Após flexibilização, passageiros reclamam de baixa oferta de ônibus em JF
Frota ainda não circula com capacidade máxima; Prefeitura afirma que vem realizando estudo para adequar oferta à demanda
Passageiros que dependem diariamente do transporte público em Juiz de Fora reclamam que a oferta de ônibus não tem acompanhado a retomada das atividades econômicas na cidade. Mesmo após a flexibilização das medidas restritivas, a frota de ônibus não circula com a máxima capacidade operacional, e muitas das que circulam, ainda estão com horários reduzidos. A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) alega diminuição no número de passageiros, o que justifica tal redução de oferta, porém, os usuários relatam aglomerações dentro dos veículos e longas filas de espera nos pontos.
A Tribuna foi até os pontos de ônibus da cidade e confirmou a lotação, que é realidade não apenas em horários de pico. Uma das principais reclamações constatadas pela reportagem era o desaparecimento de linhas. De acordo com os passageiros, diversos itinerários que foram retirados durante os períodos mais críticos da pandemia não estão mais circulando ou estão com horários reduzidos e muito espaçados. Como resultado, passageiros têm que fazer longas caminhadas ou buscar outras opções, seja o transporte alternativo ou baldeações.
A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), por meio da Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU), responsável pelo transporte público da cidade, afirmou que a redução das linhas e dos horários se dá pois a demanda de passageiros está reduzida. De acordo com a pasta, em outubro de 2019, eram 8.876.279 usuários do transporte coletivo por mês, já em outubro de 2021, 5.138.815, uma redução de cerca de 3.737.464 passageiros, o que representa 42% a menos na demanda por ônibus. Em nota, a SMU afirmou que está em constante estudo e adequação dos horários das linhas de ônibus para melhor atender aos usuários.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, a frota de ônibus em Juiz de Fora só circulou com o máximo da capacidade durante a onda roxa do programa estadual Minas Consciente, em março de 2021. Na época, foi estabelecido que o serviço público não poderia realizar o transporte de passageiros em pé, visto as condições epidemiológicas do município, com alta transmissibilidade e número de infectados com a Covid-19.
Muito próximo da normalidade
O presidente da Comissão de Urbanismo, Transporte, Trânsito, Meio Ambiente e Acessibilidade da Câmara Municipal de Juiz de Fora, José Márcio (Garotinho, PV), afirma que a diminuição da demanda ocorre devido à nova realidade pós-pandêmica, “já estamos muito próximos da normalidade, mas ainda não podemos dizer que estávamos com a mesma procura de antes. Muitas pessoas ainda estão trabalhando de home-office e vão continuar assim, da mesma forma que muitas escolas ainda estão oferecendo atividades de forma remota”.
No entanto, Garotinho afirma que a comissão está ciente dos problemas enfrentados pelos usuários e realiza estudos para oferecer um sistema de transporte urbano mais eficiente à população. “Não basta aumentar a quantidade dos ônibus em circulação, é preciso fazer uma reformulação de todo o sistema, com um menor número de linhas, mas que cumpram o itinerário de todas as regiões. Em janeiro, vamos voltar a discutir uma racionalização das linhas, no qual ocorra uma redução dos ônibus que passam exclusivamente no Centro da cidade e ampliar a oferta nas localidades onde vemos que a demanda não está adequada, atendendo a todos os bairros sem exceção.”
Lotação e filas é rotina do dia a dia de usuários
Longas esperas em pontos lotados, faça chuva ou sol, é a rotina de milhares de juiz-foranos que precisam embarcar todos os dias nos ônibus da cidade. A extinção de linhas afetou Denilson da Silva, servente de pedreiro e morador do Bairro Sagrado Coração. Ele afirma que a linha 199 (Grama/Sagrado Coração de Jesus), depois da pandemia, deixou de existir, e, para trabalhar, ele depende agora de outras linhas que, segundo Denilson, passam em horários muito próximos e estão sempre lotadas. “Hoje trouxe meu cunhado para fazer um exame, pois ele está com problema na vista, a gente vai ficar esperando o ônibus aqui, mas só Deus sabe a hora que ele vai passar… Se ele passar!”
Outra linha que também não existe mais é a Extensão B do ônibus 524 (São Mateus), que ia até o antigo CES, hoje UniAcademia. Usuários relatam que houve uma extensa diminuição na quantidade de horários da linha 524. “Anteriormente, havia ônibus de 20 em 20 minutos, e hoje, apenas de uma em uma hora”, afirma uma passageira que preferiu não ser identificada.
