Equipe da UFJF integra rede de nanotecnologia contemplada com R$ 2 milhões
Parte do recurso será destinada ao Laboratório da Faculdade de Farmácia; um dos projetos é voltado a tratamento do câncer de mama
A Rede de Pesquisa Nanogene – Nanotecnologia aplicada ao desenvolvimento de vacinas e terapias gênicas – está entre os projetos contemplados em chamada da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) fazem parte da equipe científica coordenada pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). Com o objetivo de formar uma plataforma tecnológica na área de nanotecnologia, a Nanogene receberá o montante de R$ 1.992.928. Os recursos serão utilizados para criação, teste, escalonamento e produção de medicamentos e vacinas baseados em genes. Os pesquisadores vão atuar desde a concepção científica até a obtenção do produto final – vacinas e medicamentos baseados em terapia gênica.
Os projetos relacionados com a Rede Nanogene no âmbito da UFJF são desenvolvidos no Laboratório de Desenvolvimento de Sistemas Nanoestruturados (LDNano), da Faculdade de Farmácia, com foco no desenvolvimento e na otimização de formulações contendo nanopartículas inéditas. Um desses projetos, por exemplo, é dedicado à entrega de RNA interferente pequeno (siRNA) a tumores de câncer de mama, com o objetivo de silenciar o gene específico e sensibilizar a área à ação de quimioterápicos.
“Utilizamos nanopartículas híbridas para levar o siRNA aos tumores. Verificamos que, com o tratamento prévio com siRNA, o tumor fica ‘mais fraco’. Conseguimos exterminá-los com doses muito menores de quimioterápicos. Uma vez na clínica, os benefícios seriam enormes, como por exemplo a redução de dose e, consequentemente, menos efeitos adversos, como a queda de cabelos”, afirma o professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia, Frederico Pittella Silva, um dos integrantes da UFJF na Rede e pesquisador do LDNano.
Dentro da Rede Nanogene, a equipe da UFJF vai atuar na etapa de desenho e identificação de alvos moleculares, na plataforma de obtenção e caracterização de nanocarreadores e na aplicação em terapia gênica. “Fazer parte desse projeto coloca a universidade entre as instituições de ensino superior mais importantes nos âmbitos estadual e nacional em relação a esse tema, considerado como de fronteira do conhecimento. Essa participação garante que formemos recursos humanos diferenciados, com conhecimento específico em disciplina portadora de futuro. Além da visibilidade, temos a captação de recursos que permitirá a continuidade de projetos nas áreas de nanotecnologia e terapia gênica”, sinaliza o professor sobre a importante contribuição do grupo dentro da rede.
A Faculdade de Enfermagem também estará presente no projeto, sendo representada pela professora Camila Pittella, do Departamento de Enfermagem Básica. “Juntamente com o grupo da Faculdade de Farmácia, iremos colaborar com a identificação de alvos moleculares e eventualmente no desenho e execução dos ensaios clínicos. Isso representa uma oportunidade importante de visibilidade, produção de conhecimento e impacto científico, sobretudo para a Faculdade de Enfermagem da UFJF.”
Contribuição para o tratamento contra câncer
Apesar de o projeto voltado para o tratamento do câncer de mama não estar contemplado diretamente dentro da Rede de Pesquisa Nanogene, conforme explica Frederico Pittella Silva, a participação do Laboratório de Desenvolvimento de Sistemas Nanoestruturados no projeto será fundamental para avanços nas pesquisas. Conforme o professor, existem etapas de desenvolvimento do projeto, caracterizadas por teste in vitro, in vivo e testes clínicos em humanos.
Atualmente, a pesquisa do grupo envolvendo o tratamento contra o câncer de mama se encontra na etapa de teste in vivo. “A gente já fez toda parte de desenho, toda parte de caracterização e preparação da nanopartícula. Atualmente, os testes estão acontecendo em um laboratório parceiro na Espanha, pelo próximos seis meses”, conta. Para o fármaco se tornar uma realidade viável para o tratamento de pacientes ainda existem caminhos a serem percorridos. Na avaliação de Silva, o investimento na Rede Nanogene é um avanço nesse sentido. “Estamos caminhando.”
Nanotecnologia é aliada no desenvolvimento de vacinas e medicamentos
Conforme os pesquisadores, o uso da nanotecnologia tem se mostrado fundamental e promissor, uma vez que é essencial na fabricação de vacinas baseadas em RNA mensageiro (RNAm). Por exemplo, a vacina da Pfizer contra o coronavírus causador da Covid-19 é baseada no RNA mensageiro. Conforme explica o professor Frederico Pittella Silva, para que vacinas dessa classe sejam eficazes, é necessário lançar mão de nanocarreadores que vão levar o RNAm com segurança para dentro das células.
“Sem as nanopartículas, o RNAm é degradado rapidamente no corpo, sem ter eficácia terapêutica. Os nanocarreadores podem ser virais (inativados) ou não virais. A segurança, efetividade e principalmente o benefício dessa transição (do uso da nanopartícula da pesquisa para a clínica) podem ser vistos com a imunização e a proteção da população contra o coronavírus”, avalia.
Contando com uma gama de aplicações, as terapias gênicas se baseiam na inserção de material genético para aumento ou diminuição da expressão de genes, de forma transitória ou permanente. No Brasil, a Anvisa tem liberado fármacos que realizam essa função, como também medicamentos à base de RNA de interferência (RNAi), que podem ser usados no tratamento de doenças como distrofia hereditária da retina, atrofia muscular espinhal e câncer hematológico.
Recurso será gerido pela Funed
Os recursos aprovados para a Rede serão geridos pela coordenadora do projeto, Sílvia Ligório Fialho, da Funed. Parte deles será destinada aos laboratórios que integram o projeto para a execução dos experimentos; o valor também será usado para compra de insumos relacionados às nanopartículas e de equipamentos de preparo, caracterização e teste das formulações.
Também integram o grupo de pesquisadores da UFJF o docente do Departamento de Ciências Farmacêuticas, Guilherme Tavares, bem como a doutoranda Ana Beatriz Valle, a mestra Lívia Silva e a mestranda Kézia Ferreira. Outras quatro instituições fazem parte da rede: as universidades federais de Minas Gerais (UFMG), de Ouro Preto (UFOP) e a de Uberlândia (UFU), e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Pesquisa está alinhada aos objetivos da ONU
A Coordenação de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional, em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), está promovendo uma estratégia de fortalecimento das ações de pesquisa da universidade, mostrando que estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Conforme a instituição, a pesquisa citada está alinhada com os ODS 3 (Saúde e Bem-Estar) e 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura).