crianças. “Todo amor, carinho e cuidado que sempre dediquei pude receber em dobro em meu último acolhimento (ano passado), quando perdi meu único filho”, contou Denise sobre a troca de sentimentos que ocorre em um acolhimento.
A Secretária de Assistência Social da PJF, Malu Salim, afirma que as pessoas procuram ser família acolhedora por solidariedade, passando por capacitações, encontro com assistentes sociais, psicólogos, entre outras formas de ensino e verificação de que a família está apta a acolher uma criança. “Ela está sendo cidadã, proporcionando àquela criança o convívio familiar e com a comunidade. Isso é o importante”, diz Malu.
Troca de afetos
Quando uma criança é afastada se sua família por ter tido algum direito violado, ela fica no acolhimento familiar ou no abrigo institucional. “No acolhimento familiar a criança é vista na sua subjetividade”, explica Malu Salim. Segundo ela, a criança vira um membro da família acolhedora, por estar com ela todos os dias, tendo seus gostos levados em consideração, possuindo uma vida normal, indo à escola, ao mercado ou a uma loja perto de sua casa. Assim, cria-se um sentimento de pertencimento ao local em que está vivendo.
Ser uma família acolhedora é, para Denise Castro Dias, além de tudo uma troca de sentimentos, carinhos e cuidados. “Foi a melhor decisão que fiz em minha vida. Desde o primeiro acolhimento nossa casa nunca mais foi a mesma”, revela a professora, que costuma tranquilizar pessoas que possuem medo de se apegar à criança e depois elas terem de retornar às suas famílias: “Eu digo para que deixe que o seu medo de sofrer seja maior do que o amor que você tem para doar. A saudade que sentimos é gostosa, pois sabemos que fomos ponte e abrigo para ajudar e fortalecer a criança em sua caminhada. Esse é nosso consolo. Tocar o coração de uma criança é alcançar os céus”.
Aumento do auxílio
No início de julho, a prefeita Margarida Salomão (PT) assinou um decreto que busca ampliar o número de famílias acolhedoras, através do aumento do auxílio monetário. O valor destinado às famílias passou de R$ 240 para R$ 1.212 (um salário mínimo), voltado para as despesas da criança . No dia da assinatura do decreto, a Prefeita afirmou que o novo valor ainda é pouco, mas que já é um “grande passo” para que a sociedade possa ajudar no acolhimento.
Após uma pessoa acolher a criança, existe um intenso acompanhamento do acolhedor, com constantes visitas domiciliares, monitoramento e capacitações, para garantir que a criança está sendo bem tratada. “A pessoa me pergunta: O que é preciso para ser uma família acolhedora? Afeto. É preciso você ter afeto pelo outro, por aquele que não é seu filho”, explica Malu Salim, ressaltando que o mais importante é a vontade de acolher.
Com 13 vagas restantes para famílias acolhedoras, Malu diz que gostaria que mais crianças na primeira infância (de zero a 6 anos) fossem acolhidas, por ser um período crucial do seu desenvolvimento, requisitando um olhar mais carinhoso e afetivo. São cem crianças no total que estão acolhidas institucionalmente, e em torno de 20 crianças possuem de zero a 6 anos.
Para quem está interessado em ser uma Família Acolhedora é realizado um cadastro no site da Prefeitura, com avaliação do corpo técnico do serviço, para, então, ser habilitado a acolher e passar pelos processos preparatórios.