Uma moradora do Bairro São Pedro que preferiu não se identificar, afirma que as linhas para a região sofreram forte redução durante a pandemia e algumas até agora não voltaram a circular. “Levando em conta que a universidade federal fica no bairro, tanto moradores quanto estudantes as utilizam”, afirma, mostrando preocupação com o retorno absoluto dos alunos, o que ainda não aconteceu.
“Os moradores do Bairro Nova Germânia também pegam a mesma condução, o que faz com que o ônibus fique ainda mais lotado. Já presenciei diversas discussões na linha 549 (Nova Germânia) entre os moradores desses bairros, reclamando que não conseguem subir devido à lotação. É incoerente pedir que a gente tome todos os cuidados de distanciamento sendo que a população está sendo penalizada na condição dos ônibus”, afirma.
Já as irmãs Joana de Oliveira e Rosa de Oliveira trabalham todos os dias em uma agência de viagens no Centro de Juiz de Fora. Elas são moradoras do Bairro Bom Pastor e pegam a linha 221 (Bom Pastor/Santa Catarina). Segundo elas, durante a pandemia, a linha parou de circular e atualmente retornou, porém com horários reduzidos e itinerário modificado. “Agora a linha só tem três ônibus, que saem em horários que não batem com os meus. Eu preciso pegar a linha 222 (Bom Pastor/Santa Catarina) que não passa em frente a minha casa e eu acabo tendo que caminhar mais de 100 metros todos os dias para pegar a condução”, afirma Joana.
Baixa oferta para Zona Norte
A cabeleireira Leia Coelho mora no Bairro Jardim Natal e afirma que as conduções para a Zona Norte apresentaram grande redução, e as reclamações de usuários são constantes. “O 607 (Jardim Natal) e 614 (Jardim Natal) ainda estão com o horário reduzido, estão circulando no horário de sábado. Todo dia eu costumo esperar entre 1h20, 1h40 esperando o ônibus, e quando ele chega, vai lotado. É complicado, a gente fica muito inseguro, todo mundo fala para evitar aglomeração, mas como faz nesse caso? Não tem jeito.”
Também moradora da Zona Norte, a empregada Cristiane Nazario depende das linhas 208 (Progresso) e 202 (Progresso) para fazer o percurso do trabalho. “Todo dia é a mesma coisa, fico no ponto esperando mais de uma hora o ônibus e nada. É revoltante.”
Outra linha que tem causado reclamações é a que realiza o trajeto até o Bairro São Judas Tadeu, também na Zona Norte. A reportagem da Tribuna flagrou o ponto de ônibus lotado por volta das 16h30 de uma segunda-feira. De acordo com a empregada Renilda Oliveira, a situação é cotidiana, e o longo período de espera faz com que a quantidade de passageiros só aumente no ponto de ônibus. Os usuários queixam-se da retirada das linhas 723 (São Judas Tadeu) e 749 (São Judas Tadeu). “Tudo voltou ao normal, menos os ônibus, assim não tem condição de a gente se proteger, ainda mais agora com essa nova variante”, afirma.
Ônibus lotado
O gerente de supermercado Tiago Tadeu, morador do Bairro Furtado de Menezes, Zona Sudeste, afirma que, antes da pandemia, no bairro, circulavam dois carros na linha 322 (Furtado de Menezes), no entanto, durante a pandemia e até os dias atuais, apenas um carro faz o itinerário da região. “Na parte da manhã, a empresa coloca um carro extra, o que realmente ajuda, porém não supre as necessidades. Já no retorno para casa, no horário das 18h, há apenas um ônibus, que além de sucateado, está sempre acima da capacidade total e muitas vezes tão pesado que não sobe a Rua Alberto Surek no início do bairro.”
Tiago conta que moradores da Rua Carneiro Silva não são atendidos em dias de chuva, uma vez que a empresa alega que os veículos não têm condições para fazer o trajeto devido a situação precária do asfalto na via. “Porém é justamente nesses dias que as pessoas mais precisam fazer uso do transporte. No último período de chuva ficamos quase 20 dias desguarnecidos totalmente de condução. Algumas pessoas da comunidade com deficiência têm dificuldade de sair de casa, já que o ponto mais próximo fica há quase um quilômetro a pé.”
Em resposta às reclamações, a SMU afirmou que algumas das linhas citadas estão sendo atendidas por outras devido à baixa demanda.