Histórias de catadores de materiais recicláveis de JF são contadas em HQ

Revista em quadrinhos foi elaborada por alunos do IF Sudeste com o objetivo de conscientizar sobre a importância dos trabalhadores para a cidade


Por Gabriel Bhering, estagiário sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

03/07/2022 às 07h00

Uma história em quadrinhos com personagens reais. Foi essa a ideia dos alunos do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste), que publicaram, no dia 22 de junho, a história em quadrinhos (HQ) “Catando e contando histórias”, que apresenta catadores de lixo de Juiz de Fora, traz lições de educação ambiental e incentiva a coleta seletiva. A atividade, que é essencial para o meio ambiente e o recolhimento de resíduos sólidos na cidade, muitas vezes, não tem apoio e o reconhecimento necessários.

Para tentar mudar essa realidade, o professor de Geografia do IF Sudeste, Ciro de Sousa Vale, idealizador do projeto, decidiu contar as histórias dos catadores em uma revista em quadrinhos, por meio de um projeto de extensão. Ele conta que o IF Sudeste tem, como tradição, executar projetos de extensão em parceria com associações. Neste caso, a Associação Lixo Certo (Alicer) participou da produção da HQ, além do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental (GEA) e da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (Intecoop), ambos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O projeto foi realizado no decorrer da pandemia e permitiu também que os alunos do ensino médio tivessem contatos com essas outras instituições.

A ideia de fazer uma HQ com os catadores como personagens surgiu porque a quantidade de material recolhido pela coleta seletiva em Juiz de Fora representa apenas 0,23% do total do lixo produzido. O percentual recolhido na cidade é mais baixo que o da média nacional, que fica em torno de 2% a 3% de todo o resíduo sólido coletado no país, conforme apontou o professor. “Nós acreditamos que fazendo um trabalho no qual os catadores fossem os protagonistas da história, falando das demandas urgentes, além de contar com a participação do poder público e especialistas da área, ajudaria muito a comunidade. Nós entendemos que a HQ pode servir para um público juvenil e até mesmo para aqueles que estudam para lecionar”.

Além da história dos catadores, algumas leis são apresentadas na HQ, “como a de política nacional de resíduos sólidos, a 12.305, e o Plano Municipal Integrado de Resíduos Sólidos, confeccionado há dois anos, e que esperamos que seja cumprido na atual gestão, pois o trabalho dos catadores é de suma importância. Afinal, 90% do material que vai para indústria da reciclagem passa pela mãos dos catadores. Logo, eles merecem todo esse reconhecimento, apesar de ainda estarem na invisibilidade”.

‘Respeito e visibilidade’

O docente participa de atividades comunitárias com a Alicer, e sempre que comanda um projeto de extensão, comunica à associação. Foi assim que José Rubens, mais conhecido como Olá, que é catador, participou da HQ. “Nós, como catadores, sofremos vários tipos de preconceito, então esse projeto do Ciro no IF é uma forma de trazer mais respeito e visibilidade”.

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“Catando e contando histórias” é o nome da revista em quadrinhos lançada pelos alunos do IF Sudeste (Foto: Reprodução)

Ferramenta de educação ambiental

A estudante Lara Oliveira Esteves, do curso técnico de Desenvolvimento de Sistemas, integrado ao ensino médio, ficou sabendo do projeto da HQ por meio do professor Ciro. “Ele me apresentou o projeto, e eu fiquei muito honrada em poder fazer parte, visto que me fez refletir sobre como ainda falta a implementação da educação ambiental nas escolas, para que a sociedade entenda como é a realidade que os catadores de materiais recicláveis enfrentam diariamente”.

A bolsista do projeto contou que o desenvolvimento da HQ demandou bastante dos integrantes. “Não sabíamos como funcionava a confecção, então tivemos que procurar, pesquisar e utilizar das ferramentas que tínhamos e da criatividade. A HQ possui 20 páginas, as fotos foram tiradas seguindo um roteiro que partiu de entrevistas e pesquisas feitas, e em seguida foi feita a diagramação, a edição de imagem, a produção dos balões de fala, a arte final e a revisão. Cada bolsista ficou responsável por uma etapa”.

Agora que a HQ já foi lançada, o professor Ciro está trabalhando para levar o material para outras escolas. “A gente pretende também deixar a HQ no meio digital, assim como o documentário ‘Por que não falei dos catadores?’, também criado pelos estudantes. Não conseguimos atender todas as escolas, então, com o material ficando disponível no formato virtual, fica mais fácil de ser acessado, podendo funcionar como uma ferramenta de educação ambiental”.

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